mercredi 29 juillet 2009

O Miradouro


Há em Mafra, junto ao Matadouro Municipal, um bonito Miradouro, ali mesmo à beira da estrada que vai para Lisboa, do qual se desfruta uma imensa vista sobre o vale. Seria nesse Miradouro que eu viria a descobrir os afagos do Rei Sol Matinal. Era aí que eu iria receber os primeiros augúrios dum grande amor nas inolvidáveis carícias dessas neblinas de muitos alvoreceres...

Tudo começou uma vez mais com outro novo cadete que ao entrar pela primeira vez no Café Estrela se chegaria ao balcão e muito sorrateiro me perguntaria se eu era o Rogério... Claro que eu era o Rogério do qual ele tanto tinha ouvido falar! Ele, tomando-me de assalto, apresentou-se como sendo de Aveiro e que andava a cursar advocacia na Universidade de Coimbra, que se chamava Roque, e que não tinha tempo a perder.

Ele era, como quase todos os cadetes! Belo, alto, insinuante, duma elegância requintada, mas também portador dum estranho augúrio do despertar da minha masculinidade!
Uma vez mais, outro cadete cujo uniforme lhe assentava como uma luva, empoleirado em cima daquelas botas até a joelho, muito pretas e lustrosas, que imediatamente acordaram em mim novos inquietantes fantasmas. O bivaque posto sobre a sua loira cabeleira, inclinado para o lado esquerdo, até à orelha, punha em destaque os seus belos olhos azuis e pestanudos que devassavam tudo e todos ao seu alcance. Seus olhos pareciam querer radiografar-me dos pés à cabeça e perscrutavam-me, qual Mata Hari em busca de inacessíveis segredos de Estado .
A primeira vez que o vi, nessa fresca manhã das muito gélidas manhãs de Mafra, ele encostou-se ao balcão e pediu uma cerveja. Seus olhos inquisidores vasculhavam tudo à sua volta. Repentinamente estacaram sobre um pequeno cartaz ali pregado na parede, junto à telefonia, onde se lia:

“Aqui não se fia!”

Imediatamente ele começou a divagar sobre o verbo “fiar”...
Se isso queria dizer que se tinha de pagar a pronto?

- Se é o caso, qual “a melhor maneira” de lhe pagar?

Ele pôs sobre o balcão a soma requerida, enquanto que os seus olhos me enviavam insidiosas mensagens duma astuta sofreguidão de tudo saber a meu respeito sem ousar fazer qualquer esforço oral. Eu adivinhava nos seus olhos astúcias de audaciosas conquistas. Com um sinuoso sorriso, enviou-me um imperceptível beijo de despedida, dizendo até qualquer dia “se você quiser”, virando-me as costas e pondo os pés a caminho do Quartel. Vi-o afastar-se até à porta e os meus olhos embebedaram-se com a graça daquela imponente silhueta afastando-se de mim... nesse mesmo momento fiz-me uma promessa:

“Roque, um dia ter-te-ei nos meus braços, invadir-te-ei esse teu magnífico corpo, e compartilharemos recíprocos e diabólicos orgasmos!” Um dia serás meu!

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