mercredi 14 octobre 2009

R O M A - Città Chiusa !!!















Depois deste triste incidente em Nápoles, disse “ciao” à La Mamma e apanhei um combóio para Roma, onde tinha um belo correspondente que me mostraria essa bela e grande cidade europeia! Como tinha o meu “carnet” de bilhetes que tinha comprado em Tel Aviv, uma espécie de livro de cheques para pagar as minhas viagens de cidade em cidade, a próxima prevista, segundo os meus cáculos, era essa metrópole do turismo internacional. A viagem foi curta e decorreu sem grandes acontecimentos. Chegado a Roma, depois de ter depositado a minha mala na “consigne” da imensa estação ferroviária, deslumbrado com todos aqueles arqueollógicos vestígios desses tempos românicos, como não sabia como chegar à morada de Marco, o meu belo romano que vira na fotografia que ele me enviara numa das nossas poucas cartas da nossa curta correspondência em Inglês, como tinha a sua morada, depois duma pequena refeição num pequeno Café de esquina, apanhei um táxi que me levaria à descoberta desse belo Apolo que, decerto, me aguardava de braços abertos, pois que lhe tinha telefonado de Nápoles na véspera. O táxi, conduzido por um chofer muito tagarela que me fazia aprender o Italiano à força, levou-me por essa Roma fora a descobrir através dos vidros das janelas do seu veículo, essa maravilhosa cidade de tons róseos que me fascinava. Entrámos por fim num arrabalde, belos velhos subúrbios do centro dessa cosmopolita cidade carregada de História! O chofer, ao entrar numa estreita rua mal afamada, diz-me que estamos a chegar. Por fim parou em frente duma larga arqueada pesada porta que parecia pertencer ao Coliseu de Roma. Desci, paguei a soma que me foi exigida, disse “ciao” ao palrador de chofer, e preparei-me para cair nos braços do meu belo Apolo à minha espera lá em cima daquele soturno segundo andar direito! Subi todos aqueles degraus de madeira que gingavam sob o meu peso e, chegado a esse segundo andar direito, depara-se-me uma velha porta de abadia, com um cordel com uma argola, a sair por um pequeno buraco feito no sólido mogno. Puxei a argola e oiço, vindo lá de dentro, ao fundo, um som que me lembrou os sinos da Torre dos Clérigos! Momentos depois oiço uma voz muito abafada que me parecia vinda do além, perguntado quem era? Disse que era o Robi! Robi era o nome com o qual eu assianava todas as minhas cartas para os meus muito vários correspondentes espalhados por esse vasto mundo! A porta, rangendo ruidosamente, abre-se numa pequena greta através da qual eu vislumbro uma grande penca entre dois olhos muito pitosgas, a cavalo em cima de dois lábios muito finos e secos, colados às gengivas. Pensei que devia ser o bisavô de Marco. A porta escancara-se e, na minha frente, uma velha múmia que me murmura:

- Entrate!

Entrei e fui conduzido a uma pequena sala que mais parecia uma capela dos tempos da Soror Mariana! Haviam santinhos por toda a parte sobre as paredes e velas ardendo num castiçal sobre uma velha cómoda estilo vitoriano onde se empoleirava um enorme carrancudo Cristo, olhos postos no tampo dessa cómoda carregada doutras pequenas estatuetas de santos redentores. Ele aponta-me uma cadeira de braços partidos, em outras palavras, de braço ao peito, onde cautelosamente me instalei, temendo algum buraco que me engulisse todo inteirinho. Olho para aquele se Deus quiser, muito em breve cadáver, e pergunto-lhe se podia falar com o Marco. O cadáver põe os olhos no chão repleto de saintinhos caídos das paredes e, a medo, sussurra:

- Sono io Marco!

Jesus Cristo! Cairam-me os colhões ao chão coberto de cotão e santinhos de esfumadas auréolas! Ele implora-me, embaraçadamente, que o desculpe! Que andava já há muitos anos a enviar fotos dos seus belos e jovens correspondentes, a outros correspondentes, que era assim que ele mantinha correspondências amorosas com belos machos, para se enganar a si próprio, e sentir, por alguns vagos instantes, que ainda era jovem, amado, e desejado! Que, quando ele era jovem, tinha sido muito belo! Amante da sua própria imagem! Hipocritamente, para mudar de conversa, perguntei-lhe se podia fumar. Ele disse que sim, e foi buscar um cinzeiro. Pretendi que tinha deixado os meus cigarros no combóio, se ele me podia dar um cigarro? Ele, nervosamente, disse-me que não fumava, que nunca tinha fumado na sua vida! Perguntei-lhe, então, se havia ali perto uma loja onde eu pudesse comprar um maço de tabaco. Ele, percebendo a minha artimanha, diz-me, pondo os seus tristes olhos no chão, que bastava descer, virar à esquerda, atravessar a rua, que logo veria uma vitrina com cachimbos e óculos de sol, que era ali! Que também vendiam cigarros!

Desci e virei à direita, procurei uma boca de Metro, apanhei um combóio, desci em cada estação com nomes sugestivos, como Coliseu, Piazza d’Espagna, e tantas mais! Vi museus, catedrais, estátuas, jardins públicos, fontes, ruas e mais ruas! Deambulei como um autómato e, por fim, apanhei um combóio para Génova! Quanto ao Marco, nunca mais voltei! Nem adeus lhe disse! Hoje, tantos anos passados, arrependido, peço-lhe perdão pela minha covardia, a minha indiferença perante a sua solidão que é agora também a minha! Hoje, na minha casa, não tenho santinhos por toda a parte, tenho recordações de todas as cores, e um computador no qual faço reviver todo o meu passado, tentando assim esquecer que também eu, como ele, agora procuro fazer-me amado pelo que fui, pelo muito que vivi, pelo muito que ri, que sofri, que amei, que perdi!

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire