samedi 10 octobre 2009

Robin - O Esteta
















O que eu mais gostava em Israel nesses tempos, era ter sol todos os dias, o mar à porta, Tel Aviv a quinze minutos de autocarro, as abertas mentalidades das pessoas! A liberdade de sair à rua deixando a minha burca em casa, nas costas duma cadeira! Sempre gostei de trabalhar e sentir-me útil para qualquer coisa. Para os outros, para o mundo, para mim próprio! E se eu agora, reformado, escrevo as minhas memórias, uma das razões é continuar ocupado, fazendo algo de pouco útil para os outros, mas mantendo-me útil a mim mesmo! Recordar a longa e intensa vida que vivi, desde esses tempos em 1940, em Lisboa, na Rua do Arco do Carvalhão, sentado na borda daquele chafariz, encostado ao Aqueduto das Águas Livres, vendo a Ponte Duarte Pacheco crescer ante os meus olhos deslumbrados, ouvindo a Amália na telefonia da taberna, é agora para mim mais uma outra razão de continuar vivo! Hoje, sem amores, que bom é ter de volta todos aqueles que amei e que também de algum modo me amaram, nos meus braços! Como o Robin! O Robin era um belo exemplar do bicho homem! Ele era alto, loiro, olhos dum límpido azul, Inglês de nascença, vivendo na Vila dos seus pais, em Herzelia, ali mesmo por detrás do Hod Hotel. Ele vinha quase todas as noites sentar-se numa cadeira do jardim do hotel, mesmo em frente da recepção onde eu trabalhava. Ele pedia sempre uma cerveja e ali ficava, sentado nessa cadeira, a roçar a borda do copo contra os seus lábios rubros de desejo e paixão. Ele acariciava o copo, eu acariciava os seus lábios e os seus olhos dum azul cristalino que me enviavam constantes luxuriosas mensagens em código, misto de súplica e oferenda. Uma dessas noites, tentando fazer-lhe passar uma mensagem em braille, tentando fazê-lo compreender que poderíamos eventualmente ir muito mais longe do que púdicas miradas, ao passar perto da sua cadeira esbarrei com ele e pedi desculpa. Ele, com os olhos a transbordarem dum decisivo desejo, respondeu-me:

- O prazer foi todo meu! Até que horas trabalha?

Ninfómano como sempre fui, tentando não perder uma única ocasião dum bom orgasmo, respondi-lhe que sairia dentro de alguns minutos.

- Gostaria de tomar um copo comigo em minha casa? Moro aqui mesmo por detrás do hotel...

Fi-lo compreender que, desta vez, o prazer seria todo meu, e ele aguardou até que o Yoska viesse substituir-me.

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