
Gostaria que os dias passassem mansamente e me deixassem acabar este livro de memórias
e assim deixar alguns vestígios desta minha breve passagem por esta Terra!
Se para se ser reconhecido é absolutamente necessário deixar este mundo, matem-me já!
Depressa!
Não tenho tempo a perder!
A PRESSA
Fui feito à pressa
Numa fria noite de Maio
- Ou seria Junho? -
Minha mãe
Crispou-se num desmaio
Cerrou o punho
E meu pai ejaculou depressa!
No céu a lua se apressava
No horizonte o sol já despontava
Rasteiro medrava o abrunho
O abrunho rasteiro medrava!
Ainda não tinha peito
Ainda não tinha geito
De mim não era que o rascunho
E já sonhava!
Logo que a luz se apagou
Pus-me logo a correr
Muito despressa a germinar
Muito depressa a crescer
Para o tempo não perder
O tempo não desperdiçar!
E quando Fevereiro chegou
- Logo no segundo dia -
Minha mãe me pariu
Minha mãe cortou
O cordão que nos unia
O cordão que nos uniu!
Ao longe um galo cantou!
Junto a mim meu pai me sorria
E o tempo logo começou
Na minha porta a bater
E sem perca de tempo
Pus-me logo a viver!
Mamei depressa
Dormi depressa
Chorei depressa
Depressa as fraldas sujei!
Abri os olhos depressa
Gesticulei depressa
Tudo aprendi depressa
Depressa de gatas andei!
Sorri depressa
Babei-me depressa
Balbuciei depressa
Depressa minha mãe adorei!
Comi depressa
Saí à pressa
Depressa te encontrei!
Depressa gostei de ti
Depressa te perdi
Depressa te chorei
Depressa te esqueci
Depressa tantos outros amei!
Depressa comi
Depressa bebi
Depressa dormi
Depressa acordei!
Depressa cresci
Depressa vivi
Depressa amei
Depressa sofri
Depressa tudo calei!
Depressa parti
Depressa cheguei
Depressa tudo vi
Depressa tudo mudei
Depressa regressei
Depressa me encontrei
Aqui
Aqui onde agora aguardo
A morte que se apressasse
E assim morresse depressa
Antes que a morte chegasse!
Rogério do Carmo
Agadir (Morrocos) 19/9/1989
Caro Rogério,
RépondreSupprimerAchei por acaso esta página e, apesar de o blog ainda estar no seu começo, gostei e já estou criando um link a ele na nossa "Estação Querida". Gostei especialmente de "A pressa".
Espero ler mais textos por aqui. E seria uma honra para nós receber sua visita na "Estação Querida".
Um abraço brasileiro!
Mateus:
RépondreSupprimerComecei ontem. Este blog é para editar aos poucos o meu livro de memórias que vai chocar muita gente. Ainda não controlo bem a coisa para por fotos. Vamos aprendendo devagarinho... embora... esta pequena coisa que fiz ao "emblema de Lisboa"...
Tenho os dias contados
não tenho tempo a perder
não posso com barcos parados
corvos nos mastros pousados
ventos sem nada mover!
Se fores ao meu outro blog
sombras vagas
vais encontrar mais coisas minhas.
Vou lá por agora um poema meu qu foi publicado numa revista literária em Paris,(O Albatroz) intitulado "Frémito", e que a crítica foi:
"Rogério do Carmo esreve poemas com o esperma das ligações efémeras que a Sociedade repudia.
Se o leres, diz-me depois o que pensas...
Abraço
Rogério
Que fazer na vida quando tudo corre mal?
RépondreSupprimerOlá Rogério:
RépondreSupprimerComecei a agora a desbravar terreno. Antes de chegar aqui, fui sempre retrocedendo até encontrar o ponto de partida. Enquanto retrocedia, ia vendo, ainda que na diagonal,qualquer coisa como uma pista para o "Eldorado". E ia dizendo para os meus botões:
" Ah, mas o que é isto?"
Não sei ver a correr, escrever a correr, aprender a correr e saborear a correr...
Contigo tem que ser tudo muito devagar.
Não tenho culpa que tenhas nascido à pressa, mamado à pressa e que queiras morrer depressa antes que a morte chegue. O vício absorve-se lentamente até saciar...