jeudi 16 juillet 2009

A grande viagem











Apanhei a camioneta para a estação de Mafra e, deleitando os meus olhos nos bonitos mosaicos azulados a decorar as paredes do apeadeiro, fumando mais outro cigarro, ansiosamente aguardei que o já tão atrasado comboio que me levaria chocalhando até à Figueira, finalmente acostasse.

Quando o comboio chegou, abri uma porta, subi e acomodei-me rente a uma janela. Havia meia dúzia de gatos pingados meio adormecidos na carruagem. Pus a minha bagagem na prateleira sobre a minha cabeça e sentei-me num dos muitos lugares disponíveis. Encostei a cara à janela e, através da suja vidraça, mergulhei meus olhos assombrados na paisagem que lentamente começou a desfilar, e preparei-me para descobrir um pouco mais de Portugal, esse país que, quando ainda muito puto, pensava ser apenas Mafra e todas as paragens das camionetas do Sardinha, da Ericeira até Lisboa, além da Outra Banda!

A viagem foi bastante longa, a minha primeira viagem, uma viagem mais prolongada do que ir a Lisboa fazer compras e ir a uma matiné. A minha primeira grande proeza, o começo desse meu imenso desejo de conhecer o mundo, de descobrir o que se esconderia para além do horizonte! Outras paisagens, outras gentes, outras línguas, outras comidas, outras culturas?
Colado à enfarruscada janela, vi desfilar as paisagens umas atrás das outras, qual delas a mais aliciante. Chuviscava e o céu era de chumbo, mas dentro de mim raiava um sol resplandecente!
Nas paragens, aqui e ali, haviam mulheres a venderem sanduíches e pirolitos. Foi precisamente uma sanduíche de carne assada e um tépido pirolito que foram os meus únicos manjares durante todo esse trepidante trajecto.

Chegados à Figueira, pus-me à janela para ver se o Profírio estaria lá à minha espera e... estava! Que grande alívio! Senti-me de novo sob a protecção de alguém que me indicaria o caminho. Menos perdido do que naquela carruagem quase vazia que me chocalhara como se eu fora uma garrafa de espumante.

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