vendredi 18 septembre 2009

Meu tão querido Tété
















A pior de todas as experiências feitas nessa desavergonhada de cama no meu quarto que dava para as traseiras, foram as visitas do meu Tété!

Ele costumava vir passar de vez em quando um fim de semana comigo. Como eu então fazia as noites no Hod e como começava às onze da noite, normalmente ele vinha depois ter comigo ao hotel e eu dava-lhe um tardio jantar na cozinha. Depois do jantar ele voltava a casa e dormia as suas celibatárias noites naquela minha cama tão faminta do seu divino corpo, dos seus odores, dos seus ardores!

Normalmente, no outro dia de manhã, por volta das sete, eu ia para casa para lhe preparar o pequeno-almoço. Depois dessa rápida refeição nós púnhamos os nossos fatos de banho e os pés a caminho da praia, e lá passávamos as manhãs ao sol e a fazer projectos de Futuro, a meigamente relembrar tantas boas recordações do Passado!

Uma manhã, porém, depois de eu ter preparado o pequeno-almoço, fui acordá-lo. Ele dormia tão profundamente que me sentei na borda da cama para o abanar. Ela acorda, fixa-me longamente e, desvairado, soergue-se, prende-me nos seus braços e mergulha a sua boca faminta da minha, no mais fogoso beijo de toda a minha vida! Foi o beijo mais profundo e longo que eu jamais experimentaria! Nesse inevitável beijo encontraram-se - estou certo - os muitos anos dos nossos desejos recalcados! Esse beijo foi tão violento que ele, subitamente, dá um rouco grito e ejacula! A repentina explosão dum vulcão certamente adormecido sob a sua lava escaldante durante todas essas eternidades que os nossos corpos surdamente se mendigaram!

Depois empurra-me, levanta-se e corre para a casa de banho. Quando saiu desse curto enxaguar, dirige-se timidamente a mim, pede-me perdão, e pergunta-me se lhe podia emprestar umas cuecas lavadas.

Depois do pequeno-almoço ele volta a desculpar-se da sua fraqueza e sai. Penso que voltou para Jerusalém! E eu ali fiquei, estupidamente, sem sequer ter tentado detê-lo, de passar o resto dia na cama com ele! Ter-lhe feito todo aquele amor que há tantos anos acartvávamos dentro de nós sem nunca o manifestarmos um ao outro! A minha maior frustração foi o facto de nem sequer ter visto o seu membro que eu tanto queria ter aprisionado dentro de mim! Porquê aquela sua explosiva ejaculação não tinha ela desaguado dentro de mim, alagando-me daquela seiva de que o meu corpo andara tantos anos tão sedento?

Depois as nossas relações ficaram marcadas para todo o sempre desde esse incidente. Ele nunca mais me pareceu à vontade na minha presença. Nunca mais voltou para os seus fins de semana em Herzelia. Acabaram-se os frequentes telefonemas, os convites a irmos ao cinema. Como se a Torre de Pisa tivesse finalmente tombado sobre uma indefesa vasta multidão!

Era evidente que ele desejava tanto o meu corpo, a minha boca, tanto ou mais ainda do que eu desejava aquela sua boca entreaberta a mostrar a sua língua devastadora, aqueles olhos que nos despiam às escondidas, aquele corpo afinal de contas tão ávido do meu como o meu do dele! Que infame desperdício! Que prejuizos incalculáveis!

Só muitos anos mais tarde - vivia eu então em Paris - já estava ele a viver no México, veio passar uns dias a minha casa ali em Boulogne Billancourt, na Rua Edourd Vaillant. Ele dormia no canapé do salão. Eu e o Pat dormíamos no único quarto desse pequeno apartamento. A casa de banho encontrava-se incorporada nesse quarto. Várias vezes, ao meio da noite, ele vinha à casa de banho e, docemente, vinha acordar-me com um beijo e implorar-me que viesse dormir com ele! E sempre lho recusei!

Entretanto ambos tínhamos envelhecido um pouco, e ele já não me atraía como no passado! Uma tarde, para esclarecer as nossas relações de então, expliquei-lhe que haviam dias, horas, momentos, que numa vida nunca deveria ter sido desmentidos! Todos esses anos que tanto o desejei sem ousar mostrá-lo abertamente ao mundo inteiro! Tantos nos que ele também, secretamente, também me desejara, mas que agora era tarde demais! Que seria como lamber o fundo ao tacho!

Disse-lhe uma frase que o marcou, que muitas vezes ele me atirou à cara como a maior de todas as impiedosas injustiças:

- Vale mais nunca do que tarde demais!

E assim terminou uma bela história de amor de tantos anos de falta de coragem de ambos de termos dado largas aos nossos desejos quando ambos éramos jovens e desejáveis! Esses nossos dois corpos que em segredo se desejaram! Tudo isto por causa de certos tirânicos preconceitos de que é vergonhoso dois homens se entregarem às suas verdadeiras paixões!

Hoje o meu querido Tété há muito que subiu em fumarada aos céus do México City, e eu ainda por aqui ando a arrastar-me em busca dele, ansioso de com ele ir ter, seja onde possa ser que ele ainda se possa encontrar.

A Rita já foi ter com ele... que espero eu? Que me agarra ainda a este mundo?

Acabar todas estas minhas derradeiras confições? Confissões que nunca ninguém jamais virá a ler! O nosso eterno segredo subirá connosco por esses céus acima, ao encontro um do outro, algures...

Talvez ainda possamos um dia escutar, nos braços um do outro, aquela bonita cantiga do Nat King Cole de que tanto gostávamos, naqueles tempos do Tique-Taque quando eu te lia os meus poemas através dos altifalantes, que quase sempre acabava - como se o pano caísse - aquela bela voz dizendo-nos o que nós nunca ousámos dizer um ao outro a tempo e horas!:

- You are Unforgetable!

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