lundi 12 octobre 2009

A Percepção da Morte
















Durante algum tempo voltei à minha rotina habitual: Hod, praia, festas em casa do Shaby quase todas as sextas-feiras, fazer bikinis para satisfazer a minha clientela, tais como um belo bailarino da Ópera de Tel Aviv, o Ema. Ele tinha-me visto na praia dentro do meu minúsculo bikini, e tinha-me perguntado se eu podia fazer-lhe um para ele. Claro que fui a casa dele para lhe tirar as medidas. Ele morava ali mesmo ao pé da Ópera, a dois passos da praia. Ema foi certamente um dos poucos que ficaram insensíveis aos meus encantos. Aí comecei a compreender que um dia, murchos os meus predicados, teria de sobreviver sem ter poder de sedução, sem ter com quem ir para a cama, e isso assustou-me tremendamente! Eu nunca me veria como um homem prendado, auto-suficiente com aldrabices feitas de borracha! Eu queria tudo ou nada! Preferia tudo, mas um dia teria de chegar ao nada, e isso apavorava-me! Entretanto, para esquecer essas ameaças, engatava quem podia, quem se voltasse para trás quando eu passava. Penso que já o não fazia pelo Alberto, que o fazia agora pelo Rogério, condenado a um dia não ter ninguém que nele reparasse quando por ele passasse na rua! Nessa ânsia foi, euforicamente, que abri os braços, as portas, e as pernas, a quem olhasse para mim duas vezes! Eu não era, como o Shaby dizia, “a puta portuguesa”! Eu era apenas um homem que muito cedo tinha compreendido que nada é eterno, e que a vida, com a Morte como ponto final, era um absurdo! E que esse absurdo teria de ser explorado até ao último orgasmo, à última gota de sangue, ao último suspiro! Não me condenem, não me apontem! Sou apenas uma criatura ávida de usufruir da Vida até que a Morte pare os meus passos! Foder! O mais belo verbo da Língua de Camões! Não me fodam! Fodam-me!

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