A semana passou depressa e sem grandes exaltações. As habituais travessias da ponte, agarrados ao corrimão de ferro para não sermos levados pelo vento, e pequenas miradas sedutoras a mutuamente enviarem esboços de doces pecados, que nem mesmo num enclausurado confessionário, seriam confissões nunca ousadas.
Depois eram os enfadonhos passeios pela Figueira, cervejas e tremoços nalgum dos poucos Cafés existentes, ir ver o mar, debruçarmo-nos ao parapeito do miradouro a apreciar um magnífico pôr de sol, e nada mais de grandioso ou inolvidável. Excitante foi o último serão que passámos juntos na Figueira quando ele me convidou a jantar fora para celebrar não sei se a minha chegada, se a minha partida. Nunca o saberei! O que sei e nunca esquecerei, foi aquele romântico passeio pela praia depois de termos jantado num belo restaurante do largo e termos esvaziado um bom par de canjirões de afrodisíaco vinho tinto.
Quando saímos do restaurante cambaleávamos um pouco e foi, apoiados um ao outro, que seguimos até ao mar para observarmos aquela invulgar noite de lua cheia e aquele céu crivado de estrelas, espectáculo raro e inesperado para as habituais enevoadas noites de Outono.
Nessa etérea noite, Profírio estava lindo! Banhados pelo luar, docemente afagados por uma suave brisa soprada pelo mar, seus cabelos lembravam prata refulgente. Sua boca entumecida, seus lábios humidificados pela rubra ponta da sua língua, seus dentes muito brancos a espreitarem à janela, gruta libidinosa insinuando ignotas bacanais, infernos onde eu gostaria de me cremar. A radiosa luminosidade da lua invadia os mais recônditos traços da sua bela fisionomia que finalmente começavam a abrirem-se em vulcânicas promessas de ofertas divinais. Nos seus olhos cintilavam alvoroçadamente miríades de inquietantes estrelas irradiando uma luz tremeluzente no distante firmamento do seu olhar. Sua mão ousou apossar-se da minha e levar-me ao longo da praia, junto ao mar. O mar estava tranquilo e a lua cheia lançava a sua coriscante esteira na mansa maré-baixa. Tudo à nossa volta era um incessante aceno aos nossos sentidos, um subtil convite à realização de certos desejos muito íntimos, inconfessáveis, contrariados, mendigos. Profírio lembrava um Deus do Olimpo sob aquela leitosa luminosidade. Tudo isto era um desmedido apelo às nossas bocas, para que elas se encontrassem e se unissem num inesquecível e único apaixonado beijo de amor. Amor desejado, amor temido, amor recalcado!
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