A última vez que vi a Zinha, a minha querida Silvina, foi em Mafra, sempre no Café Esplanada. Ela tinha envelhecido e estava bastante acabada.
Falámos de tanta coisa. Falámos das nossas relações proibidas, dos boatos que circularam dela e dos cadetes. Numa voz nostálgica e um tanto magoada ela murmura-me:
- foram mais a vozes do que as nozes!
Quando lhe respondi que, no meu caso, foi o contrário! Foram mais a nozes do que as vozes, ela olhou-me intensamente nos olhos e martelou:
- Ainda bem! Ao menos não foste tão parvo como eu!
Foram talvez as últimas palavras que trocámos.
Depois, quando tentei ajudá-la a levantar-se para ir à praça comprar comida para os seus bichos, ela orgulhosamente recusou o meu braço!
Depois via-a desaparecer para além da esquina do que era então a loja da Dona Justina e que no passado tinha sido a Sapataria do Passos.
Nesse momento senti aquela mesma sensação de separação sentida muitos anos atrás, naquela manhã muito fria, em Santa Apolónia.
“Disse-te adeus e morri e o cais vazio de ti aceitou novas marés”
Foi a última vez que a vi! Essa imagem ficar-me-á gravada na minha memória como um golpe de bisturi que nunca cicatrizará!
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire