samedi 12 septembre 2009
Santa Apolónia
Após o funeral de meu pai, depois de ter falado com os meus irmãos acerca do futuro da nossa mãe como viúva, sabendo que ela teria de deixar a casa onde meu pai falecera, fizémos uma mesa redonda, eu e os meus outros quatro irmãos, afim de resolver esse problema da subsistência da nossa mãe. Quando os informei acerca da minha partida para Israel, os meus irmãos combinaram que cada um deles tomaria conta dela nas suas casas, três meses por ano. Aliviado do meu complexo de culpa de deixar a minha mãe a sós com a sua viuvez, agarrei nos pés e pu-los a caminho de Lisboa afim de organizar a minha partida para Israel, ao encontro desse homem que eu secretamente tanto amava!
Regressado a Lisboa, fui à Agência Abreu, tratar da minha data do barco que tinha de apanhar em Marselha para chegar a Haifa; vou ao Registo Civil tratar do meu Passaporte, o meu primeiro Passaporte, onde me pedem duas fotos recentes; fui fazer as ditas, ali no Diário de Notícias, naquela esquina do Rossio com a Rua do Ouro; comprar uma grande mala para acartar comigo os meus poucos haveres; fui ao Espírito Santo - Amen - para comprar os poucos Francos franceses que os meus últimos Escudos me permitiriam; despedir-me do Café Chave d’Ouro onde tantos poemas meus foram escritos; dizer adeus à minha querida Lisboa; à Rua Martins Sarmento para pedir à Dona Maximina se ela podia guardar-me aquelas dezenas de desenhos meus, feitos em papel Cavalinho, com retratos de actores e actrizes, de Cristo, de escritores portugueses, como o Eça, o Camilo, a Florbela Espanca... Desenhos esses que ela um dia, pensando que eu nunca mais voltaria a reclamá-los, deitaria fora, para meu grande furor. Foi certamente uma das grandes perdas da minha vida!
Na véspera de apanhar um combóio em Santa Apolónia, reuni-me com a Mariazinha e mais alguns amigos no Tique-Taque, para um copo de despedida, numa modesta ramboiada que terminou às duas da manhã, quando o Tique-Taque encerrou. Saidos do Tique-Taque, cada qual seguiu o seu rumo, e eu e a Zinha passeámos o resto da noite pelas ruas de Lisboa, a fazer horas para o meu impassível combóio que me arrancaria dos braços da Zinha para me lançar nos do Tété, a quem eu, por respeito, comecei a chmar o senhor Melo e, mais intimamente, simplesmente “o Melo”! Depois fomos à Sacadura Cabral buscar as minhas duas malas e lá apanhámos um taxi para Santa Apolónia. Foi a Zinha que pagou o estremunhado chófer. Ela sabia muito bem que eu não tinha cheta nem para mandar cantar um cego. O pouco capital que eu ainda me restava na algibeira de dentro, junto ao passaporte. Eram apenas alguns miseráveis francos franceses que os meus últimos escassos escudos me tinham autorizado.
Inscription à :
Publier les commentaires (Atom)
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire