lundi 7 septembre 2009
O Regresso do Gavião Branco
O regresso ao Gavião passou-se como o retorno do filho pródigo. As portas estavam todas abertas de par em par e todos contentíssimos de me terem de volta! A minha cama estava ali aberta à minha espera, e o António, dentro da sua timidez, exultou de me ver de novo à sua beira. A cama do meu irmão continuava disponível para qualquer outro rapaz que andasse à procura de abrigo, mas aparentemente os negócios da Dona Alice andavam um tanto por baixo. O Guilherme tinha-se casado e o Zé Barbeiro encontrava-se só naquele seu pequeno quarto com porta para a escada. Os irmãos do Norte tinham voltado para a terra e, assim, o meu regresso foi como “uma lança em África” para a Dona Alice.
Os meus dias começaram a desfolharem-se como no passado. Só que agora eu já não trabalhava no Tique-Taque, mas sim no aeroporto. Fiquei contente da mudança, pois que agora estava muito mais próximo do Aeroporto, bastava-me apanhar um autocarro no Areeiro e estava no Amaro & Mota em dez minutos. O engenheiro Taínha tinha ficado radiante com a mudança, pois que agora me encontrava menos longe do meu emprego, assim como também muito mais perto do Lumiar! Um dos poucos problemas porém, foi que como a Dona Alice tinha menos rapazes, e a mensalidade tinha subido. Agora pagava-se 700 escudos por mês. Pedi à Dona Alice que me deixasse mudar para o quarto do Zé Barbeiro, mas não era possível, pois que essa grande moda de então dos estúdios, ela tinha, de acordo com ele, aumentado a renda, pois que o Zé, seguindo as modas, tinha preferido fazer do seu quarto com porta para a escada, o seu canto. Que agora ela nem tinha acesso ao seu quarto, e ainda bem! Menos um quarto para limpar e uma cama a fazer todas as manhãs! Propôs-me o quarto dos manos do Norte que dava para a marquise, mas isso custar-me-ia um conto de réis por mês, pois que tinha um quarto só para mim, a minha casa. Isto se eu fizesse como o Tarzan e trepasse pelas traseiras por uma liana para subir e descer. Mas continuava a não ter direito a receber ninguém no meu quarto, que era uma casa séria! Pelos vistos, o Tarzan, não se podia dar ao luxo de ter uma Jane nem uma Chita. Não quis dizer um “elefante”, pois que isso traria más recordações do passado, do seu elefante em cima do seu guarda-vestidos que ela encontrou de pantanas quando do regresso do seu fim-de-semana em Loures! Como eu estava com um conto e quinhentos de ordenado, preferi ficar com o António, embora ver a cama do Fernando sempre vazia dava-me a impressão que o meu irmão tinha morrido. Decidi ficar com o António, pois que era evidente que ele não gostava de estar sozinho. Tinha-se de algum modo habituado a mim como parte da mobília, parte do seu vestuário. Que era o caso, pois como tínhamos as nossas roupas juntas no mesmo guarda-roupa, e ele, por engano, frequentemente usava os meus blusões.
No Aeroporto tudo continuava como sempre. Agora tinha a Dona Alice que me tratava da lancheira com o meu almoço e isso representava para mim já uma grande economia. Para me vingar das minhas palermices do passado, comecei a frequentar o Tique-Taque, ali mesmo à porta, para me fazer servir por ex-colegas que tão agradavelmente surpreendidos ficaram com a minha reaparição. O senhor Jaime ainda lá estava como encarregado e propôs-me eu voltar e deixar-me de patetices. Não aderi à proposta pois que estava contente de trabalhar na Amaro & Mota, onde pressentia ter muito mais futuro, porque tinha as minhas quartas-feiras livres para ir ter com o Nuno Fradique, e porque continuava sempre muito enamorado do Engenheiro Amaro, aquele loiro cujos olhos dum azul transparente um dia me disseram: Não! Nem pensar nisso! Mas os meus olhos respondiam-lhe: Nunca se sabe! Talvez um dia! O tempo pode fazer das suas! De resto, o meu quotidiano era bem preenchido fazendo um trabalho mais ou menos científico que me dava a impressão de ser alguém. Ganhava bem a minha vida, em vez de 20 paus por noite no Cais do Sodré!
Perguntei ao senhor Jaime notícias do Tété. Ele informou-me que ele estava então a trabalhar no King David Hotel em Jerusalém e que a Rita iria ter com ele logo que ela terminasse um contrato que tinha com a Gulbenkian como tradutora, pois que ela falava Português, Inglês, Francês, Alemão, e Hebraico! Fiquei tão feliz de saber que o Tété estava bem e com um bom emprego nesse hotel, que sabia ser um dos mais importantes de Israel. Eu fiquei ansioso de o rever e conhecer Jerusalém! Cheguei a casa e imediatamente lhe escrevi uma carta para o King David, esperando que talvez ele ainda se lembrasse de mim e me desse alguma resposta. Foi dito e feito! Dentro de alguns dias recebo uma carta dele com um recibo para uma viagem só ida de Marselha até Haifa. Em meia dúzia de linhas apenas me dizia que viesse ter com ele, que tinha saudades minhas, que Israel era um país maravilhoso. O seu último parágrafo foi:
“Desenrasca-te para chegares até Marselha! Boa viagem de barco até Haifa. Lá estarei à tua espera para te dar um grande abraço! Tenho tantas saudades tuas! Traz os teus poemas! Tenho tantas, tantas saudades tuas! ”
Quando a Dona Alice me entregou aquele envelope timbrado “Jerusalem-King David Hote - Israel” o meu coração deu um salto! Tive vontade de a abraçar e beijar, mas como estava em casa de gente séria, limitei-me a fechar-me na casa de banho. Li e reli aquela carta uma dúzia de vezes! Chorei lágrimas duma felicidade inexplicável! De algum modo o Tété amava-me! Esse bilhete de Marselha até Haifa era válido por um ano. Tive vontade de fazer as malas e partir na manhã seguinte, mas como o meu pai estava muito mal, já no seu leito de morte, decidi aguardar que ele deixasse este mundo para começar então a sentir-me livre como o vento! Ir à descoberta do mundo! Lisboa repentinamente pareceu-me tão insignificante! Eu precisava tanto daquele prometido grande abraço do Tété, apertá-lo contra mim e beijar aquela boca sempre a abarrotar de beijos para toda a gente. Mas, ao menos, nesse dia, em Haifa, esse beijo seria só meu! Só nosso!
Os dias foram passando. Amaro & Mota, Gavião, Café do Campo Pequeno, Nuno Fradique. Os encontros com o Pedro Pinheiro, os saltos até ao Tique-Taque para tomar um café e ver caras amigas. Uma rotina quase perfeita. Voltei ao cabeleireiro do Tété, ali na Praça de Londres, tratar das unhas, ir ao Zé barbeiro cortar o cabelo e fazer a barba, sentir a sua bandarilha contra o meu cotovelo, ir até à Baixa, ao Café Gelo misturar-me um pouco com a tertúlia do primeiro andar com o Helder, o Cezariny, e outros que mal recordo. Ia a revistas no Parque Mayer, assim como a combates de luta livre que considerava tão sexual. Dois homens quase nus, um em cima do outro, prisioneiros naqueles fortes abraços. Gostava de ir àquela esplanada do Parque Eduardo VII onde trabalhara uns tempos, ver as belezas em busca de hortaliça, pois que a minha sexualidade continuava um tanto descuidada e os meus desejos eram contínuos e quase permanentes. Um dia vou até ao Café do Campo pequeno ouvir o “Love is a Many Spledored Thing” e, surpresa! Esbarrei com o Tótó. Tomámos um café. Ele pediu-me que não lhe chamasse Tótó, que Tótó era aquele detestável cómico italiano que não tinha piada nenhuma, que o seu nome era Tomás! Perguntou-me como ia agora a minha vida, se tinha saído daquela camisa de sete varas, que lamentava muito não me ter ajudado quando vim a seu encontro pedir ajuda, mas vivia com aquele rapaz, que andava muito embeiçado por ele mas que ele era apenas passivo e isso não o satisfazia completamente. Que eu estava agora muito giro, que tinha mudado, que estava muito parecido com o James Dean, que agora podia vir viver com ele, que a tia dele tinha falecido, lhe tinha deixado a casa toda, que se sentia um pouco só, que apenas aqueles biscates de passagem já lhe não chegava, que queria encontrar alguém com quem compartilhar a sua vida, porque não viria eu viver com ele? Fui honesto com ele. Falei-lhe do meu amor pelo Tété, que brevemente iria ter com ele a Israel, mas que, entretanto, umas estocadas com ele de vez em quando seria com muito prazer. Sempre às ordens! Mal acabada esta frase ele levanta-se para pagar os cafés e convida-me a subir com ele para me mostrar a casa dele agora, que era o proprietário da totalidade de todos os aposentos. Curioso, aceitei! De resto estava mortinho de me por nele! Subimos para ver o resto da casa. Fiquei desiludido. A casa era como um museu com retratos do Rei Dom Carlos e Raínha Dona Amélia. Os retratos da sua tia, que quando jovem tinha sido actriz, povoavam a casa toda. Aquilo parecia-me um jazigo! Só faltavam as velinhas acesas frente a cada retrato. Mostrou-me o então seu quarto com uma grande cama com balaustrada e rendas por toda a parte. Ele atirou-se para cima da cama e estendeu-me os seus braços mendigando um beijo. Obviamente ávido do meu corpo, do meu brutal entrar dentro dele sem dó nem piedade. Atirei-me de cabeça para tal prometedor festim, mas a cama gemia como se estivesse com saudades da sua dona que Deus tinha. Propus-lhe irmo-nos deitar no seu quarto com porta para a escada. Esse quarto tinha sido transformado em atelier onde ele trabalhava, pois que ele era arquitecto e tinha uma grande mesa inclinada onde ele trabalhava as suas criações arquitectónicas. Porém o divã estava coberto de papelada. Ele sacudiu para o chão aquela tralha toda, abre a cama, despe-se, deita-se sobre o estômago e implora: Fode-me! Enraba-me! Não gosto de receber ordens, mas ordens daquela natureza, eu era um escravo obediente! Passei lá a noite toda. Quando voltei de manhã para tomar o meu pequeno-almoço no Gavião e buscar a minha lancheira, a Dona Alice pediu-me encarecidamente que para a próxima, quando não viesse dormir a casa, lhe telefonasse. Que ela tinha passado noite toda muito ralada, que quase tinha chamado a polícia.
A minha vida começou a passar a ritmo acelerado. Correr para o Aeroporto, para o Lumiar, para o Café do Campo Pequeno, para o Tomás. Tomás parecia querer que dormisse com ele todas as noites na cama da tia, mas eu sempre recusei. Se o aceitasse parecer-me-ia que era o amante duma baronesa qualquer doutras épocas. Ele sugeriu que se eu não gostava do quarto da tia, que podia mudar de cama e estilo de decoração. Eu preferia no atelier! No chão, era um bom combate corpo a corpo como no Parque Mayer quando ia ver a luta livre. Umas vezes por cima, outras vezes por baixo, saíamos sempre ambos vencedores. Só nos faltava o árbitro! Um dia sugeri-lhe essa possibilidade mas ele também me parecia ser um “homem sério”! Ou era possessivo, ou um tanto limitado nas mil e uma variantes ou, simplesmente, não apreciava multiplicidades. Depois das nossas lutas, cúmulo dos cúmulos, ao chegar à minha porta na Sacadura Cabral, o guarda nocturno - o que tal que me tinha aberto a porta da escada naquela triste noite de Natal - parecia estar ao corrente dos meus horários, e fazia sempre questão de me abrir a porta e trocar algumas impressões comigo. Trocas essas que acabavam sempre de joelhos a fazer as minhas preces e, depois, para redenção dos meus pecados, papar-lhe a hóstia. Para mim, para aquela minha constante necessidade de ejacular, era como um milagre quase diário. Vingava-me das longas temporadas em que andava a seco, a deixar nódoas pecaminosas nos brancos lenços da Tia Alice, como comecei a chamar-lhe. Tratando-se duma casa muito séria, devia realmente ser o pior dos ultrajes à sua dignidade de mulher séria que certamente já não usava toalhinhas há muitos anos! Isso eram seguramente sujos pecadilhos dum já tão distante passado! No dia seguinte, no Aeroporto, muitas vezes estava tão estafado que mal despejava a minha lancheira adormecia em cima da relva e tinha de ser acordado com um balde de água na cara. Nas trombas, como o Mário me dizia! Uma vez ele disse-me que eu andava certamente a foder com todo o bicho careta e depois quem se fodia era o meu trabalho de grande responsabilidade no laboratório. Eu arrematava sempre os cuidados do Mário com uma frase que ficaria na história: “Fodas há muitas, Amaro & Mota há só um!” Mas isso nunca me impediria de despejar os colhões sempre que tivesse uma oportunidade que valesse a pena! Era assim que, entre a malta, nos exprimíamos. Grosseiramente, mas isso era a grande moda entre gajos! Quem não se exprimisse usando sólidos palavrões, não era homem, era um pobre maricas de trazer por casa!
Uma tarde, na Amaro & Mota, recebo uma chamada da Tia Alice, dizendo-me que tinha recebido uma chamada de Mafra, dizendo-me que o meu pai estava muito mal, que a minha presença era requerida o mais rapidamente possível. Falei com o Taínha e ele dispensou-me imediatamente, desejando-me muita coragem para certas inevitáveis perdas na vida de todos nós. Fui a correr para casa para mudar de roupa e depois apanhei uma camioneta do Sardinha no Saldanha, a caminho de Mafra. Eu já estava à espera deste desenlace pois que a última vez que tinha visto o meu pai ele já estava acamado com uma cirrose e já mal podia falar. Chegado a casa, ali na Serpa Pinto, em Mafra, subi àquele primeiro andar com as pernas a tremer de ansiedade. Encontrei a minha mãe sentada ao pé da cama do meu pai, e o Dr. Passos a dar não sei que tratamento contra as dores ao meu pai, que parecia já ausente. Nunca saberei que tipo de medo ou inibição se apoderou de mim, mas não consegui corresponder ao sinal que o meu pai me fez com a cabeça, olhos postos em mim, implorando-me que me aproximasse dele. Era evidente que ele tinha algo a confiar-me, a balbuciar-me, mas não encontrei a coragem, ou talvez quase heroísmo, de me aproximar. Sempre odiei a morte, desde aquele dia em que fui enterrar o meu tão querido irmão Alberto. O meu pai também se chamava Alberto. Uma vozinha na minha cabeça sibilou: Vai-te embora! Um Alberto chegou-te bem. Covardemente, beijei a minha mãe, agradeci o Dr. Passos por todos os seus cuidados e, dizendo que tinha que voltar ao meu trabalho, saí a correr escada abaixo limpando as minhas lágrimas às paredes da escada. Entrei no Café Estrela e fechei-me na retrete a dar com a cabeça nas paredes. Que raio de homem era eu que nem sequer tivera a coragem necessária para me aproximar do meu moribundo pai, colar a minha orelha à sua boca, e escutar o que ele tão misericordiosamente me queria transmitir. Apanhei a camioneta do Sardinha, desci no Campo Pequeno, e fui para casa chorar nos braços da Tia Alice que, por fim, pareceu mostra-me alguma humanidade e sentimento por debaixo do seu enrodilhado avental.
Dois dias depois, uma vez mais, a Tia Alice recebeu outra chamada de Mafra anunciando que o meu pai tinha passado para o outro lado do espelho. Que o funeral seria amanhã de manhã. Desta vez teria de ter a coragem de romper uma promessa que tinha feito ao meu irmão Alberto, que o único funeral que eu iria a partir desse dia, seria apenas o meu próprio funeral!
Lá chegado, o meu pai jazia já no seu caixão. Olhei-o naquele olhar tão fechado perdido naquela sua palidez mortal, e pedi-lhe perdão por o não ter escutado. Segredei-lhe que presumia que o que ele me queria ter dito era que eu tomasse conta dos seus versos. Nesse momento jurei-lhe que o faria. Eles estão aqui a meu lado numa caixa de sapatos vazia, cheia de tudo aquilo que pela sua caneta de tinta permanente, escorrera sobre o insensível papel almaço, que lhe viera do mais profundo do seu ser! Ainda lhe devo essa promessa ainda não cumprida: publicar um livro com todos os seus versos que agora em meu poder. Quando do recital do lançamento do meu livro em Mafra, li (mal) um dos seus sonetos a trinta e duas pessoas. Um dia, se Deus me autorizar, depois de ter publicado as minhas memórias, o farei! Quando meu pai desceu naquela campa rasa para se reunir ao meu tão querido irmão Alberto, uma vez mais jurei a esses dois Albertos da minha vida que, por um deles iria viver o mais longamente possível, viajar o mais que pudesse, foder enquanto houvesse com quem me quisesse na sua cama. Ao outro Alberto prometi-lhe um dia publicar todos os seus versos. Um deles ainda ando cumprindo essa promessa, o outro, algures, ao lado dos ossos do seu filho e da sua mulher, ainda aguarda. Que Deus me ajude!
De regresso a Lisboa fui ter com o Tomás que encontrei muito ocupado trabalhando no seu atelier. Ele abriu-me os braços e aparou todas as minhas incontidas lágrimas sobre o seu ombro. Apertou-me nos seus braços e, como uma voz tão suave como uma divina carícia, sussurrou-me ao ouvido:
- Rogério, meu querido! A vida é assim feita. Ninguém jamais poderá fugir à sua morte! Não sei se a Vida é o princípio da Morte, se a Morte o princípio doutra Vida! Temos de saber bem viver as nossas vidas antes que a morte nos apanhe! Anda, vamos sair. Vamos jantar a um bom restaurante e depois ver um bom filme e, depois, vamos foder antes que a morte nos foda!
E assim foi! Fomos jantar a um restaurante perto do São Carlos, e depois, para rebater, fomos a pé avenida da Liberdade acima. Pelo caminho ele insistia que eu era um homem lindo, muito sensível, um poeta, alguém que sempre precisaria de amparo. Que viesse viver com ele e ele estaria sempre a meu lado com um ombro sempre disponível para receber as minhas lágrimas. Ao passarmos pelo Eden, olhámos os grandes cartazes dum file com o James Dean, “A Leste do Paraíso”. Havia uma grande bicha sob aquele cartaz com a divina face do James Dean que, entretanto, tinha perecido num terrível acidente de automóvel. Tinha ido por uma ribanceira abaixo roubando a vida a esse sublime actor, esse homem que Deus tinha feito tão belo, que tal beleza era um insulto ao resto da humanidade. Que eu me parecia muito com ele. Vimos o filme em silêncio. Só, ao fim do filme, quando Cal se debruça sobre o rosto do seu pai às portas da morte, e cola o seu ouvido sobre a boca do seu moribundo pai, para escutar qual a sua última vontade, eu dissolvi-me sobre o ombro do Tomás e solucei o meu pungente remorso de não ter tido a coragem que Cal tivera tido.
Quando o filme acabou e a palavra “End” foi projectada sobre o ecrã, num soluço, verti as minhas amargas lágrimas sobre o ombro amigo do Tomás, que me apertava nos seus braços e me ciciava:
- Chora, meu querido! Chorar é a única maneira de nos libertarmos das nossas dores mais pungentes, de fazermos pouco a pouco os nossos lutos!
Nunca saberei ao certo se nessa tarde o público se levantou para aplaudir esse maravilhoso filme de Elia Kazan, se as minhas tardias lágrimas sobre um pai que não teve um filho suficientemente corajoso que viesse colher da sua muda boca a sua última vontade, antes de se entregar nos braços da Morte!
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