mercredi 15 juillet 2009

Santa Apolónia











Certa madrugada eu apanharia um comboio em Santa Apolónia numa viagem até Marselha.
A Zinha foi a única pessoa que me acompanhou à gare! Depois de termos deixado o Tiquetaque, onde tínhamos festejado a minha partida para Israel com a Cléo, a Lica, e o Fernando, deambulámos o resto da noite pelas mortas ruas de Lisboa, a fazermos horas para o meu desalmado comboio das cinco e meia da manhã que nos separaria talvez para todo o sempre!

Nessa quase madrugada, quando o comboio arrancou e eu lhe acenava da minha janela e ela me acenava do cais, nimbadamente, através das minhas lágrimas, via-a lentamente desaparecer lá ao longe, engolida pela fumarada da locomotiva que impiedosamente nos apartava um do outro, talvez a última vez que nos víamos, talvez a última vez que nos tínhamos beijado naquele veemente beijo de despedida, que talvez fosse o último e para todo o sempre!

O fado da Amália “Disse-te Adeus e Morri” ficaria a ser o Fado de nós dois, o nosso fado!

“Disse-te adeus e morri
E o cais vazio de ti
Aceitou novas marés
Gritos de búzios perdidos
Roubaram dos meus sentidos
A gaivota que tu és
Gaivota de asas paradas
Que não sente as madrugadas
E acorda à noite a chorar
Gaivota que não faz ninho
Porque perdeu o caminho
Onde aprendeu a sonhar
Preso no ventre do mar
Meu triste respirar
Sofre a invenção das horas
Pois na ausência que deixaste
Meu amor como ficaste
Meu amor como demoras”

Vasco de Lima Couto

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