mardi 20 octobre 2009

Visita Guiada dos Monumentos









Na manhã seguinte abri a diminuta janela da minha “piccola stanza”, para a arejar um pouco e ver uma nesga do céu azul dessa divina manhã! Quando olhei para a esquerda para dizer bom dia à varanda onde Romeu trepou para beijar os lábios da sua amada, uma vez mais essa varanda me fascinou! Pensei que esse romântico par de pombos a arrulhar pelas já tão distantes noites de luar, nunca, quem sabe, foram tão longe como eu e o Mauricio, naquela nossa ferverosa entrega, ali naquele canto escuro do páteo, onde eles certamente nunca puseram os pés!

Mauricio tinha combinado comigo na véspera que estaria novamente livre no dia seguinte à tarde, e que viria buscar-me para almoçarmos juntos e, depois, mostrar-me as belezas turísticas da cidade. Nesse mesmo instante roguei que nessa noite faríamos amor debaixo daquela varanda, para vingar o trágico destino desses dois desventurados amantes de Shakespear! Como não havia casa de banho no quarto nem no patamar, barbeei-me o melhor que pude frente aquele pequeno espelho sobre aquele entristecido lavatório, ali a um canto do quarto, que muito bem se conjugava com o meu lindo penico de porcelana. Lavei-me da cintura para cima, lavei as minhas peúgas e a minha roupa interior que pus à janela a secar e, depois de bem pentado, vesti-me e fui à procura dum Café onde pudesse matar o bicho. Palmilhei uns metros até ao próximo largo e, aí, encontrei uma pequena esplanada. Sentei-me ao sol e encomendei um “panino” e uma chávena de café com leite. Fumei alguns cigarros e, através dos seus fumos que se desenrolavam ante os meus olhos, procurei programar o meu dia. Sabia que o Mauricio me viria buscar ao hotel por volta do meio-dia, que depois iríamos almoçar e, depois, sabe Deus que monumentos iria descobrir. Como estava novamente a ficar curto de cifrões, planeei dar um salto a Veneza no dia seguinte e continuar a minha viagem, pois que sabia que chegando a Portugal o meu irmão mais velho me emprestaria uns patacos que me levassem até Londres. Era evidente que o Mauricio não andava a nadar em dinheiro como o Tino. Nunca soube qual era o seu trabalho, do que vivia, qual a sua arte. Uma coisa era certa, excluindo o dispendioso jantar da noite anterior, Mauricio vestia-se muito modestamente. Passei uns bons momentos nessa esplanada a ver passar gente apressada, entre os quais, “adorabile ragazzi, ondeggiante culi”! Fazia mais ou menos os poucos projectos que me restavam dessa minha longa viagem pela Itália. Depois de Veneza partiria directamente para Genebra, para beijar o meu belo Robin, que talvez me esperasse de braços abertos!

Por vola do meio-dia regressei ao hotel. Nem sequer subi ao quarto. Sentei-me no tal cadeirão muito coçado ao pé da pequena janela que dava para a rua, e aguardei a aparição do meu Romeo. Sabia Deus quais eram os seus projectos para essa tarde! Como esperado, muito pontualmente, Mauricio chegou à hora marcada! Disse “buon giorno” ao recepcionista, apertou-me a mão, tudo muito obsequiosamente, como se nada se tivesse passado algumas horas atrás, sob aquela romântica varanda de Julieta. Acenou-me com a cabeça para que o seguisse e, uma vez na rua, informou-me que íamos almoçar numa tasca muito popular do centro da cidade, onde se comia muito bem e barato. Depois logo se via! Essa tasca era realmente algo de especial. Era como um botequim das Arábias! Dum estilo muito orientalizado, só lá faltava o Aladino a servir às mesas! Sentámo-nos num recanto muito pacato e o Aladino logo de seguida nos trouxe o “prato do dia”, que era, penso - nunca o saberei - algo que me lembrava lulas de caldeirada. Umas fatias de pão e um canjirão de vinho local. Comemos traquilamente, sem grandes alardes nem expansivas conversas. Depois fomos tomar um café a uma esplanada não longe e, aí, Mauricio abriu-se: que iríamos dar uma volta a pé, a mostrar-me um pouco mais de Verona. Depois, timidamente, muito a medo, me confessou que na noite anterior tinha vivido uma noite muito especial. Que era muito difícil encontrar parceiros para fazer amor, pois que Verona era uma cidade muito fechada, a transbordar de retrógados preconceitos. Que dois homens na rua, se não fossem a discutir em voz alta um qualquer desafio de futebol, eram imediatamente apupados por toda a gente. Depois, tal como um guia, falando muito alto para que todos ouvisem que falávamos de turismo local, mostrou-me o Coliseu e o Teatro Romano, assim como algumas catedrais muito ricas nos seus vitrais. Nalgumas delas ele ajoelhou para rezar ou para fingir que rezava, pois que, aparentemente, tudo tinha de ser justificado dentro das normas muito arreigadas à doutrinal moral de Verona e arrebaldes! Mostrou-me também um belo jardim onde nos sentámos para descansar um pouco as pernas. Nesse jardim, muito contra os usos e costumes lá do sítio, escolheu um banco muito recolhido onde poderíamos, dum certo modo, estarmos à vontade sem muito dar nas vistas. Aí ele desabafou! Que viver em Verona era um calvário! Que os homens ou se casavam e tinham um rancho de filhos, ou eram imediatamente apontados como “omosessuali”! Que daria a vida para ir viver e trabalhar para Roma, mas por causa da sua “mamma”, que já estava velha e cansada, não a podia abandonar à sua sorte. Que a sua irmã se tinha casado e ido viver para casa dos pais do marido, e que não se preocupava com a “mamma”, pois que ela ficara aos cuidados dele. Que ele nunca viria a viver a sua vida como gostaria e precisava. Que nem ousava encontrar um companheiro com quem partilhar a sua vida com ele, fundar um lar! Que isso estava fora de questão! Que se o fizesse seriam apedrejados nas ruas! Que tinha passado uns momentos inesquecíveis comigo sob a varanda da Julieta. Que era um homem como eu que ele gostaria de encontrar e poder instalar-se com ele em Roma. “Ho bisogno di sesso tutto il tempo, ma che era una cosa che raramente aveva! Voglio fare l’amore con te ancora una volta! Poteva facilemente a cadere nell’amore con te!

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