A minha rotina continuou como sempre:
A essa hora a Zinha estava sempre a fazer a sua sesta no seu grande leito de mogno, como se fora a bela adormecida, há cem anos aguardando o seu príncipe encantado que a viesse acordar com um suave beijo nos seus lábios ainda dormentes. Eu entrava pé ante pé e deitava-me a seu lado tentando não despertá-la. Colava ligeiramente os meus lábios aos dela, aquela tão apetecida boca que parecia estar ali à minha espera desde o princípio da Eternidade. Ela acordava languidamente e punha os seus braços de deusa em torno meu pescoço ainda quase virgem. Foi nessas muitas tardes juntos sobre o seu fofo leito que a minha sexualidade talvez tenha querido definir-se. Eu estreitava-a nos meus braços, beijava sofregamente a sua boca, a minha boca deslizava amedrontadamente em busca dos seus seios de mulher desejável, ia ao encontro daqueles rígidos mamilos. Minha boca abria-se para os sorver lascivamente, enquanto ela sufocadamente gemia de prazeres insuspeitos. A minha boca descia temerosamente ao encontro daquele ninho que eu queria descobrir, onde me queria anichar. Meu sexo irrompia desvairado, eu queria ser homem e desvendar esse fabuloso mistério, mas ela nunca consentiu que eu fosse tão longe como eu dava a entender. Ela apenas me disse uma única vez que se ela consentisse que tal acto fosse consumado, todos os mafrenses que a difamavam e acusavam de pedofilia acabariam por ter razão.
Um dia a Silvina recebe uma carta do Presidente da Câmara, o Capitão Lopes, acusando-a abertamente de pedofilia e que, se ela continuasse a receber menores na sua casa, ele não poderia passar-lhe a anual certidão de bom comportamento, sem a qual ela não poderia reclamar a pensão do seu ex-marido. Assim, para continuarmos a usufruir das nossas pecaminosas tardes juntos, em vez de entrar pela porta da frente eu tinha que dar a volta e entrar pela porta do quintal, sem que os vizinhos se apercebessem. Mesmo assim os boatos continuaram a afluir e por fim, boatos e intrigas acabaram por vencer, abrindo-me um fosso à volta dessa casa amarela com barras dum tom azulado!
Os cadetes começaram a passar, sentavam-se a meu lado, pediam-me um cigarro, seduziam-me com seus olhos cintilantes de luxúria... depois, discretamente, conduziam-me até aos contrafundos do jardim, um sítio muito recôndito chamado Piquenique.
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