mardi 7 juillet 2009

Amália da Minha Vida!











Mas quem era a Amália?

Amália, mais tarde vim a descobrir, era a Amália Rodrigues que, já em 1940, se dava já ao luxo de ser conhecida por apenas Amália.
Essa Amália que, depois, ouviria constantemente na telefonia e mais tarde viria a ver sobre um palco, em Jerusalem, Tel Aviv, e Haifa! Essa Voz que me perseguiria ao longo de toda a minha vida!
Mais tarde ainda, em Paris, viria a entrevistá-la seis vezes, para a Rádio Alfa! Uma dessas vezes, ela me diria que se identificava muito com os meus poemas e que ia gravar dois deles para o seu último disco. Amália, essa Voz divina, ao som da qual eu iria crescer, viver, morrer. Essa voz que, no dia em que eu fechar os olhos, me surgisse, sabe Deus donde, cantando-me, só para mim, “Disse-te Adeus e Morri”!
Amália que, quem sabe, ainda um dia nos voltaremos a encontrar “algures”... Amália que, no dia em que lhe disse que eu tinha crescido ao som da sua voz, teve uma pequena lágrima que cintilou discretamente no seu lindo olhar profundo e ausente, que sempre tanto amei.

Quando Amália nos deixou, nesse dia morreu com ela muitas das minhas belas recordações da rua do Arco do Carvalhão e tantos outros lugares. Com ela foi-se uma grande parte de mim mesmo, que eu nunca chorarei que chegue para me afogar nas minhas lágrimas!

***

Outra recordação inesquecível da casa da Capitoa, que tinha um grande fogão a lenha com varões de metal amarelo e que ela andava sempre a arear com um paninho molhado num líquido qualquer de uma lata de zinco. O pior de tudo é que eu não estava autorizado a tocar nesses varões senão havia guerra lá em casa e acordávamos toda a vizinhança!

Outra terrível recordação foi aquela pelo Natal quando a Isabel Capitoa comprou um peru vivo no mercado de Campolide para celebrar não sabia bem o quê! Ela embebedou o peru que depois andava-me aos trambolhões pelo corredor fora.
Quando a Isabel veio apanhar o bicho com um alguidar e uma grande faca na mão percebi que o coitadinho do peru ia ter a mesma sorte que o meu querido porquinho do Pedro da Relva!

Saí pela porta fora e corri até ao chafariz e subi até à ponte e pensei que talvez se eu saltasse eu nunca mais veria horrores daquela natureza. Essa Natureza cheia de injustos erros! Eu gostaria de ser Deus apenas por trinta segundos para tudo mudar!

Uma noite estávamos a jantar quando repentinamente houve um corte de electricidade. A rua do Arco de Carvalhão era iluminada por candeeiros a gás. Lembro-me de ver pela janela da Capitoa, todas as tardes, um homem vinha acender os candeeiros com um bico aceso espetado num pau, e de manhã, muito cedo, vinha apagar o gaz com a outra ponta do pau com uma concha.

Em casa tínhamos candeeiros de petróleo e electricidade. Também tínhamos gás mas só no fogão da cozinha. A mãezinha não tinha petróleo e mandou-me lá a baixo à taberna comprar uns cotos.
Quando ia a sair vi a Capitoa a mandar embora o namorado da Manoia, pois que ele ainda não tinha ainda ordem de entrar e namoravam no vão da escada.

Fui à taberna comprar os tais cotos e quando voltei dei com o namorado da Manoia cá em baixo, no vão da escada do rés-do-chão, iluminado pelo candeeiro a gaz da rua, a brincar com a coisa dele. Parei para desvendar mais esse outro segredo e como a luz da rua entrava pela porta, eu podia ver claramente o que se estava a passar.
O gajo viu-me, percebeu a minha ingénua curiosidade e continuou o seu labor, pois que a cheia certamente já vinha a caminho.
O meu grande espanto foi, aquela coisa enorme cospir-me um líquido muito espesso que bate na parede e escorre por ela abaixo muito pegajosamente.

Subi a correr ao primeiro andar a perguntar a mim mesmo, que diabo era aquela coisa amarelada e viscosa que aquele gajo tinha vomitado pela pila. Aquilo era outro grande mistério que a vida decidira atirar aos meus olhos ainda mal abertos!

As minhas grandes descobertas não ficariam por aqui. Um dia o meu irmão Carlos, que trabalhava na Pedra Amassada, veio a Lisboa passar uns dias connosco à Vila Alberto. Como meu irmão Fernando estava em casa da tia Judite, a irmã da mãezinha, que vivia no Bairro Alto, na Travessa Cruz de Soure, a mãezinha decidiu que o Carlos iria dormir comigo nessa noite.

Fiquei encantado, pois que o Carlos já tinha onze ou doze anos e eu preparei-me para ver como seria a minha pila daí a uns aninhos.

Fomos para a cama às dez horas da noite. O Carlos adormeceu logo!
Aproveitei a oportunidade para tactear o seu tesouro e ver se o Carlos estava bem servido.
E estava! Já quase adulto!
Brinquei muito cuidadosamente mas o Carlos acorda e, tal como o Fernando, cuspiu na coisa, volta-me para o outro lado e enfia-me aquilo muito cuidadosamente no tal buraquinho por onde me saía a paparoca.
Depois, num movimento sincopado, fazia a coisa entrar e sair dentro de mim.
Assim descubro que o ter um corpo estranho dentro do meu corpo era ainda muito mais excitante quando era longo e grosso.
Quando o Carlos deu um súbito e sufocado grunhido apercebi-me que o Carlos também já cuspia, pois que senti algo de escaldante banhar-me as entranhas.

Na manhã seguinte, um tanto aturdido com aquela grande revelação desse imprevisto ritual, um tanto dorido lá no sítio onde algo de bastante volumoso se tinha alojado, digo à minha mãe:
- Ò mãezinha! O Carlos fez-me um “dói-dói”...

Minha mãe certamente que não lhe ocorreu o que se tinha realmente passado e, secamente, diz-me:
- Deixa-te de pieguices! Vai lavar as mãos e vem para a mesa!

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