mercredi 16 septembre 2009

A Rosa Tatuada







Pouco a pouco começaram a aparecer novas caras. Uma cozinheira, a Rosa, uma mulher marcada pelos horrores de Auschwitz, cujo vergonhoso número tatuado no seu antebraço esquerdo ela escondia com um daqueles panos de cozinha, como se não quisesse partilhar com ninguém tal afronta. Mulher que eu viria a amar duma forma muito particular. Foi ela quem me ensinou o pouco do alemão que eu tanto precisava. Ela trazia-me o menu para o dia seguinte para eu dactilografar em Inglês e Hebraico. Ela viria a passar muitas horas das nossas vidas a evocar dolorosos dias passados nesse Campo de exterminação do qual escapou - como ela me disse um dia - graças ao facto de ela ser, nesses dias, uma rapariga nova muito bonita, cuja beleza ela dispensava todos os dias aos Oficiais Nazis, a troco mais um dia de vida. Sempre que ela se referia a esses tempos as lágrimas caíam-lhe cara abaixo, confessando um certo complexo de culpabilidade, ao lembrar-se de outras raparigas menos dotadas do que ela que todos os dias iam a pé para os fornos, quantas vezes com os filhos pela mão. Comovidamente, eu procurava explicar-lhe que a vida é uma luta constante pela sobrevivência. A Edithe, a empregada de mesa, que corria atrás dos meus encantos, chamava-lhe choramingona dum raio. Para mim ela era a mulher que tanto precisava de tanto, tanto amor.

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