samedi 12 septembre 2009
O irmão da Amália
Na manhã seguinte sou acordado pelo sol de Marselha que me entrava pela janela sem persianas e vinha beijar-me a face docemente. Da rua, chegavam até mim ruídos de pessoas que batiam com os tacões na calçada, e alguns pequenos e discretos pregões matinais. Lavo a cara, visto-me apressadamente e, como tinha direito a pequeno-almoço, desci até à soalhenta casa de jantar e regalei-me com um bom café e baguette com manteiga. Engolido o meu festim, levanto-me, sacudo as migalhas do colo, e saio em busca dum pouco de sol, ar fresco, e tratar de sacar o meu bilhete para o barco. Chegado à Agência de Viagens dizem-me muito friamente, num Francês que me vi aflito para decifrar, que eu tinha chegado atrasado, que o meu barco tinha partido ontem, que agora tinha de aguentar uma semana e apanhar o próximo, e que estivesse lá a tempo e horas!
Desesperado, agarrei na morada do irmão da Dona Amália - a patroa daquela pensão na Rua da Prata onde vivera uns meses - que ela me tinha dado para no caso eu precisar de alguma coisa, pois que ele vivia em Marselha. Agarrei nos meus útimos cêntimos e apanhei um autocarro e fui em busca do paradeiro desse senhor, nessa pequena terreola ali nos arrebaldes da cidade. Chegado lá, bati com o nariz na porta! O seu vizinho do lado – que também era português – informou-me que o mano da Amália tinha ido passar um mês de férias à terra dele, lá para o Minho.
Desesperado, volto ao hotel, sem saber o que iria fazer da minha vida. Ao chegar ao hotel dizem-me que o meu quarto já tinha sido alugado, pois que eu devia ter pago o meu quarto antes do meio-dia! Exigiram-me muito agressivamente de pegar nas minhas malas que estavam ali mesmo à beirinha do balcão, e que lhes largasse as bolotas!
Agarrei nas malas e, como já tinha o meu bilhete para o tal barco turco, desço aquelas escadarias de pedra e sigo até ao Porto de Marselha, para ver se eu podia ficar ao pé das minhas malas até o barco chegar. Claro que não era possível, faltava ainda uns tantos dias!
Desorientado, saí do Porto e comecei a caminhar ao acaso pelas ruas de Marselha, sem saber o que fazer da porca vida! Eu já nem sequer tinha dinheiro para almoçar nem para comprar tabaco! Voltei ao hotel para ver se eles de algum modo me poderiam ajudar, mas a resposta foi que não tinham um único quarto disponível, que o problema era meu! Atravessei a rua e fui-me plantar em frente dessa grande montra de artigos desportivos. Pus-me a olhar para todos aqueles ofensivos preços desses artigos de marca, que só podem agasalhar os abastados e enriquecer ainda mais todos aqueles sabidos envolvidos nesse tipo de negócios de agarrar numas alpercatas, adorná-las com uma tirinha de feltro à volta - de cor garrida, de preferência - e vender a gaita das chanatas ao preço dos dourados sapatinhos da Cinderela!
Sem saber o que fazer. passou-me pela cabeça estender a mão aos transeuntes e talvez conseguir umas moedas para almoçar e comprar cigarros. Via as pessoas passarem apressadas e absortas, mas não ousei estender a mão à caridade. Ao ver passar um autocarro a grande velocidade atravessou-me o espírito atirar-me para debaixo do próximo que passasse. Mas lá muito no fundo de mim mesmo, uma voz me sibilava: Aguenta! Não vieste este caminho todo de Lisboa até Marselha para te fazeres passar a ferro por um autocarro que não te conhece de parte alguma! Aguenta! Desenrasca-te! Tens a vida à tua frente, tens o Zé Melo que vai estar à tua espera no Porto de Haifa, vais conhecer Israel, vais vencer na vida!
Vais ser Alguém!
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