dimanche 18 octobre 2009

Verona de notte con tanto amore









Entretanto, na rua, a noite começava a cair. Mauricio conduziu-me através daquelas velhas ruelas ladeadas de belas antigas casas duma arquitectura realmente quase dos tempos imperiais! Fomos desaguar nas margens do canal onde, perto do Teatro Romano, haviam alguns restaurantes. Entrámos num - talvez o seu preferido - mas aí, ao contrário de Tino, ninguém o cumprimentou. Uma vez mais, o estilo do interior desse belíssimo restaurante, era dum requinte inimaginável! Foi como se tivéssemos entrado na Galeria dos Espelhos em Versalhes! Foi-nos proposta uma mesa para dois, mas uma vasta mesa decorada com um castiçal de prata com três velas. O “cameriere” touxe-nos a ementa, assim como dois aperitivos que nunca saberei como foram confessionados! Eram delicosos! Nesses tempos de “outrora” ainda se podia e devia fumar nos restaurantes. Era mesmo chique, mas o Mauricio não fumava, para não amarelecer os dentes. Eu fumei pelos dois! O repasto foi altamente refinado e servido como se fôssemos membros da família real! Tomou-se chapagne. Não gosto de champagne porque me endireita a Torre de Pisa mas, nessa noite, antes pelo contrário, até era bastante conveniente, pois que depois de duas semanas de abstinência, era-me de importância capital receber uma pequena grande conpensação! E, como tinha percebido, Mauricio devia andar a sofrer dessa mesma doença crónica dos meios fechados, onde quase todos se espiam para saberem quem vai para a cama com quem! Durante toda a refeição Mauricio manteve-se no seu mutismo. Apenas os seus olhos ousavam dizer-me o que a sua boca calava! E o que essa boca calava era “cazzo in culo, cazzo in culo”!

Depois desse longo e sumptuoso banquete, Mauricio acompanhou-me ao meu hotel, a pé, novamente através dessas incrivelmente animadas ruas mal iluminadas. Sob essa luz coada, Mauricio repentinamente se me assemelhou a um amante latino! Tive vontade de o beijar ali no meio da rua, levado pelo caudal de toda aquela gente feliz! Chegados ao hotel eu convido-o a subir, mas ele não podia, que receava as más línguas, que o recepcionista - tinha a certeza - nos viria escutar à porta e a espreitar pelo buraco da fechadura! Compreendi que a homosexualidade em Verona devia ser um pecado mortal, como o era em Mafra! Mas como ele estava a pedir “cazzo in culo” e eu morto de lhe satisfazer as suas continências, ao ver, mesmo em frente da porta do hotel, o páteo daquela estranha casa com aquela misteriosa varanda, perguntei-lhe se era algum museu ou casa particular? Ele explicou-me que era a varanda onde a Julieta namorava o seu Romeu. Fiquei espantado com a coincidência! Eu tinha ficado fascinado com aquela varanda quando a vira pela primeira vez! Estranho! Todo o romantismo daquela casa e daquela varanda puseram a minha tórrida imaginação em alvoroço! Quis imediatamente ser o Romeo e o Mauricio a Julieta, e dar ao Mauricio o que a Julieta nunca teve: “Cazzo in culo”! Bastou-me esticar os meus lábios frente à sua boca para ele ficar perdidamente “sessualmente eccitato”! A maior surpresa dessa noite, melhor do que o restaurante de luxo e o repasto de reis, foi descobrir que Mauricio não era quem eu julgava! Cuidado com as primeiras impressões! Revelou-se ser um amante dos mais quentes que tive. Todo ele era sofisticada luxúria! Escondidos nas trevas daquele canto do páteo, em frente dessa mítica varanda, Mauricio mostrou-me que para ele também as preliminares eram importantes! Naquele canto onde ninguém passava, descobri um homem escaldante de sensualidade! Nada arcaico, ele deusse-me com uma paixão nunca suspeitada! Enquanto ele se me entregava e eu lhe dava o que tinha de melhor! Depois dessas duas semanas de fastio, ele começou a delirar e a soluçar “Romeo, Romeo, amore mio! Bacia me! Bacia me”! Com uma paixão nunca por mim pressentida! Romeo, por seu lado, deu-lhe “cazzo in culo” como ele bem desejava e esperara! Romeu dizia à sua Julieta: “ti amo, Julieta, ti amo, ti amo”! E, a maior surpresa de todas foi, depois do Romeo ter regressado a penates, foi o Mauricio que, muito docemente, me sussurrou ao ouvido:

- “Julieta, amore mio, ora lasciatemi essere me Romeo”!

Para bom entendedor, meia palavra basta! Sempre gostei de dar e receber! Ora agora viras tu, ora agora viro eu! Quem vai à guerra dá e leva! Viagens de ida e volta! Porém, depois daquela súbita tomada, uma vez mais compreendi que não há nada melhor na vida do que “cazzo duro nel culo caldo”!

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