mardi 15 septembre 2009

O Papagaio

















Lá fui eu a correr ao tal Ministério, mas aí foram os mesmos problemas: eu não era Judeu e teria de deixar Israel na data limite desse meu documento provisório. Desesperado com a minha situação, caminhei todo esse caminho de volta até ao Kikar Dizengoff e, aí, uma tenda de gelados – O Papagaio - com grandes anúncios em Hebraico propondo gelados italianos, me assaltou. Reparei que só um pobre diabo se encontrava por detrás do balcão muito atarefado a tentar servir magotes de clientes encalorados. Em Israel, por causa do calor permanente, as pessoas consomem toneladas de gelados por dia. Aterrado com a minha situação e falta de futuro nesse país, decidi ir pedir um gelado ao desorientado vendedor de gelados, e pergunto-lhe, em Italiano, se ele precisava de ajuda. Ele responde-me em Hebraico que não me tinha percebido e eu faço-lhe a mesma pergunta em Hebraico. Ele diz-me que sim, que precisava dum garoto (eu já tinha 26 anos) para o ajudar, para estar ao pé daquela grande caixa de gelados variados, lá fora na rua, para vender gelados aos passantes.

Eu tinha chegado na véspera a Tel Aviv e logo no dia seguinte já tinha emprego. O ordenado era daqueles que se arrastam pelo chão, mas como eu também nessa altura andava de rastos, aceitei. Ele não me pediu os meus papéis e eu também não lhos propus! Ele foi comigo lá fora, correu uma pequena porta ondulada e na minha frente tinha um enorme contentor a abarrotar de caixas com gelados de todas as cores e uma tabuleta com os preços. Mostrou-me como se servia o cliente com aqueles cones e colher especial para os gelados, que os preços estavam ali bem visíveis.

Imediatamente pessoas começaram a aproximarem-se para pedir gelados. O grande problema era que cada cor de gelado referia-se a um determinado fruto entre as muitas cores que estavam expostas. Vi-me aflito. Eu sabia os preços e como servir o cliente, mas não conhecia ainda todos os nomes de frutos em Hebraico. Então, para me desenrascar, perguntava simplesmente ao cliente:

- “Tagid li at ha’tzeva”! (diga-me qual a cor).

A partir desse momento, com a dificuldade dos nomes dos frutos, trabalhei tão desalmadamente, que o patrão, como havia ali mesmo ao lado outro quiosque de sandes, duas vezes me foi buscar uma sandes e um sumo de laranja, e pediu-me para ter cuidado, quando fumava, não deixar cair cinza sobre os seus frutos de todas as cores. Nessa altura fumar ainda não matava! Matava-se sim, mas por um cigarro quando as tabacarias já tinham fechado!

À meia-noite apanhei o último autocarro para Givataim, (o 68) quando o patrão me disse basta, vá dormir e amanhã esteja aqui por volta do meio-dia!

Chegado a casa, como ainda haviam uns ovos no frigorífico, fiz uma omelete de tomate e uma pita e depois fui para a varanda apanhar ar fresco e mergulhar os olhos naqueles milhares de estrelas que ali cintilariam até ao nascer do novo dia! Fumei alguns cigarros e fiz contas à vida e procurei organizar o meu futuro naquele país que me predizia muitas problemas, pelo facto de eu não ser Judeu.

Nessa noite dormi que nem o rochedo da Praia da Rainha em Cascais!

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