mercredi 15 juillet 2009

Disse-te adeus e morri











Passaram-se alguns anos...
Entretanto telefonávamo-nos de vez em quando para sabermos um do outro e estarmos juntos alguns momentos.

Inesperadamente, um dia ela telefona-me!

Haviam lágrimas na sua voz ao queixar-se que a tinham obrigado a deixar a sua casa e que a tinham posto à força num Lar perto de Mafra, que a tinham separado do seu cãozinho. Ela soava realmente miseravelmente desgraçada, porque a tinham proibido de levar o seu cãozinho que ela tanto amava! Pedi-lhe que me desse o número de telefone desse Lar para que eu a pudesse acompanhar telefonicamente no seu infortúnio, mas ela recusou:

- Não vale a pena!

Depois, pesarosamente, disse-me que lamentava não me ter deixado realizar-me sexualmente com ela quando eu era apenas um puto, que se ela tivesse consentido eu teria talvez vivido outra vida!
Respondi-lhe que não se responsabilizasse pela minha sexualidade - em Portugal considerada contra natura - que eu tinha vivido uma vida fabulosa, uma vida que muitos gostariam de ter vivido!!!
Depois, numa voz bastante perturbada, disse-me algo que não esquecerei até um dia fechar os meus olhos ou ser devorado pela Alzheimer:

- Rogério, sei que fui o primeiro grande amor da tua vida! Gostaria agora que soubesses que tu foste o último grande amor da minha!

Minha voz, de joelhos, pediu-lhe que me desse o seu número de telefone no tal Lar para eu lhe poder fazer companhia de vez em quando, mas a sua resposta foi sempre:

- Não vale a pena! Não vale a pena!

Esta frase foi repetida cada vez que eu lhe implorava o seu malfadado número de telefone!

Não vale a pena!
Não vale a pena! foi a última vez que ouvi a sua voz antes dela desligar!

Três dias depois deste telefonema que tanto me abalou, procurei contactar a nossa amiga comum, a Milu, para lhe perguntar se ela tinha esse tão suspirado número de telefone desse maldito Lar, mas o número da Milu já não existia! Lembrei-me então de telefonar ao meu irmão Elmiro, porque eles eram também muito amigos, mas o Miro não estava. Foi a Jesus que respondeu dizendo que o Miro estava no clube a jogar às cartas e que a Mariazinha já tinha sido enterrada!
Numa fracção de segundo perdi a Silvina, perdi a voz, e o telefone caiu ao chão, esse chão onde nós um dia cairemos todos!

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