mardi 7 juillet 2009

Arco do Carvalhão











Foi para mim uma grande alegria quando o tio António chegou a Lisboa com todos os cacos dos meus pais em cima da camioneta, do Sobreiro até à rua do Arco do Carvalhão, à casa da tia Arminda.

Uma bela manhã minha mãe veio buscar-me à casa da tia Luzanira. Fiquei radiante pois que não ia mesmo nada à bola com a tia Luzanira. A velha dos gatos, como lhe chamavam, por ela ter em casa todos os gatos vadios que ela encontrava no seu caminho. Ela era muito pencuda, tinha um grande carrapito e os óculos sempre a escorrerem-lhe pelo nariz abaixo. Era muito beata, queria que eu fosse padre, e andava sempre a correr para a igreja de Campolide a levar bolinhos ao padre Serafim, um bonito rapagão de saia preta até aos pés. O padre Serafim passava a vida na sacristia a amassar algo que ele certamente tinha entre as pernas, como qualquer outro homem bem constituído. Esse seu frequente e repetido gesto logo começou a aguçar a minha curiosidade e a tomar consciência de que eu também tinha uma coisa daquelas que era para fazer chichi mas que, pouco a pouco, começou a enviar-me mensagens muito estranhas. Eu, como o padre Serafim, comecei também a brincar com aquela coisita. Ficava aterrado quando a coisita começava a engordar e a levantar cabeça. Eu brincava sempre que podia com a coisa e um dia tive uma grande revelação! Aquilo dava um gozo do caneco depois de bem amassado! A minha tia Luzanira começou a ficar um tanto preocupada com as minhas frequentes idas à retrete.

Instalados na casa do Arco do Carvalhão, começaram imediatamente as grandes descobertas do meu pequeno Vasco da Gama...

A nossa vizinha, a Isabel Capitoa, tinha três filhas: a Alice, a Fernanda, e a Manoia. Eram todas muito giras e tinham todas namorados, rapazões ainda mais bonitos do que o padre Serafim! Não andavam de saias, andavam de calças e polainas! Um deles era Guarda-Republicano, o outro muito loiro, chamava-se Armando, e um outro, um belo mocetão que dava muito nas vistas. Chamavam-lhe o Pinto, um belo pintainho a quem eu gostaria de lhe arrancar as penas. O meu preferido era o Guarda-Republicano, pois que os uniformes sempre tiveram o poder de excitarem desalmadamente a minha imaginação de garoto ávido de descobrir a vida e tudo o que dela fazia parte. Eu andava sempre a olhar para as braguilhas deles para ver aqueles enchumaços e a imaginar que a coisa deles era muito mais gorda do que a minha. A minha curiosidade crescia de dia para dia.Começou a tornar-se numa quase diabólica obsessão!

Em casa da tia Arminda éramos todos muito felizes! A tia Arminda tinha o seu quarto com uma fresta ao pé do tecto e os meus pais também tinham o mesmo tipo de dependência. Eu e o Fernando dormíamos juntos num divã que havia na casa de jantar, onde havia uma grande janela para as traseiras. Havia também uma pequena cozinha com uma varanda onde havia uma retrete, muitos vasos com sardinheiras, e uma capoeira com galinhas para porem ovos para a malta. Muitas vezes era a única coisa que se comia lá em casa! Eu adorava as galinhas mas quando vi um dia a minha mãe matar uma delas para o jantar fiquei horripilado e não toquei na comida nessa noite. Ela teve de me fazer uma omeleta!

Na casa de jantar havia uma grande cómoda onde a tia Arminda guardava as suas coisas. Um dia fui revistar essas gavetas e dei com uma coisa muito bizarra, de borracha, que muito se parecia com a minha pilinha, mas muito mais desenchovalhada. Certamente que ela fazia exercícios todos os dias sem falta! Fiquei intrigado e nunca soube exactamente o que aquilo era. Perguntei à minha mãe mas ela disse-me que era uma coisa que a tia Arminda tinha para se lavar por baixo. Mais tarde vim a presumir que aquilo era certamente uma coisa para a tia Arminda se esquecer que era solteirona, que nenhum macho lhe tinha entrado entre os seus lençóis, muito menos lá por baixo, onde ela se lavava certamente todas manhãs. Ela era uma mulher muito asseada!

Por cima dessa cómoda, na parede, havia um quadro muito grande com a Nossa Senhora da Conceição, que muito me intrigava também. Nunca tinha visto santinhos em casa de ninguém! Tinha visto na igreja de Campolide, mas nunca em casa da tia Luzanira. Em casa da tia Luzanira só havia um grande crucifixo. Eu passava o tempo a olhá-lo entre as pernas para ver se ele também tinha uma pila, mas esse Cristo era feito de ferro forjado e eu não conseguia levantar-lhe a puta fralda.

A minha curiosidade sexual começou a ser muito intensa e a levar-me por maus caminhos. Como dormia com o Fernando, que já tinha sete anos, eu comecei, durante a noite, quando ele adormecia, a visitar os seus recônditos haveres para ver se a pila dele era maior do que a minha. Fiquei varado! Então ele era mais velho do que eu dois anos, e a sua coisa ainda era mais pequenina do que a minha? Uma noite ele acorda e daí nasceu uma grande cumplicidade entre ambos. Assim, frequentemente brincávamos os dois com a pila um do outro.

Porém, uma noite, para meu grande espanto, a pila do Fernando começa a ficar muito tesa e dura e ele enfia-me aquilo naquele buraquinho que eu tinha atrás, entre as nádegas, que eu pensava que só servia para fazer caca! Nessa noite foi para mim, uma grande revelação aquele corpo estranho dentro de mim, a dar-me um prazer nunca suspeitado! Coisas que a natureza inventou para manipular a humanidade inteira, assim como toda a bicharada! Mais tarde vim a compreender que aquilo era simplesmente um maquiavélico ardil da Natureza para garantir a eterna continuação de todas as espécies! Mas nunca entre dois machos! Isto talvez para evitar o excesso de população entre todas as raças que se reproduziam e procriavam!

Na rua do Arco do Carvalhão realizaram-se as primeiras grandes descobertas da minha vida!
Havia lá no pátio da Vila Alberto, onde morávamos, muita garotada a jogar à bola e muitas meninas muito prendadas a fazerem renda. Eu andava sempre metido em casa das vizinhas e quando saía à rua ia por aí abaixo até à Bica, por baixo do Aqueduto das Águas Livres. Sentava-me na borda do chafariz, a observar a construção da Ponte Duarte Pacheco. Para mim era um regalo estar ali sentado escutando a água a correr por detrás de mim e a ouvir a música que me vinha do rádio da taberna mesmo por trás. Era para mim uma aventura ver as pessoas desfilarem e espreitar as braguilhas dos homens que passavam que, como o padre Serafim, andavam sempre a esfregar a coisa.

Uma certa manhã, sentado no chafariz, vi os construtores da ponte a colocarem o Zero na data quando a ponte foi inaugurada: 1940! Aquele Zero mesmo ao fim da data, ficou gravado na minha memória como alarmante presságio do que viria a ser a minha vida futura: Um Grande Zero! Embora a minha mãe me tivesse dito um dia que, na vida, eu seria sempre o primeiro!

Um dia fui até lá ao cimo da ponte e comecei a andar sobre o rebordo da dita, a cinquenta metros de altura do pavimento lá em baixo. De repente vejo uma senhora muito modesta a olhar para mim muito apreensiva, a perguntar-me como é que eu me chamava. Ela foi-se aproximando cautelosamente. Respondi-lhe que me chamava Rogério. Quando ela estava mesmo à minha beira, ela agarra-me por um braço, com a força dum gladiador, tira-me de cima do rebordo, põe-me no chão, dá-me uma grande tareia, e pergunta-me onde é que a minha mãe morava. Aos berros, disse-lhe que ela morava na Vila Alberto, e ela levou-me a reboque até lá. Ela subiu a escada até ao primeiro andar, tocou a campainha e quando a mãezinha abriu ela contou-lhe tudo! Que me tinha encontrado em cima do parapeito da ponte às correrias! O perigo que eu corria!

Minha mãe ficou muito agradecida e depois de ter fechado a porta agacha-se na minha frente até os nossos olhos ficarem ao mesmo nível e falou-me calmamente, como se fôssemos dois adultos. Ela explicou-me muito pausadamente e preveniu-me acerca de certos riscos da vida, coisa que sempre fez enquanto eu era miúdo. Nunca me bateu, sempre que eu fazia uma asneira ela agachava-se e falava-me, olhos nos olhos, o que ela pensava que eu devia fazer ou dizer. Um dia eu disse “porra” e ela diz-me que as palavras são o meio de nos exprimirmirmos, que não haviam palavras nem boas nem más, haviam simplesmente palavras! Que só certas palavras descreviam exactamente o que sentíamos, mas que não era bonito dizer palavrões por dá cá aquela palha. Que eu fizesse como entendesse mas que não abusasse dos palavrões, que os palavrões eram só para quando isso fosse absolutamente necessário.
Eu adorava a minha mãe e sempre fazia o que ela me dizia quando, agachada na minha frente, olhos nos olhos, me ensinava a enfrentar a vida, como se ela fosse tão pequena como eu ou, quem sabe, como se eu fosse já tão grande como ela!

A minha mãe nunca me bateu porém o meu pai, uma vez, um certo domingo à tarde, pregou-me uma grande bofetada! A única bofetada que ele me deu em toda a sua vida!
A nossa mãe estava a preparar a cabazada para o piquenique no Alto da Serafina, coisa que o paizinho adorava. Pedi licença para ir com o Fernando dar uma voltinha pelo pátio enquanto ela amanhava os petiscos. Ela anuiu mas exigiu que estivéssemos de volta o mais tardar ao meio-dia!

Em vez do pátio fomos para a Calçada da Quitinha, como frequentemente fazíamos. Gostávamos de estar em cima da pequena ponte onde, por baixo, passavam os esgotos. O nosso jogo era, de cima da ponte, escolher cada um o seu cagalhão e ver qual deles chegava primeiro a um grande pedregulho ali plantado no meio daquele grande lamaçal mal cheiroso. Era sempre o meu que chegava primeiro e o Fernando ficava fulo e dava-me sempre um grande safanão.

Quando chegámos a casa a nossa mãe estava furiosa porque tínhamos ficado na paródia muito tempo, e que já era tarde para o piquenique. Eu disse-lhe que a culpa não era minha, que não tinha relógio de pulso, coisa que andava então muito na moda, e que eu tanto gostaria de ter!
O paizinho, que tinha saído à nossa procura na rua do Arco do Carvalhão, não nos encontrando, volta para casa muito ralado e ao entrar ouve-me dar uma resposta atrevida à nossa mãe e, zumba! Caí ao chão aos berros, a choramingar a minha desdita.

O piquenique foi quase posto de parte, mas a mãezinha insistiu e lá fomos todos para o Alto da Serafina encher a mula.

1 commentaire:

  1. Ora aqui está o que eu procurava! A continuação da história a partir da tia Luzanira. Estou a perceber e começa tudo a fazer sentido!
    Surpreendente a forma como tu falas do que ninguém ousava contar e era, até, reprimido.
    Um relato fascinante.

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