lundi 28 septembre 2009

Um Lugar ao Sol

















Depois MikI pegou na Lambretta e foi mostrar-me outras pequenas áreas mais ou menos isoladas de Eilat. Todas ali à volta do Sing-Sing. Mostrou-me o bairro onde moravam os pedreiros da construção civil, todos imigrantes que vinham do Yemen, assim como alguns palestinianos. O mais excitante de tudo, foi a descoberta do único “Night-Club” lá do sítio. Era o “Sóf Ha’Olam” que, traduzido em Português era “O Fim do Mundo”. E realmente era! Era uma velha casa, talvez dos tempos dos beduínos, que tinha ares de antiguídade encontrada nalguma escavação arqueológica. Ele disse-me que ia lá muita vez para dar ao pé ou engatar uma gaja. Que uma destas noites, me levaria lá, que eu ia gostar, que por lá também andavam muitos turcos que procuravam “zein”. Quando lhe perguntei o que era “zein”, pensando que era alguma droga ilícita, ele explicou-me que era aquela droga muito lícita que os homens que se prezam badalhocam o tempo todo entre as pernas. Depois voltámos a casa e limpámos um pouco o apartamento. A casa de banho estava num estado de porcaria geral. O espelho estava tão sujo que nem sequer nos podíamos ver para fazer a barba! Tínhamos, como janelas para a rua, a cozinha e a sala de entrada, que passou a ser o meu quarto. Para as traseiras tínhamos a janela do quarto do Miki e a grande e rasgada janela da sala. Essa janela dava para o Deserto do Negev. Como estávamos num rés-de- chão, era proibido abrir a janela por causa das tempestades de areia. De resto o calor era tanto que fechávamos todas as janelas para ele não entrar. Graças aos progressos de então, já tínhamos uma espécie de ar condicionado que o Miki tinha comprado na loja dos artigos eléctricos do Centro Comercial que se chamava “Merkaze”! Eu tomei gosto pela casa e comecei a, além de a limpar, a decorá-la. Comecei a ir à Merkaze comprar tecidos, colchas para as camas, coisas para pôr nas paredes, coisas para a cozinha de forma a poder improvisar uma refeiçaão quando necessário, poder fazer um bom café, enfim, fazer desse apartamento um lar para mim e para o Miki, coisa que ele pareceu bastante apreciar. Fiz cortinas para as janelas, instaladas com pioneses, enfeitei as camas com bonitas colchas, e como não tinha nada para as paredes, pintei um quadro para a sala - “As Três Graças” - para pôr por cima do meu divã que eu tinha transformado em canapé, com algumas bonitas almofadas que tinha adquirido numa das botiques da Merkaze. Comprei madeira numa loja mesmo em frente para fazer uma mesa baixa para pôr em frente da minha cama, assim como uma mesa de cabeceira para acomodar o meu despertador e o meu transístor. Em cima da mesa baixa pus uma jarrinha com flores, algumas revistas, e um grande cinzeiro. Miki, cada vez que chegava a casa imediatamente se apercebia da novidade. A cada vez ele dizia, brutalmente a esconder uma ternura sempre crescente:

- Shmok! Ishtágátá? Náfáltá ál há'roche? Bishvil má kól zé?
(Caraças! Caiste em cima dos cornos? Para quê esta tralha toda?

Mas na sua voz pressentia-se uma gratidão imensa, por detrás daquela rudeza! Sem que da sua boca saísse uma palavra, sentia-se que ele apreciava o facto de eu ter feito daquele apartamento sem alma um lar para ambos. Muitos anos mais tarde, na sua casa em Herzelia, já casado e com três adoráveis filhos, sentado na sua cadeira de baloiço no seu grande terraço, olhando-me em silêncio nos olhos, dessa boca donde normalmente só saíam grosseiras pragas, saíram as palavras mais maravilhosas que eu nunca tinha ouvido:

- Carmo, amo-te!

Foi a primeira e a última vez na minha já tão longa vida, que alguém ousou lançar-me essas mágicas palavras que têm o condão de nos invadir a alma e dar-lhe asas para mais altos voos!

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