samedi 12 septembre 2009
A Travessia do Mediterr^neo
Nessa manhã, muito cedo, acarto as minhas duas malas muito pesadonas, trepo aquela frágil passadeira que me levava até ao convés do Istambul. Aí, um marinheiro bastante sebento, mira-me de alto a baixo, verifica o meu passaporte, carimba-o, rasga um cantinho do meu bilhete e, em Turco, dá uma ordem a outro marinheiro ainda mais sebento, algo como – presumi – acompanha este tipo ao Dormitório. Coisa que o tal marujo que cheirava muito mal das axilas, cumpre. Ao chegar ao Dormitório fiquei aterrado. Não estava mesmo nada preparado para tal surpresa. Foi a minha única decepção dessa longa viagem. Eu pensava que ia ter uma cabine e partilhá-la com dois ou três outros tipos que eu não conhecia de parte alguma. Talvez mais um padre ou algum traficante de drogas. O que se me deparou foi uma caserna cheia de camas sobrepostas, onde os marujos dormiam, assim como muitos outros desafortunados passageiros. Aquilo devia ser a quarta-classe do vapor. O que me animou foi ver muita malta nova e barulhenta, já instalados nas suas camas umas a cavalo nas outras, e a falarem várias línguas que eu não percebia patavina. Eram sons novos aos meus tímpanos! Uma língua porém eu já estava familiarizado com ela, a língua dos meus filmes de cowboys. Só lhes faltavam as pistolas e sinais de cavalos, nenhuns! Eram rapazes novos, cheios de vida, gozando infinitamente os preparativos para uma viagem que sabia ir ser de cinco dias. Decidi incorporar-me nessa matula e tentar confraternizar. Pouco a pouco comecei a compreender melhor o Inglês e com eles lá fomos descobrir as amuradas e todos aqueles barquinhos – os salva-vidas – pendurados nos rebordos do barco, que baloiçavam cadenciadamente. Barquinhos esses que, dois dia mais tarde, seriam os nossos ninhos de rápidos amores clandestinos. Assim lá descobrimos o refeitório dos marujos, onde nós iríamos degustar as nossas três refeições diárias que, para meu grande espanto, eram pratos deliciosos! Foi a primeira vez na vida que saboreei um pimento recheado com carne e arroz que era de comer e chorar por mais. Surpreendido também quando me apercebi que também havia vinho tinto à descrição. Um muito bom vinho, talvez de adegas turcas. Rapidamente me inseri nesse grupo de jovens cheios de entusiasmo pela vida e senhores de certas ternuras com as quais eu não tinha contado. Um deles, o Shabi e o seu primo Yossy, que eram israelitas, e que regressavam duma viagem ao Brasil, e que falavam um bocadinho de Portugês muito abrasileirado. Foi com eles que aprendi as minhas primeiras palavras em Hebraico. Um outro, um belo romeno, grande amante do sexo, ia para a cama com tudo o que mexesse. Era o Eytan. Pequeno e robusto, cabelo encaracolado, olhos que devassavam tudo à sua volta, destemido e sem vergonha. Foi com ele que aprendemos o caminho e astúcias de, ao jantar, não irmos ao Refeitório dos marinheiros, e íamos descaradamente sentarmo-nos na grande sala de jantar dos passageiros de primeira-classe. Comportávamo-nos muito atentos aos hábitos e costumes daqueles casais muito snobes que faziam brindes erguendo as suas taças de champanhe e faziam faiscar os diamantes dos anéis dos cavalheiros, os dos brincos e colares das damas. Nós copiávamos todas aquelas boas maneiras e procurávamos não sermos descobertos, mas de diamantes, nem vistas. Não sei o que todos aqueles ricaços pensavam de nós, talvez pensassem que éramos irmãos ou estudantes de alta estirpe, em viagem de recreio. Talvez amantes, pois que o Eyal, depois do champanhe e bons vinhos de mesa, começava a aquecer, a perder as estribeiras, e a querer beber do meu copo. Como eu “mexia”, as suas mãos - por baixo da bela mesa bem engalanada - procurava verificar se o meu patriotismo fazia sentido. Como era de esperar, a bandeira já estava a meia-haste. Tomámos apressadamente o nosso café-turco e vamos ver-o-mar banhado de um luar convidativo a jurar bandeira. Não podíamos ir para o Dormitório e, assim, tocámos a recolher num dos salva-vidas que, nessa noite, baloiçou não à brisa calma da noite, mas a dois corpos jovens, impúdicos, decididos a gozar a vida, a fazer as vontades a uma Natureza cheia de caprichos e exigências.
Foi nessa grande sala de jantar da primeira-classe que, uma noite, sou abordado por uma bonita rapariga. Ela era Israelita e também regressava do Brasil, onde tinha família. Ela começou a fazer-me sentinela mas o meu magala recusou fazer continência! Foi o cabo dos trabalhos! Ela queria que fôssemos navegar num dos salva-vidas mas eu é que tive de me salvar. Ela chamava-se Nurite e vivia em Haifa, com a sua avó. Deu-me a sua morada para eu a visitar quando chegássemos a Israel. Uma noite disse ao Eyal que a levasse a uns treinos no salva-vidas, mas ele tinha experimentado pela primeira vez a ter o meu magala a mostrar-lhe o caminho para o infinito gozo de um marcha-atrás, e tanto gostou que, todas as noites queria navegar a todo o pano!
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