vendredi 2 octobre 2009
Até Nunca Mais Minha Querida Pusky!
A única recordação extremamente dolorosa desses tempos nessa Eilat, paraíso sobre a terra, foi quando o Miki me aparece em casa com um pequeno cachorro que tinha comprado na Merkaze. Um pequeno cachorrinho todo preto. Miki estava deleitado com a aquisição à qual muito rapidamente nos afeiçoámos. Era uma nova vida que nos entrava pela casa dentro. Ele passou a chamar-se Nimrod! Miki adorava-o!
Uma noite, ao tentar adormecer, escutei, vindo dos lados das obras, um ganido que me rasgou a alma. Levantei-me e fui ao encontro desse grunhido arrepiante e fui dar com um lindo cachorro, amarelado. Ele estava enfiado dentro dum daqueles canos de esgoto que iriam fazer parte da construção. Ele enviou-me aquele olhar suplicante de quem está perdido sem saber onde ir nem o que fazer para sair do seu suplício. Agarrei nele e levei-o para casa. Fui à cozinha buscar um pouco da comida do Nimrod. O Nimrod vem juntar-se a nós e imediatamente manifesta uma grande alegria de ter um companheiro com quem brincar. Depois fui para a cama e ambos os cachorros se anicharam em cima da cama dos visitantes de passagem. Quando o Miki voltou e deu com aquele novo residente ficou espantado e perguntou-me onde tinha eu ido buscar mais uma boca. Depois vai brincar com eles e travar conhecimento com o recém chegado e, subitamente, alarmado, informa-me que o meu cachorro era uma fêmea! Que, com o Nimrod, daqui a uns tempos, teríamos a casa cheia de cachorrinhos! Miki acrescenta que não era problema, que tinha de levar o Nimrod ao veterinário para o capar, que, assim, levaria ambos. Dei à minha cachorrinha o nome de Pusky.
Pusky e Nimrod cresceram juntos e eram muito amigos. Tanto o Nimrod como a Pusky se fizeram cães enormes! Íamos todos os dias com eles para grandes passeios pelo Deserto e assim quase que formávamos dum certo modo uma família. O Miki tinha um rapaz e eu tinha uma rapariga por mim adorada. Um dia a Pusky desapareceu e andei de porta em porta, por toda a parte, à sua procura sem qualquer resultado! Chorei baba e ranho durante dias. Mesmo no meu trabalho, na recepção do Malkate Shvá, por vezes, tinha de me esconder no quarto do P.B.X. para ocultar as minhas lágrimas. Era a Mrs. Neiland, que também tinha um cãozinho, que me vinha consolar. O meu tormento era insuportável, imaginando-a perdida no deserto sem nada que comer, tão infeliz como naquela noite em que a encontrara refugiada naquele cano de esgoto.
Uma tarde, porém, quando eu estava a lavar a janela da sala que dava para a rua, passou um senhor com um cão amarelo, enorme, acorrentado à sua mão. Esse cão parecia-se imenso com a Pusky. Para tirar a prova dos nove, chamei-a:
- Pusky! Pusky!
Ela arranca na minha direcção e, arrastando a sua corrente, entra-me pela janela adentro! Caímos nos braços um do outro! Apertei-a contra o peito e, desviando as lágrimas do meu rosto, agradeci a Deus de a ter posto de novo nos meus braços. O homem que a passeava chega-se à janela e exige que lhe devolva o seu cão! Eu abro-lhe a porta e digo-lhe:
- Faça favor! Está aqui à sua disposição!
Ele tentou agarrá-la pela corrente mas ela, como uma fera enraivecida, salta-lhe à goela! Eu acalmei-a e disse ao tipo que ela era minha, que se tinha perdido, mas que agora estava de volta a casa! Ele já se devia ter afeiçoado a ela como eu me tinha afeiçoado, pois que foi com um soluço na voz que se afastou dizendo-me que ela ia fazer-lhe muita falta, que era a sua única companheira...
***
O tempo foi passando com a repetição dos dias voando uns atrás do outros. Sempre o mesmo andar das coisas: o trabalho, a casa, o Garcia, o Moshé, o Sof Há’Olam, as passeatas com a Pusky e o Nimrod, o Miki, enfim, o dia a dia! Miki entretanto teve uma proposta para ir trabalhar como Director Geral dum pequeno hotel em Tel Aviv, e aceitou, que queria voltar à civilização! Sem o Miki e o Nimrod a casa pareceu ficar vazia. Além do traseiro do Garcia e do sexo-forte do Moshé, eu precisava do amor e ternura que o Miki me dispensava. Pusky também ficou triste, sempre à procura do seu Nimrod por toda a parte. A minha única alegria era a presença da Pusky e as passeatas que dávamos pelo deserto até altas horas da noite. Uma vez, quando fui à Merkaze fazer as minhas compras, com a Pusky no meu encalço, fui abordado por um militar dizendo-me que eu tinha um cão ideal para fazer dele um bom cão-polícia para o Exército. Que era uma loba do deserto! Que se alguma vez eu quisesse desfazer-me dela, que a levasse ao Centro Militar, ali em Eilat, e que pedisse para falar com Mar Shalite, que era o treinador, que ele ficaria muito contente!
No hotel as coisas começaram também a correr mal. Eu deixei de ser o bom profissional que sempre procurava ser, para me tornar num homem um pouco perdido na multidão, em busca sabia Deus de quê! As rixas com o Mr. Neiland começaram a ser demasiado frequentes. As únicas pessoas que pareciam querer dar-me a mão era a Bárbara, a Cynthia, e a Mrs. Neiland. Um dia uma disputa com o Mr. Neiland foi tão renhida que eu mandei-o à merda e deixei o hotel sem dizer adeus a ninguém. Voltei a casa e valeu-me ver a Pusky a abanar a cauda para me sentir um pouco menos desgraçado. O Moshé entretanto tinha regressado a Tel Aviv e à sua família. A Pusky ameaçada em de novo me perder! Nunca me senti tão só e desamparado!
Comecei à procura doutro trabalho e dum quarto, pois como deixara o Malkate Shvá, também tinha de deixar o Sing-Sing! Mas só havia o Tropicana e o pequeno hotel na Merkaze. Nem um nem outro precisavam dos meus serviços. Uma manhã fui ao Malkate Shvá falar com o chefe do pessoal para ele me dar o meu último cheque e, ao mesmo tempo, po-lo ao corrente dos meus problemas de emprego e albergue. Ele aconselha-me a voltar para Tel Aviv, pois que a época balnear em Eilat estava a chegar ao fim, e que, como hoteis, só o Malkate Shvá e o Tropicana. Que tinha feito um grande erro em ter mandado o Mr. Neiland à merda, que ele tinha previsto dar-me o posto do Miki. Saí do hotel com o meu cheque mas ainda mais cabisbaixo do que quando entrara. Fui ao Banco depositar o cheque e tomar um café. Depois fui para casa para tentar dormir. Eu tinha de encontrar uma saída ao meu inesperado difícil problema! A única solução era deixar Eilat e ir procurar trabalho algures. Pensei no Ginton, em Tibérias, e no Victor. Talvez eles me aceitassem de novo já como um profissional. O meu imenso problema era a Pusky! Que iria eu fazer com ela? Eu tinha que deixar Eilat e ainda nem sequer sabia onde iria parar com os ossos. Fui à Arkia perguntar se eu podia levar um cão comigo no avião, mas só autorizavam cães de raça pequena que pudessem ir ao colo do passageiro. Pusky era enorme! De autocarro seria o mesmo problema. Não aceitavam animais para viagens de oito horas! Pensei então no Mar Shalite; Talvez a deixasse com ele por algum tempo. Separar-me dela era realmente uma grande facada no amor que tinha por ela! Toda a vida amei animais e eles sempre que causaram tanta pena! Fui ao Centro Militar falar com o Mar Shalite. Ele aconselhou-me a levá-la para o Centro, para a treinar, que depois, eu podia recuperá-la. O problema do seu transporte continuava insolúvel. Só num carro privativo, mas nessa altura só havia um taxista em Eilat, e para a levar de táxi custar-me-ia uma fortuna!. Nunca soube como é que o Miki tinha levado o Nimrod para Herzelia. Não tinha a morada dele nem qualquer número de telefone onde o pudesse contactar. Não conhecia ninguém que tivesse carro que me pudesse ajudar. Pedi à Mrs. Neiland que tomasse conta dela, mas ela não podia, que já tinha um cão, que a Pusky era uma loba do deserto, portanto perigosa, e que ela vivia num quarto do hotel, que isso não lhe seria possível. Desesperado, vou até ao Centro Militar. Pusky seguiu-me, como sempre, cegamente. O Mar Shalite ficou radiante de a ver. Apercebendo-se da dor da separação, novamente procura apaziguar-me essa dor atroz que me consumia. Que a deixasse, que ele a estimaria, e que se eu voltasse para Eilat eu podia vir buscá-la. Entre a espada e a parede, não tive outra alternativa. Baixei-me, apertei-a contra mim, dei-lhe um longo beijo entre os seus olhos, onde já adivinhava uma espécie de pânico. Certamente que ela se apercebera que algo de terrível pesava sobre as nossas cabeças. Em lágrimas jurei-lhe vir buscá-la o mais brevemente possível! Mar Shalite procurou consolar-me, dizendo-me que seria por pouco tempo, que procurasse outro emprego, outra casa, que ficasse em Eilat, e que depois eu podia vir buscá-la! Acompanhou-me até ao portão do Centro, dizendo-me que fosse corajoso, que a Pusky ficava em boas mãos. Como sempre, Pusky seguiu-me! Esgueirei-me pela greta desse portão e Mar Shalite impediu Pusky de me acompanhar. Virei-me para trás e vi aquele lindo focinho entre as grades a ganir. Fiz-lhe uma festa, dei-lhe outro beijo, e fugi correndo sem parar até casa. Eu chorei, chorei, e as pessoas nas ruas olhavam-me compadecidas, sem saberem que drama me rasgava o coração em tiras! Estou certo que Pusky também chorou nesse dia!
Chegado ao Sing-Sing enchi a minha mochila com o essencial, tais como documentos e alguma roupa, e segui, quase de rastos, até à Arkia, onde apanhei o próximo avião para Tel Aviv. Olhei para trás para me despedir do Sing-Sing, onde deixara tudo quanto tanto amava. As minhas malas, as minhas pinturas, as minhas “Três Graças”, os meus móveis, o meu gira-discos, os meus discos, as minhas roupas, as minhas mais belas recordações! Dentro de mim aqueles olhos suplicantes de Pusky por detrás daquelas grades, implorando-me não a abandonar nas mãos de alguém que ela nem sequer conhecia! As minhas lágrimas corriam-me cara abaixo, estando certo que Pusky também chorava à sua maneira talvez já prisioneira numa gaiola. Eu corria, corria, eu queria chegar depressa, e ninguém me perseguia. Só a dor de ter abandonado a minha querida Pusky me esmagava a alma! Chegado ao aeroporto fui à bilheteira comprar uma ida e saber quando teria avião para Tel Aviv. Por detrás da sua grelha, talvez como a Pusky, o funcionário olhou-me surpreendido e preocupado com as minhas lágrimas. Não me fez qualquer pergunta. Limitou-se a dizer-me que o próximo avião descolaria dentro de uma hora. Estende-me um bilhete e pediu-me uma certa maquia. Fui-me esconder na sala de espera para não intrigar mais ninguém. A sala de espera estava vazia. Sentei-me, fechei os olhos e, mentalmente, falei comigo próprio. Disse a mim mesmo que arranjaria trabalho em Tel Aviv e um quarto algures, e que depois a viria buscar, nem que tivesse de pagar um taxi! Mais conformado com a minha sorte, dormitei uns momentos agarrado à minha mochila. Eventualmente ouvi os altifalantes anunciarem a aterragem dum avião chegado de Tel Aviv. Apanhei esse mesmo avião de regresso a Tel Aviv. A viagem foi curta e dolorosa. Cada instante que passava me afastava ainda mais da minha querida Pusky, lá sem mim e sem saber que sorte a esperava.
Chegado a Ramat Aviv apanhei um autocarro para Herzelia, onde, talvez, me dessem de novo trabalho no Hod. Lá chegado sou informado que Mrs. Kimche tinha ido passar um mês com a família em Inglaterra. Dei um salto à Beit Leherfel para ver se o Yoska estava. Ele estava a dormir e a sua esposa convida-me a entrar e a comer uma bucha. Ela ficou preocupada com a minha situação. Estava certa que não havia vaga para mim no Hod, que não valia a pena esperar pela Mrs. Kimche. Como o seu filho se tinha casado e ela tinha uma cama vaga, propôs-me eu lá ficar uns dias em casa deles, falar com o Yoska, e ver se eu arranjaria trabalho em Tel Aviv. Quando Yoska se levantou jantámos juntos e ele me informa que nos tempos que corriam não era mesmo nada fácil encontrar trabalho, pois que, com as fornadas de profissionais a saírem todos os anos do Tadmor, não havia trabalho que chegasse para todos. Pensei no Miki. Não sabia em que hotel ele estava a trabalhar. Como gostava de o ver e ver se ele me podia ajudar, dei um salto a sua casa em Herzelia, mas não estava ninguém em casa!
Passei três dias e três noites em casa do Yoska e depois dei um salto a Tibérias para ver se o Victor ainda trabalhava no Ginton, e se ele me podia oferecer trabalho. Lá chegado, bato com a cara na porta. O Victor já não trabalhava lá. Quando perguntei se haveria trabalho para mim a resposta foi negativa mas que o Victor tinha ido trabalhar para um hotel que tinha acabado de abrir em Zfat, e que eles precisavam de pessoal. Como Zfat era a vinte minutos de autocarro de Tibérias, apanhei um, e lá fomos estrada acima em redor daquela montanha, no cume da qual Zfat se aloja. Fui encontrar o Victor muito ocupado como chefe de recepção. Ele abriu-me os braços e disse-me, com um grande sorriso:
- Vens mesmo a tempo! Preciso desesperadamente de ti! Preciso dum bom recepcionista que me ajude a organizar este negócio!
Foi mostrar-me um pequeno quarto com uma larga janela para o imenso vale, e pede-me para me instalar. Pousei a minha mochila, organizei-me, fui provar uma farda, e no dia seguinte comecei o meu trabalho. Desde esse dia nunca mais pensei na Pusky! Fui inteiramente absorvido pela nova vida, novas responsabilidades, novas paisagens pelas quais prontamente me apaixonei. Hoje, porém, ao escrever este fragmento da minha longa e agitada vida pensei tanto nela que de novo por ela chorei. Nunca mais a vi nem dela ouvi falar. Faltei-lhe à minha promessa! Um tremendo remorso me abala! Agora, tarde demais! Agora ela já se encontra algures onde eu tenho pressa de chegar, só para a apertar contra o peito e pedir-lhe perdão! E nunca mas a deixar! Sinto-me cansado de correr para chegar a nenhum lugar! Preciso da Paz! Desse santificado Repouso Eterno!
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