dimanche 6 septembre 2009

O Pedro Pinheiro
















No Lumiar, na RTP, as coisas começaramm a andar de vento em popa ! O Nuno Fradique continuava muito ocupado com o seu programa de variedades todas as quartas-feiras das dez à meia-noite, mas tínhamos que lá estar a tarde toda para os ensaios. Um actor português que começou a sua carreira comigo, como figurante, nesses programas do Nuno, foi o Pedro Pinheiro. Todos as noites, depois dos ensaios da tarde, íamos jantar à cantina dos Estúdios. Foi aí nessa cantina que conheci grandes actores portugueses tais como Virgílio Teixeira, que muitos anos mais tarde viria a entrevistar no Funchal para a Rádio Alfa de Paris. Nessas duas semanas passadas na Madeira entrevistei algumas altas personalidades dessa bonita ilha que uma vez visitada se nos aloja na memória para todo o sempre. Em Maxico, onde me instalara num hotel à beira-mar, entrevistei o Presidente da Câmara, que me concedeu as chaves da cidade. Outros grandes actores que vi de fugida, foram o António Vilar, que estava em Lisboa com a Brigite Bardot para um filme que estavam a fazer juntos nesta cidade. Achei o António Vilar, alem dum bom actor, em belo homem, porém a Brigite Bardot achei-a demasiado magrizela, mesmo até um pouco escanzelada. A que se tornou bastante minha amiga foi a Helga Liné que andava sempre a queixar-se de falta de propostas e por essa razão um dia partiria para Espanha e mais tarde para a Itália. Artur Semedo também o via frequentemente na cantina. Esse entrevistei-o de Paris, da Rádio Alfa, telefonicamente. Certamente que com quem mais convivi, e muito bons amigos nos tornámos, foi o Pedro Pinheiro. Ele vivia em Alcântara e várias vezes fui jantar a casa dele, assim como outra vez, fui passar um fin de semana com ele na casa de campo que ele tinha na Abrigada, onde, penso, ele tinha nascido. O Pedro foi longe na sua carreira artística em Portugal, eu fui ainda muito mais longe na minha carreira geográfica. A Helga Liné nunca mais a vi, mas o Pedro sempre que ia a Portugal dava um salto a sua casa para tomar um copo e dois dedos de conversa. Um dia ele fez um programa não sei para que rádio de Lisboa, acerca da minha pessoa, das minhas viagens, e dos meus poemas, programa esse que gravou sobre fita magnética e que depois me enviou pelo correio para Israel, o que me deu muita alegria. Essa fita ainda a tenho e de vez em quando ainda a escuto. Perdi um pouco o contacto com o Pedro a partir do dia em que o vi na RTPI entrevistando a Amália, censurado-o pela ousadia que ela tivera de cantar Camões. Fiquei ferido, pois que sempre pensei que a Amália podia e devia cantar todos os poetas de que ela gostasse. Assim como quase todos, senão todos, os poetas desejariam que ela os cantasse. Penso mesmo que Camões escreveu adivinhando que ela um dia o cantaria.
Amália escolheu dois poemas meus para a gravação do seu último trabalho para Valentim de Carvalho que, não sei por que razão, nunca editou essas sua últimas gravações. Um dia, na Alfa, falei como Jorge Fernando, que fez as músicas para esses poemas que a Amália esclhera para o seu canto do cisne. Perguntei-lhe se ela tinha gravado os meus dois poemas “O Inverno da vida”, que eu tinha escrito exclusivamente para ela, e “O Aprendiz", que ela tinha escolhido do meu livro Sombras, que lhe oferecera em 1991. Livro esse que em 1992 foi galardoado com o segundo lugar do “Prémo iInternacional de Poesia Florbela Espanca”! Prémio esse que foi atribuído a quatro poetas, tendo o primeiro lugar sido concedido a José Jorge Letria, na Casa de Portugal, na Cidade Universitária de Paris, em 1992. Prémio que fora instaurado pela pintora portuguesa Maria Eduarda Gonçalves que já nos deixou. Quanto às gravações dos meus dois poemas gravados pela Amália, Jorge Fernando pareceu-me certo que “O Aprendiz” tinha sido gravado. Quando lhe disse que ela, depois de ter lido “O Aprendiz”, me dissera que gostaria de cantar este meu poema, insinuei que talvez Amália dissesse isso a todos os poetas que lhe ofereciam poemas.

Jorge Fernando disse-me então algo que me pos em paz acerca das minhas dúvidas:

- Quando a Amália dizia que gostava de cantar um certo poema, ela sempre o fazia!

Agora aguardo que o Valentim de Carvalho se digne editar esses trabalhos da Amália. A não ser que ele tencione comercializar esses três CD que a Amália nos deixou como um último adeus, para celebrar o centenário da sua morte! Se é esse o caso, gostaria que se apercebessem que, nessa saudosa data, já, tanto eu como os actuais responsáveis dessa firma, também nós já não estaremos neste mundo, e cagando para celebrações de abomináveis “marketings”! Certament que poderiam ainda fazer fortunas com as vendas desses CD enquanto por cá andamos! A Amália encontra-se agora na penumbra dum Panteão, quando ela devia estar numa capelinha, num cemitério de Lisboa, ao sol e à chuva, onde nós poderímos, todos aqueles que muito a admiraram, ir por uma flor, acender uma vela, segredar-lhe uma prece!

Quanto ao Pedro Pinheiro, também já entrou no esqeucimento dum talvez qualquer cemitério de Lisboa. Quando eu for a Lisboa, ou lá onde quer que seja que ele entrou na sua eternidade, lhe irei por uma flor e segredar-lhe uma prece! Falar-lhe desses bons tempos que passámos juntos no Lumiar, onde fizémos tantas curtas metragens juntos. Agora resta-nos saber se ainda nos encontraremos um dia nesse duvidoso prometido outro mundo que, se for o caso, seja um nadinha melhor do que este, mesmo que não tão belo!
Se antes de termos nascido não éramos nada nem ninguém, depois de mortos seremos apenas vultos que pela Terra passaram, e que a terra engoliu, digeriu, e cagou ! Paz à sua alma e, já agora, também à minha, enquanto que por cá me arrasto! Só que, se a minha última vontade for respeitada, subirei aos céus em grossos rolos de fumo que a brisa dissipará!

Talvez o Pedro ainda se lembr daquela tarde, nos ensaios, dum programa que o Nuno Fradique, em Fevreiro de 1959, tinha imaginado e encenado, para celebrar esse meu último Carnaval em Lisboa. Nós tínhamos ensaiado a tarde toda, depois fomos jantar à cantina, e comemos e bebemos tão entusiasticamente, que chegámos aos estúdios para passarmos ao vivo, ambos com uma carraspana tal, que foi um fiasco! Eu tinha de fazer um escravo semi-nu, e ele tinha de se mascarar de leão, e esse leão tinha que devorar o indefeso escravo, mas todos esses ensaios tinham ido por água abaixo, e a coisa acabou por ser eu, o escravo, que tentava papar o leão! O Nuno até achou graça, pois que nós tínhamos improvisado uma sátira muito mais divertida do que a cena que ele tinha imaginado e ensaiado.

Lembro-me do Nuno, apreciativamente, nos dizer:

- Isto foram certamente idéias do Rogério!

Ao qual eu respondi:

- Não, Nuno! Foram coisas do Tinto!

- Lembras-te, Pedro?

Um dia voltaremos a recordar juntos outras passagens da minha tão curta carreira como actor, a teu lado! Como aquelas filmagens nos arredores de Lisboa onde eu tinha que puxar um burro e o raio do burro, como muitos “outros” burros, quanto mais tentamos puxá-los, mais eles recuam!

Agora, quem quiser que compreenda a metáfora!

- Até breve, Pedro!

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