samedi 24 octobre 2009
Goodbye Robin! À bientôt!
Praticamente, depois dessa noite, nunca mais vi o Robin como eu o gostaria de ter visto: nos meus braços! Aquela noite foi talvez o nosso último momento de amor às escondidas! Não quero mais falar do Robin neste meu livro!
Ainda o vi uma vez quando eu e o Pat fomos visitá-lo a Londres, em Hampstead Heath, quando ele fora transferido para Londres, a sua cidade natal. Eles moravam num belo apartamento e nessa noite fomos jantar fora. Tanto Robin como Alex, tinham perdido um pouco da sua frescura. Eu também tinha perdido da minha. Felizmente não haviam espelhos nesse luxuoso restaurante londrino!
A outra vez foi quando eu e o Pat nos juntámos e vivíamos em Londres, em Chalk Farm. Robin consegui escapar à vigilância de Alex e deu um salto a nossa casa para ver o nosso pequeno apartamento. Nessa tarde fizémos amor a três, mas não era assim que eu queria o Robin! Eu queria-o só para mim, exactamente como o Alex!
Outra vez, anos mais tarde, quando morávamos em Villejuif, Robin veio a Paris para tratar de assuntos do Banco Mundial. Ele viajava sozinho e estava hospedado num hotel em Paris. Ele veio jantar connosco e levámo-lo a jantar no melhor restaurante desses tempos. Passámos uma noite simpática, mas beijos não foram trocados. Depois do jantar Pat levou-o ao seu hotel em Paris e tudo ficou por aí!
A última vez que vi o meu tão querido Robin, foi recentemente. Foi nesta casa aqui em Meudon, ao pé desta janela através da qual se lobriga a Torre Eiffel, onde estou, neste mesmíssimo momento a escrever estas linhas, que o vi pela última vez! Nós trocámos alguns mails durante algum tempo. Através desses mails fui sabendo que Robin se tinha reformado, que estava com uma terrível doença incurável – Parkinson – que brevemente ia fazer anos e que gostaria de festejar esse acontecimento comigo, em Meudon.
Foi precisamente em Meudon, num belo restaurante à beira dum lago, que festejámos o seu aniversário! Eu tinha encomendado um bolo de aniversário para ele, mas esse bolo foi totalmente esquecido pelo “maitre d’hotel” e o Robin nunca lhe pôs os olhos em cima!
Ele e o Alex passaram dez dias connosco em Meudon. Pat levou-os a mostrar Paris e eu ficava em casa porque já deitava Paris pelos olhos, e porque já andava a escrever este meu livro. Robin passava quase todo o tempo em casa num sofá ao canto da nossa sala, mesmo ao pé da grande janela que dá para a varanda e, nessas alturas, eu, sentado num sofá em frente do dele, via-o ler página após página, esse pesado livro que ele segurava nas suas já trémulas bonitas mãos. De vez em quando ele levantava os olhos do seu livro e mergulhava-os nos meus. Nos seus olhos eu via o que ia na sua mente. Nos seus olhos eu vi o desejo de me ter nos seus braços e recordar momentos do nosso passado. Nos seus olhos eu vi uma vida que devíamos ter vivido juntos, mas o destino decidira que esse não tinha sido o nosso destino!
Quando eles regressaram a Londres, Pat conduzi-os ao Aeroporto de Orly. Eu fiquei em casa a escrevinhar. Acompanhei-os só até ao ascensor. Quando a porta se fechou os nossos olhos cruzaram-se pela última vez. Neles eu vi o nosso último adeus! Ainda fui à varanda acenar um outro adeus. Robin, antes de entrar no carro, ainda me olhou mais uns instantes. Depois sentou-se no seu lugar e o carro seguiu viagem. Duas semanas mais tarde recebi um mail do Alex com uma única frase:
“Robin est mort”!
Não quero nunca mais ouvir falar do Robin nem escrever seja o que for sobre ele! Espero apenas que ele esteja algures à minha espera, lado a lado com tantos outros que tanto amei e me deixaram sem eles neste mundo degradante em que se vive nos tempos que correm! Espera por mim, Robin!
La Vie en Rose
Já me encontrava no hall do hotel à espera do Robin, quando ele chegou. Ele limitou-se a acenar-me entre portas, convidando-me a segui-lo! Levantei-me e segui-o até ao carro, onde o Alex, sentado ao lado do volante, nos esperava. Robin sentou-se ao volante e pôs o motor em marcha. Alex, como sempre, parecia um sorumbático sem nada que dizer! Robin arrancou e começou os seus comentários acerca dos sítios por onde íamos passando. Olhando sempre em frente, Alex continuava mudo como um monge deitado na sua cela, fazendo mentalmente as suas orações ou as suas blasfémias. Resolvi então ignorar totalmente o Alex e dedicar toda a minha atenção ao Robin, que era esse que eu tinha vindo visitar, não o seu consorte! Com sorte, sim! Pois foi ele que tinha ocupado o meu lugar na vida do Robin que, antes de ter deixado Israel me tinha proposto vivermos e trabalhar juntos. A viagem decorreu alegremente, a despeito da pronunciada ausência do Alex. Visitámos pequenas povoações e grandes cidades como Lausana. Parámos frequentemente para aliviar a bexiga ou para matarmos o bicho e, sobretudo, ver a Suiça desfilar ante os meus olhos para além da minha janela, sentado atrás, nesse carro que Robin conduzia com grande destreza e contentamento.
De regresso a Genève, já ao anoitecer, depois dum aperitivo em casa do Robin, voltámos a sair. Fomos jantar a um belo restaurante à beira do lago e, depois, levaram-me a um clube chamado “La Vie en Rose”, que era, indubitavelmente, um clube “gay”! Aí confraternizámos com muita gente interessante, tomaram-se uns whiskies, e alguns dançaram. Era evidente que Robin desejou ter-me nos seus braços para um “slow”, mas nunca ousou, questão da presença do Alex! Depois levaram-me até ao hotel. Eles não desceram do carro. Através da janela do Robin, a sua bela cabeça loira como que decapitada pelo vidro dessa janela semi-aberta, Robin despediu-se de mim. Que, no dia seguinte, tomaria um avião para Manhattan, numa viagem de negócios a ver com o Banco Mundial. Desejou-me boa viagem até Lisboa e que depois, um dia, nos voltaríamos a ver! Claro que nessa noite, ambos teríamos preferido ter passado a noite juntos, mas a presença do possessivo Alex deitou tudo por água abaixo! Depois dum breve beijo na boca separámo-nos. O Alex limitou-se a desejar-me boa noite!
vendredi 23 octobre 2009
A desvaiarada vingança de Mark!
Ainda era madrugada, bateram à porta do meu quarto, arrancando-me aos braços de Morfeu! Estremunhado, pensando que era alguma criada de quarto ou o Robin para uma rápida, entreabri e um homem muito robusto empurra-me violentamente para dentro do quarto! Tranca a porta, pondo na maçaneta do exterior, o famoso aviso: “Please do not Disturb”! Eu caí das núvens e um grande cagaço se apoderou de mim! Era o amigo do Valentino! Se calhar este brutamontes vai-me partir a cara! Ele porém limita-se a despir-se e, desorientadamente, atira-se para cima da minha cama e ordena-me:
- T’a baisé mon copain ! Maintenant mon tour ! Baise-moi ! Et tout de suite!
Deita-se sobre o ventre e aponta-me aquele sólido cu de atleta à espera do meu dardo! O meu dardo perdeu o medo e, orgulhosamente, ergueu a sua cabeça e, mesmo assim, um tanto amedrontado, montou o enraivecido macho! Antes de mais nada admirei a sua beleza física, aqueles belos costados! Cinicamente pensei comigo mesmo: por fora é bom! Vamos lá agora saber como é ele por dentro! Comecemos pelo intestino grosso! Fui buscar a minha bolsa dos meus cosméticos e saquei o mais importante de todos naquele preciso instante: a vaselina! Quando o penetrei percebi que o Mark, que era americano, também falava Inglês com esse seu sotaque de não sei de que Estado, quando ele quase berrou:
- Go ahead, bastard! Fuck me as good as you did fuck Valentino!
Forniquei aquela besta brava com todas as minhas ganas. Era o que querias? Toma lá! E como muito gosto! Porém, enquanto eu me vingava do Robin em cima daquele belo corpo de atleta, procurava compreender como é que Mark tinha sabido da minha banhoca com o Valentino na casa de banho do Geremy! Teria sido o Valentino? Algum dos outros convidados? Certamente que não fora o Geremy! Nunca o saberia! A única coisa de que estou certo é que foi realmente uma das mais inesquecíveis fodas da minha já tão plenamente preenchida existência! Penso que, fodas como aquela, só uma me seria dado dar nesta vida que começa a chegar ao seu termo!
Quando desci de cima desse machão que se me deu como uma fêmea nos píncaros do seu cio, raiva, vingança, Mark levantou-se, vestiu-se, e saiu, batendo com a porta, sem dizer uma única palavra! Atónito com tudo que se passara, olhei para a minha desmanchada cama ainda com a bolsa dos meus cosméticos ali abandonada às três pancadas e, Santo Deus! Agora recordo! Eu afinal trazia uma máquina fotográfica na minha bagagem,! Pois que foi com ela que eu fotografei essa arena das muitas bandarilhadas!
Depois de me ter recomposto deste insólito incidente, entrei na casa de banho, com a minha bolsa dos cosméticos, e fiz-me bonito para descer e tomar o meu pequeno almoço. Eu tinha de estar pronto às dez, quando o Robin me viria buscar para uma pequena viagem pela Suiça!
Il culo più bello del mondo!!!
Depois dos “drinks” no bar, mais alguns acepipes, e alguma algazarra. As luzes baixaram e a música alteou-se! Os pares não tardaram a enlaçarem-se no meio do recinto. Para minha grande surpresa comecei a notar que haviam mulheres que dançavam com outras mulheres, e homens que dançavam com outros homens. Não desperdicei a ocasião e oportunidade e fui buscar o Valentino para dançar. Como ele era italiano e eu tinha aprendido bastante da sua língua no seu país, durante um longo “slow”, comecei a aconchegá-lo contra mim e a sussurar-lhe aos ouvidos doçuras que tinha aprendido com o Tino, em Genebra. Ele imediatamente correspondeu, tanto no fraseado, como na roçadela. Ele encostou romanticamente a sua cabeça sobre o meu ombro e os nossos enchumaços começaram gradualmente a enriquecerem-se e a esmagarem-se um contra o outro, numa entrega recíproca. Como ele tinha uma daquelas bocas generosamente rubra e mendiga, não resisti à tentação e mordi-lhe docemente os seus grossos lábios que se renderam aos meus com escaldante paixão. A sua língu aprocurava a minha e a minha abria-lhe os braços! Receei chocar os outros dançarinos mas, antes pelo contrário, eles seguiram o nosso exemplo. Às tantas Geremy tocou-me no ombro e segredou-me ao ouvido que estava tudo muito bem, que eram assim os seus “parties”, mas que tivesse cuidado, que o Valentino vivia com um americano muito robusto, muito desportivo, e muito ciumento! Que tivesse cuidado que ele devia estar a chegar! Valentino escutou atentamente essas muitas prevenções e, apertando-me fortemente nos seus braços, disse-me ao ouvido:
- Non abbiamo molto tempo! Vieni con me al bagno! Voglio il tuo cazzo dentro di me!
Ele afasta-se na direção do corredor e eu, obediente e submisso, seguio-o em silêncio. Ao fundo ele corredor ele penetra numa grande casa de banho cheia de apetrechos e, logo que eu também entrei, fechou nervosamente a porta à chave. Ele atirou-se a mim como um grande adepto da luta-livre a querer ganhar o combate! E implora:
- Veloce! Non abbiamo tempo da perdere!
Numa questão de segundos encontrámo-nos ambos calças abaixo, deitados sobre o grande tapete junto à banheira. Valentino volta-se e põe à minha disposoção “il meglio di sua madre gli aveva dato: il culo”! Como Robin me tinha recusado o seu havia pouco, era a ocasião de eu me vingar de tal afronta! Enquanto cavalgava desenfreadamente o ardente e garboso Valentino, Geremy bate docemente com as nozes dos dedos na porta e segreda muito cuidadosamente:
- Valentin! Dépêche toi! Mark est arrivé!
Valentino mostrou-se verdadeiramente alarmado, quase em pânico, e roga-me :
- Robi! Rapidamente! Voglio il tuo sperma dentro di me!
O que ele me pedia era o que eu mais lhe queria dar! Acelerei o passo e cheguei triunfalmente à meta divina das maoires de todas as dádivas da vida: um violento orgasmo! Ambos gememos de um prazer infinito, mas rapidamente nos compusémos. Valentino entreabriu a porta e espreitou cautelosamente o corredor e afastou-se come se tivesse acabado simplesmente de urinar. Eu, muito cuidadosamente, segui-o pouco depois. Ao regressar à sala vou dar com o Valentino a dançar com um matulão de respeito. Ele era grande, desportivo, musculoso, e com um evidente ar de sadomasochista. Fiquei um tanto pouco à vontade e não sabia o que fazer da minha despejada pessoa. Pretendi ir petiscar ao bar e tomar mais umas goladas dessa bebida que muito aprecio e que havia lá à vontade: “sangria”. Acendi um cigarro e observei as pessoas que fingiam divertirem-se. Para bem dos meus pecados batem à porta. Era o Robin. Não se poderia demorar porque o Alex tinha ficado no carro! Peguei no meu casaco, acenei um grande “até breve e muito obrigado” a todos os presentes, e desci com o Robin. Chegados ao carro perguntei como tinha sido o concerto. O Robin disse-me que tinha sido fabuloso, que Rubinstein era um génio! Alex nem sequer se deu ao trabalho de abrir o bico! Depuseram-me em frente do hotel e seguiram viagem. Eu pedi a minha chave, subi, meti-me na cama, e dormi que nem um tipo normal que tinha passado um bom serão e dado uma boa foda!
Vive la Fête! Vive la Nuit! Vive la Vie!
Chegado lá acima ao apartamento do amigo do Robin, fiquei encantado com o dono da casa. Era realmente um homem charmoso! Entrámos e ainda nos foi oferecido mais uma bebida. A sala era enorme e já estava toda decorada para a recepção dessa noite. As luzes eram foscas e a música de fundo muito suave. Robin e Alex foram de assalto a essa grande sala de Genève, para esse grande concerto do célebre Arthur Rubinstein. Eu fiquei com o Geremy e sua esposa, os organizadores dessa garrida “soirée”! Ainda vim a tempo para lhes dar uma pequena ajuda para alguns preparativos ainda não realizados. Geremy era um homem bastante jovem e jovial, e sua esposa o protótipo da esposa submissa. Não tardou que a campaínha da porta começasse a soar com a chegada dos primeiros convidados. Os primeiros casais que chegaram vinham todos aperaltados e eu, pobre de mim, com uns “jeans” que tinham sido lavados à pressa no dia anterior. Eram casais un tanto bizarros, pois que haviam grandes diferenças de idade entre eles. Dava-me a impressão que eram banqueiros com as suas aventuras extra-conjugais. Haviam também senhoras muito distintas com jovens Romeos. Pensei que, como não pude ir ouvir o Rubinstein, ao menos tinha ali uma fauna bastante diversa para eu estudar. Vieram também alguns solitários tal como o Valentino, um italiano que era criado de mesa num restaurante com especialidades do seu país. Engracei com o rapaz! Era alto e moreno, bem musculado, umas calças muitos justas e bem enchumaçadas e, sobretudo, umas nádegas muito bem torneadas! Pareceu-me que tinha sido recíproco, pois que os seus olhos pareciam constantemente procurar os meus.
Sovacos - O seu lúbrico fantasma
No outro dia de manhã desci para o pequeno almoço e depois fui dar uma volta a pé pelas redondezas. Ao regressar, quando fui à recepção buscar a minha chave, foi-me entregue uma mensagem do Robin informando-me que ele tinha reservado o meu quarto com meia-pensão, que almoçasse sempre no hotel e que depois jantaríamos todos juntos e que, sobretudo, que eu estivesse no meu quarto nesse mesmo dia entre o meio-dia e as duas da tarde, que ele viria almoçar comigo. As coisas pareciam-me acontecer umas atrás das soutras com um ritmo demasiado acelerado! Como me tinha sido solicitado, ao meio-dia subi ao meu quarto. Poucos minutos depois batem-me à porta. Abro, era o Robin pedindo-me se podia tomar um banho antes de descermos para almoçar. Preparei-lhe um banho enquanto ele se despia e se punha à vontade. Foi dito e feito! Ainda a banheira não estava cheia já o Robin se instalara acariciando-se todo. Pediu-me para me juntar a ele. Claro que aceitei o convite. Eu estava ansioso de repetir aquele nosso primeiro banho em Herzelia! Quando comecei a desabotoar a minha camisa ele pede-me que eu entre na banheira todo vestido. Como nunca tinha experimentado tal lida, limitei-me a tirar os sapatos e entrei na banheira. Ele força-me a mergulhar e é dentro do banho que ele me desabotoa. Como no passado, a primeira coisa que ele buscava no meu corpo eram os sovacos. Ele sempre me pedira que nunca me lavasse antes de nos reunirmos para as nossas volúpias sempre um tanto desabridas. Lamber os meus sovacos era sempre a sua primeira preliminar. Foi semi nu e encharcado que ele furiosamente me possuiu! Graças à minha mala eu tinha outras roupas bem dobradas para poder descer para almoçar. Ele entretanto enchugara-se e deitara-se sobre a minha cama todo nu, sempre acariciando-se sensualmente. Quando me vi livre da minha roupa molhada, enxuguei-me. Quando comecei a vestir-me de lavado, ele chama-me, que me aproximasse, que me queria dizer um segredo. Eu calculei o que viria a ser o seu segredo. Para mim os seus segredos já não eram segredos nenhuns para mim. Quando me inclinei para escutar o seu pseudo-segredo a sua boca agarrou na minha e eu caí-lhe em cima. Os nossos corpos, ambos nus, à mercê um do outro, os nossos sexos encontraram-se e entrelaçaram-se. Possuído duma vontade louca de o conhecer por dentro, procurei voltá-lo para ter acesso às suas belas brancas nádegas. Ele recusou, que era ele o homem! E, para o provar, deitou-se sobre mim, comeu-me a boca com beijos canibais, quase antropófagos! Ergueu as minhas pernas e penetrou-me uma vez mais com a sua habitual euforia. Depois dum outro estridente orgasmo volta à casa de banho e ordena-me que me vista, que tínhamos de descer, que íamos lá abaixo almoçar, que tinha de estar de volta no seu emprego às duas da tarde o mais tardar! Descemos e almoçámos e, entretanto, ele informa-me que nessa noite iria a um concerto com o Alex, e que só tinha dois bilhetes! Que tinha tentado comprar outro bilhete para mim, mas que já estava a lotação esgotada! Que, como nessa noite, um amigo deles dava um party na sua casa e os tinha convidado, que ele me levaria a sua casa para eu passar o serão com ele, que depois do concerto ele viria buscar-me para me levar ao hotel. Que, depois do almoço eu desse uma volta, e que estivesse no hotel por volta das cinco da tarde, que ele me levaria a casa desse seu amigo muito festivo. Dei uma grande volta ao longo do lago, depois fui até ao centro da cidade ver montras e, às cinco, estava de volta no hotel. Não tardou que Robin aparecesse. Fomos no seu carro até sua casa para uma bucha com o Alex, e depois foram-me pôr na tal casa do tal serão. Depois seguiram para o seu concerto!
Ninho de amor do Robin e do Alex
Nessa mesma tarde visitei o belíssimo apartamento com vista sobre o lago, e foi-me apresentado o seu amigo Alex, com quem ele se tinha estabelecido. Claro que não se falou dos nossos tempos de Israel, de Herzelia, do Hod Hotel, e de todas a nossas mutuas promessas! Como o seu amigo não contava com visitas para jantar, fomos todos a um belo restaurante onde estivémos até à meia-noite. Comeu-se muito e ainda se bebeu muito mais! Falou-se de muita coisa mas nunca do desejo que o Robin tivera que eu tivesse podido reunir-me a ele em Genebra, como um amoroso casal de pombos arrulhando. Depois do jantar Robin acompanhou-me ao hotel mas não subiu. Seguiu para casa com o seu Alex, dizendo-me antes departir, que iríamos os três passar o fim de semana juntos. Que no dia seguinta ainda tinha que trabalhar o dia todo, mas que depois me mostraria um pouco da Suiça. Nessa noite dormi bem e sonhei com o Robin. Sonhei que Alex não existia, e que eu teria o meu fogoso Robin só para mim naquele sumptuoso apartamento!
Os primeiros suculents beijos
Pediu-me para ir ver o meu quarto no hotel, penso que para “matar saudades”! Ao chegarmos lá ele ficou chocado com a penúria dos meus aposentos! Imediatamente, após alguns suculentos beijos, pede-me que agarre na minha mala, que ele - como eu não podia ser seu convidado na sua casa - que me pagaria a minha estadia num hotel mais decente. Eu peguei na minha mala e descemos. Robin pagou o meu quarto e, dois passos mais adianta, pegou no seu carro e levou-me a um hotel frente ao repuxo do Lago de Léman. Pediu-me para o aguardar um pouco no carro, e foi perguntar se haviam vagas. Haviam vagas e sumbimos a um terceiro andar onde um quarto de luxo nos aguardava. O quarto tinha uma pequena varanda que dava para o lago. Fiquei maravilhado com a grande diferença de se ter e não se ter diheiro! Pensei que com dinheiro a loiça era outra! Fiquei radiante e logo comecei a achar Genebra um pequeno paraíso de milionários. Essa cidade onde, tinha ouvido dizer, as finanças do mundo inteiro procuravam refúgio aos impostos de todos esses paises donde elas vinham! Genebra, um dos mais poderosos Paraísos Fiscais! Eu não tinha nenhumas fortunas a depositar, a investir, mas tinha tanto amor a dar a todos aqueles de dele precisassem!
Robin, sem demora, sentiu-se mais à vontade e no ambiente que mais correspondia ao seu nível de pessoa importante. Mas o mais importante para mim, nesse momento, era estrear aquela larga cama com aquele belo e saudoso corpo que me tinha feito tanta falta durante uma muito longa ausência dos seus impetuosos abraços! Mal eu pousara a minha mala, Robin atira com as chaves do carro para cima dum móvel do quarto, mesmo à entrada e, desastradamente, arranca as minhas roupas e depois as suas! Pega-me ao colo, abre a cama num rasgo de desejo mal contido, e mergulhámos ambos, não nas plácidas águas do Lago Léman, mas sim naqueles lisos lençóis que iriam descobrir do que dois homens em cio são capazes! Robin vigorosamente me aprisiona nos seus braços e apossousse do meu corpo todo como se fora um raivoso lobo sobre uma desprevenida presa! A presa não se fez rogar! Deixou-se devorar por fora e por dentro e sempre a pedir mais! Mais e mais! Pois que a vida é tão absurdamente curta, que tem de ser gozada até ao último pingo de esperma! Pensei no Alberto...
Depois da grande explosão, Robin pega no telefone e pede um número. Falou em alemão. Não percebi do que falavam, mas logo que ele pousou o auscultador, vira-se para mim e, em Hebraico, diz-me entusiasticamente que estávamos ambos livres para o que desse e viesse! Conhecendo o seu apetite, pensei que íamos ter muitos mais empreendimentos maritais! Enganei-me! Ele meteu-se na casa de banho, tomou um duche, e reapareceu-me já completamente vestido. Sentou-se uns momentos na borda da cama e pôs-me ao corrente do seu programa para essa mesma noite. Levar-me-ia a sua casa para me mostrar os seus aposentos e apresenr-me o seu companheiro. Que, na sua presença, nada de intimidades, que ele era possessivo como uma cria com os seus filhotes!
jeudi 22 octobre 2009
Bonjour Genève! Me voici enfin!!!
Na manhã seguinte, não tempo a perder! Fui de corrida dizer adeus à patroa do Café e tomar o meu pequeno almoço de borla e, logo a seguir, arrastar a minha mala até à estação ferroviária. O combóio já lá estava à minha espera! E todos os outros que partiam até à Suiça, pois que esse combóio era directo! A viagem foi calma demais para os meus gostos. Nenhum fantasma atrás de mim. Penso que ninguém mesmo reparou que eu ali estava, sentadinho no meu lugar, a ler um jornal italiano para desemburrar um pouco mais nessa tão musical língua . Além de se fazerem muitos gestos para a falar, quando ela nos sai da boca é “quasi cantata”! Como havia uma carruagem-restaurante, restaurei-me de vez em quando para matar a fome e tempo, abrindo os cordões à bolsa ou, melhor, pescando algumas liras dormitando na minha peúga! Como tinha querido fazer uma grande surpresa ao Robin, não anunciei a minha chegada. Pedi apenas a Deus que ele lá estivesse, algures em Genebra, ocupado com o seu trabalho, mas à minha espera! Depois de muitos quilómetros de ver desfilar a paisagem através da minha janela, à hora prevista, chegámos a Genebra. A primeira impressão foi de desapontamento. Era uma cidade igual a tantas outras que eu tivera oportunidade de visitar, excluindo as italianas que, todas, duma forma geral, tinham uma “alma”! Genebra pareceu-me enregelada e totalmente indiferente ao que se passava à sua volta. A primeira coisa que fiz, claro, foi encontrar ali perto uma modesta pensão onde pudesse albergar a minha mala. Isso feito, desci e entrei num Café para tomar mais uma bica. Pedi para telefonar, mas eles indicaram-me a cabine pública ali mesmo em frente, explicando-me como a utilizar. Fui a essa cabine e fiz o número do Robin. Pensei que iria ter problemas para o encontrar, mas não! Foi ele mesmo quem respondeu! Reconheceu a minha voz e, muito exaltado, pergunta-me donde lhe falava. Quando lhe disse que era de Genebra ele ficou ainda mais excitado! Pergutou-me a morada e, como eu tinha tomado nota da dita, soletrei-lha! Dei-lhe também o nome do Café onde me encontrava e ele, sendo já cliente assíduo desse dito Café, pediu-me para o aguardar, que ele viria tomar um copo comigo! Momentos depois ele ali estava! O meu Robin! Mais belo do que nunca! A maturidade dera-lhe ainda mais sabor ao seu sorriso, à sua voz, ao brilho dos seus olhos! Caímos nos braços um do outro! Enquanto que, sentados àquela mesa junto à montra vendo passar as pessoas apressadas, cumprindo os seus destinos, Robin contou-me o que tinha feito desde que chegara a Genebra. Estava com um alto cargo no Banco Mundial, que tinha um belo apartamente em Genebra, mesmo frente ao lago, mas que, infelizmente, ele não me poderia propor a sua casa, pois que vivia com um rapaz que era muito ciumento, e que não estaríamos à vontade.
mercredi 21 octobre 2009
Torino! Eccomi di nuovo!
Chegado a Torino, fui logo de seguida à tal pensão no segundo andar. Tudo correu bem, desta vez tive um quarto para a praça, que era, à noite, bastante barulhenta! Antes de pensar em jantar voltei à estação indagar quando teria eu combóio para Genebra na manhã seguinte. Tinha um por volta das dez. Depois de uma passeata para matar saudades de Torino, decidido a ir para a cama cedo para me levantar cedo, passei pelo Café/Restaurante para dizer “buona sera” à patroa. Ela, quando me viu, soltou um gritinho e exclamou:
- Sono contenta di revederti! Ho del lavoro da fare per te! Quanto tempo?
Expliquei-lhe que estava apenas de pasagem, que apanharia um combóio na manhã seguinte, para Genebra! Ela deu-mme uma palmadinha nas costas e convida-me a entrar na cozinha.
- Vieni ragazzo! Hanno qualcosa da mangiare!
Jantei sozinho numa das mesas da cozinha, levando de vez em quando alguns encontrões do muito atarefado pessoal da cozinha, que conhecera quando dos dias que lá trabalhara. Alguns fizeram-me muita festa, outros continuaram a fazer os seus refogados, sem prestarem grande atenção à minha pessoa! Quando acabei de jantar propus lavar uns paratinhos mas ela mandou-me para a cama.
- Vai a letto! Bisogna alzarsi molto presto domani!
Despedime de todos e fui dar uma voltinha por Torino antes de ir para a cama com o estômago demasiado cheio. Nessa noite dormi que nem um “cazzo” depois dum longo labor!
As Vielas dos "albergos"
Depois duma curta espera, lá embarquei nesse pequeno vapor a transbordar de turistas, a caminho do centro da cidade. Eu, no meu caso, em busca dum hotel onde pudesse passar a noite, para poder deliciar-me com o tal poente que o Mauricio me tinha recomendado. Ao desembarcar perguntei a um transeunte onde poderia encontrar um hotel. Ele disse-me que os hotéis mais ao nível da minha bolsa, se encontravam espalhados por essas estreitas ruas por detrás dos canais. Enveredei por essas vielas e descubro um ambiente de Alfama veneziana. Bati a todas as portas onde estava escrita a palavra “albergo”, mas nenhum deles tinha um quarto disponável, que fosse ver nos grandes hoteis da praça principal. Ora todos esses hoteis que eu tinha distraidamente passado, todos hotéis de 3/4 estrelas, eram demasiado imperiais para o meu pé de meia ou, melhor, para as minhas economias de peúgas! Aflito, como não podia lá passar a noite, entro na Estação Ferroviária e indago acerca dos horários dos combóios. O último a partir de Veneza para Torino estava previsto para as quatro da tarde! Pensei talvez dar um salto a Pádova, que era ali bem perto, mas com a insegurança das minhas poucas finanças, resolvi seguir directamente de novo para Torino. Tinha o meu bilhete pago em Tel Aviv, e tinha a tal pensão baratucha e aquele Café/Restaurante onde tinha trabalhado quase duas semanas. Talvez a patroa me oferecesse jantar. Aguardei alguns momentos e apanhei o próximo cimbóio que já estava na gare, na linha 4, indicando Torino – 16.45!
Braços - Parapeitos de Pombos!
Depois de ter acabado o meu almoço e apreciado todos aqueles andarilhos em busca de recordações para levarem para casa, como eu, que as únicas recordações que trouxe foram todas estas de que agora vos falo, levantei-me para apanhar um vapor que me levasse ao centro da cidade para procurar hotel para ficar ao menos uma noite.
Um incidente que me ficaria gravado na memória para todo o sempre, foi quando eu caminhava na direcção do porto de embarque, fui abordado por uma italiana perguntando-me se eu tinha visto ali perto um fotógrafo ambulante. Olhei em derredor e quando vislubrei um que podia ser o que essa senhora tão ansiosamente procurava, estendi um braço para lhe apontar esse possível famigerado fotógrafo, o meu braço ficou coberto de pombos duma ponta a outra, julgando, penso, que eu lhes oferecia uma mão cheia de migalhas para eles devorarem. Que pena que um desses fotógrafos não tenha fotografado esse singular instante da minha já tão bem preenchida longa vida de saltimbanco. Adoraria possuir hoje, dentro duma das minhas muitas caixas e caixotes a abarrotarem de recordações desta minha atribulada vida de cigano, acartando pelo mundo a minha solitária caravana sempre em busca doutras paisagens, outras culturas, outras línguas, outros braços, outras camas!
A Praça de São Marcos, a Divina!
Ao meio da tarde, depois de ter embebedado os olhos com tanta beleza, decidi ir comer alguma coisa à Praça de São Marcos. Ao chegar lá, uma vez mais, a minha sensibilidade foi fustigada por uma chapada de “belo”! De indiscritível e inesquecível beleza arquitectónica! O Palácio dos Doges! A Basílica de São Marcos! Aquela vasta “piazza” esmaga-nos com todo aquele passado histórico, o qual gostaríamos de ter vivido! Todos os montros que se fazem por esse mundo fora nos tempos que correm, são um degradante insulto a toda essa beleza do Passado! Na Praça de São São Marcos não se respira ar, respira-se Arte! Sentado naquela esplanada dessa romântica Praça que transpira poesia, enquanto chupava o meu “Spaghetti-Bolognese”, fui bombardeado por pombos, assim como pelos seus rejeites! Pensei no Mauricio e no seu desejo de ali comigo estar para esse envolvente poente veneziano, disfrutado ali dessa magnificente praça pública que nos abraça e nos estrafega com o peso de séculos de história, ao ponto de, por vezes, sentirmo-nos transportados a épocas há muito já volvidas! Enquanto sorvia o meu spaghetti e observava a fauna que se movia nessa praça como ondas dum mar revolto, atirando de vez em quando algumas migalhas do meu “panini” aos esfaimados pombos que me tinham tomado por um padeiro ao domicílio, analisava o comportamento desses turistas vindos de todos os países. A maioria eram americanos já trajando as suas folclóricas indumentárias! Todos de ridículos chapéuzinhos, máquinas fotográficas à tiracolo, charuto entalado nas beiçolas, a atirarem aos quatro ventos os milhares de dóllars que possuem, fazendo deles uma espécie de empertigados senhores de inabalável arrogância! As senhoras todas de brincos até às clavículas e as mãos donde pendiam todas as compras que tinham feito para prendarem e deslumbrarem todos os seus amigos e familiares. Haviam, claro, turistas de muitos outros paises que se comportavam como gente, mas não ainda esta agressão de turistas japoneses a passearem o seu exotismo e a dispararem os seus minúsculos aparelhos digitais, a fotografarem tudo o que lhes passa pela frente! Infelizmente eu não tinha Kodak nenhuma para fotografar os meus correspondentes e sítios maravilhosos que me mostraram mas, nesses tempos, só quem tinha máquina fotográfica eram os americanos. Eu tinha apenas aqueles fotógrafos ambulantes que andavam pelos passeios de Veneza, com o seu aparelho a cavalo no seu tripé. Hoje lamento não ter usado os seus serviços para me fazerem uma foto na Praça de São Marcos, para agora vos poder mostrar!
Adeus Veneza! Até Quando?
No outro dia de manhã paguei o hotel, peguei no meu saco, e fui apanhar um combóio para Veneza. A viagem foi relativamente curta e agradável. Veneza apareceu-me como um deslumbramento, mas um pouco desiludido com a poluição. As águas dos canais não eram límpidas e verde-alga como as tinha imaginado. Eram acastanhadas, por vezes mesmo, lembraram-me impúdicos esgotos abertos ao público! A única vez que deslizei numa gôndola, uma dona de casa despejou para o canal um balde de água barrenta, penso que depois de ter lavado os seus soalhos. Essa pequena enxurrada sujou-me a minha bela camisa que tinha comprado em Tel Aviv, na Dizengoff, para a minha grande viagem pela Europa! Com a ajuda da brisa, ela secou rapidamente e, assim, consegui ainda gozar aquele meu único percurso de gôndola, gozando aquela soberba romântica aventura! Não apenas os canais e os barrocos edifícios que dela imergiam mas, sobretudo, aquele magnífico corpo daquele “belissimo gondoliere”! Por vezes, nas ruas de Veneza, eram eles que os meus olhos buscavam obsecadamente! Foram eles quem mais fizeram fantasiar os meus fantasmas, sobretudo os mais maqiavélicos, aqueles da minha adolescência, em Mafra, de todos aqueles uniformes vadeando pelas ruas! Por vezes cheguei a desejar que essa minha insalubre sensualidade sofresse de vez em quando insólitas insónias! Dar férias de tempos a tempos ao meu ninfómano “cazzo”!
Claro que adorei ter visitado Veneza, ter visto todos aqueles canais dum espantoso romantismo, aquelas casas que, como num conto de fadas, albergariam a bruxa má e, sobretudo, aqueles gondoleiros, garbosas silhuetas desses malvados gondoleiros que faziam do meu pescoço um saca-rolhas! Cheguei mesmo a pensar comigo mesmo que a próxima vez que viesse a Veneza, trazeria comigo óculos escuros com retrovisor!
mardi 20 octobre 2009
Romeus e Julietas
Depois desse tardio passeio, Mauricio foi a casa mudar de roupa e tratar da “sua mamma”, que eu jantasse sozinho, algures, que me viria procurar ao hotel por volta das dez da noite para uma “passeggiata”! Nessa noite não jantei. Contentei-me com um “panino” e um café! Para fazer horas, atravessei aquela ponte romana e passeei solitariamente ao longo do canal. A noite começou a descer e as luzes a acenderem-se, e pessoas a sairem de suas casas para também, penso, “una passeggiata”! Por volta das dez regressei ao hotel e subi ao meu quarto para me lavar um pouco e fazer-me bonito. Às dez desci e ocupei o meu velho cadeirão perto da janela. Como prevera, Mauricio chegou a horas. Fomos dar um passeio pelas velhas ruas agora a abrrotar de gente que ria e falava alto. Vimos algumas montras e, depois, sentámo-nos num Café para uma pequena e amena conversa. Falou-me muito da sua solidão, mas nem uma palavra acerca do seu trabalho ou planos de futuro. Penso que o seu único plano seria aguardar que “la mamma”subisse aos céus e, logo a seguir, a sua ansiada partida para Roma, para viver a sua vida mais abertamente. Eu falei-lhe dos meus projectos. Que gostaria de dar um salto até Veneza antes de apanhar um combóio até Genebra. Ele recomendou-me Veneza etusiasticamente. Que devia lá ir e passar uma noite, para ver esse mágico espectáculo dum pôr-de-sol na Praça de São Marcos! Que gostaria de vir comigo, mas que não podia, por causa das suas obrigações profissionais. Que também não poderia tirar mais tardes, que o inesquecível prazer de estar comigo teria de ser efémero! Que talvez um dia eu pudesse voltar para passar uns tempos com ele em Roma. Depois ofereceu-se para me acompanhar ao meu hotel. Lá chegados, como previra, ele empurrou-me docemente para dentro do páteo de Romeo. Foram os nossos derradeiros momentos de intimdade! Ele, repentinamente, enlaçou-me muito cerradamente, pôs a sua cabeça sobre o meu ombro, e chorou, dizendo-me que se apaixonara por mim e que gostaria de me guardar para todo o sempre! Por momentos receei que a nossa curta história de amor acabasse tão tragicamente como aquela que inspirara Shakespear! Nunca saberei ao certo se Romeo e Julieta realmente alguma vez existiram mas, pelo seu excepcional romantismo, decidi que, para mim, eles existiram um dia, assim como esta fugidia paixão entre mim e o Mauricio, do qual nunca mais soube nada!
Espero que ele, depois da morte da sua “mamma”, se tenha mudado para Roma, encontrado o seu Romeo, e que ainda vivam agora numa bela casa com uma romântica varanda debruçada sobre o majestoso Tibre!
Visita Guiada dos Monumentos
Na manhã seguinte abri a diminuta janela da minha “piccola stanza”, para a arejar um pouco e ver uma nesga do céu azul dessa divina manhã! Quando olhei para a esquerda para dizer bom dia à varanda onde Romeu trepou para beijar os lábios da sua amada, uma vez mais essa varanda me fascinou! Pensei que esse romântico par de pombos a arrulhar pelas já tão distantes noites de luar, nunca, quem sabe, foram tão longe como eu e o Mauricio, naquela nossa ferverosa entrega, ali naquele canto escuro do páteo, onde eles certamente nunca puseram os pés!
Mauricio tinha combinado comigo na véspera que estaria novamente livre no dia seguinte à tarde, e que viria buscar-me para almoçarmos juntos e, depois, mostrar-me as belezas turísticas da cidade. Nesse mesmo instante roguei que nessa noite faríamos amor debaixo daquela varanda, para vingar o trágico destino desses dois desventurados amantes de Shakespear! Como não havia casa de banho no quarto nem no patamar, barbeei-me o melhor que pude frente aquele pequeno espelho sobre aquele entristecido lavatório, ali a um canto do quarto, que muito bem se conjugava com o meu lindo penico de porcelana. Lavei-me da cintura para cima, lavei as minhas peúgas e a minha roupa interior que pus à janela a secar e, depois de bem pentado, vesti-me e fui à procura dum Café onde pudesse matar o bicho. Palmilhei uns metros até ao próximo largo e, aí, encontrei uma pequena esplanada. Sentei-me ao sol e encomendei um “panino” e uma chávena de café com leite. Fumei alguns cigarros e, através dos seus fumos que se desenrolavam ante os meus olhos, procurei programar o meu dia. Sabia que o Mauricio me viria buscar ao hotel por volta do meio-dia, que depois iríamos almoçar e, depois, sabe Deus que monumentos iria descobrir. Como estava novamente a ficar curto de cifrões, planeei dar um salto a Veneza no dia seguinte e continuar a minha viagem, pois que sabia que chegando a Portugal o meu irmão mais velho me emprestaria uns patacos que me levassem até Londres. Era evidente que o Mauricio não andava a nadar em dinheiro como o Tino. Nunca soube qual era o seu trabalho, do que vivia, qual a sua arte. Uma coisa era certa, excluindo o dispendioso jantar da noite anterior, Mauricio vestia-se muito modestamente. Passei uns bons momentos nessa esplanada a ver passar gente apressada, entre os quais, “adorabile ragazzi, ondeggiante culi”! Fazia mais ou menos os poucos projectos que me restavam dessa minha longa viagem pela Itália. Depois de Veneza partiria directamente para Genebra, para beijar o meu belo Robin, que talvez me esperasse de braços abertos!
Por vola do meio-dia regressei ao hotel. Nem sequer subi ao quarto. Sentei-me no tal cadeirão muito coçado ao pé da pequena janela que dava para a rua, e aguardei a aparição do meu Romeo. Sabia Deus quais eram os seus projectos para essa tarde! Como esperado, muito pontualmente, Mauricio chegou à hora marcada! Disse “buon giorno” ao recepcionista, apertou-me a mão, tudo muito obsequiosamente, como se nada se tivesse passado algumas horas atrás, sob aquela romântica varanda de Julieta. Acenou-me com a cabeça para que o seguisse e, uma vez na rua, informou-me que íamos almoçar numa tasca muito popular do centro da cidade, onde se comia muito bem e barato. Depois logo se via! Essa tasca era realmente algo de especial. Era como um botequim das Arábias! Dum estilo muito orientalizado, só lá faltava o Aladino a servir às mesas! Sentámo-nos num recanto muito pacato e o Aladino logo de seguida nos trouxe o “prato do dia”, que era, penso - nunca o saberei - algo que me lembrava lulas de caldeirada. Umas fatias de pão e um canjirão de vinho local. Comemos traquilamente, sem grandes alardes nem expansivas conversas. Depois fomos tomar um café a uma esplanada não longe e, aí, Mauricio abriu-se: que iríamos dar uma volta a pé, a mostrar-me um pouco mais de Verona. Depois, timidamente, muito a medo, me confessou que na noite anterior tinha vivido uma noite muito especial. Que era muito difícil encontrar parceiros para fazer amor, pois que Verona era uma cidade muito fechada, a transbordar de retrógados preconceitos. Que dois homens na rua, se não fossem a discutir em voz alta um qualquer desafio de futebol, eram imediatamente apupados por toda a gente. Depois, tal como um guia, falando muito alto para que todos ouvisem que falávamos de turismo local, mostrou-me o Coliseu e o Teatro Romano, assim como algumas catedrais muito ricas nos seus vitrais. Nalgumas delas ele ajoelhou para rezar ou para fingir que rezava, pois que, aparentemente, tudo tinha de ser justificado dentro das normas muito arreigadas à doutrinal moral de Verona e arrebaldes! Mostrou-me também um belo jardim onde nos sentámos para descansar um pouco as pernas. Nesse jardim, muito contra os usos e costumes lá do sítio, escolheu um banco muito recolhido onde poderíamos, dum certo modo, estarmos à vontade sem muito dar nas vistas. Aí ele desabafou! Que viver em Verona era um calvário! Que os homens ou se casavam e tinham um rancho de filhos, ou eram imediatamente apontados como “omosessuali”! Que daria a vida para ir viver e trabalhar para Roma, mas por causa da sua “mamma”, que já estava velha e cansada, não a podia abandonar à sua sorte. Que a sua irmã se tinha casado e ido viver para casa dos pais do marido, e que não se preocupava com a “mamma”, pois que ela ficara aos cuidados dele. Que ele nunca viria a viver a sua vida como gostaria e precisava. Que nem ousava encontrar um companheiro com quem partilhar a sua vida com ele, fundar um lar! Que isso estava fora de questão! Que se o fizesse seriam apedrejados nas ruas! Que tinha passado uns momentos inesquecíveis comigo sob a varanda da Julieta. Que era um homem como eu que ele gostaria de encontrar e poder instalar-se com ele em Roma. “Ho bisogno di sesso tutto il tempo, ma che era una cosa che raramente aveva! Voglio fare l’amore con te ancora una volta! Poteva facilemente a cadere nell’amore con te!
dimanche 18 octobre 2009
Verona de notte con tanto amore
Entretanto, na rua, a noite começava a cair. Mauricio conduziu-me através daquelas velhas ruelas ladeadas de belas antigas casas duma arquitectura realmente quase dos tempos imperiais! Fomos desaguar nas margens do canal onde, perto do Teatro Romano, haviam alguns restaurantes. Entrámos num - talvez o seu preferido - mas aí, ao contrário de Tino, ninguém o cumprimentou. Uma vez mais, o estilo do interior desse belíssimo restaurante, era dum requinte inimaginável! Foi como se tivéssemos entrado na Galeria dos Espelhos em Versalhes! Foi-nos proposta uma mesa para dois, mas uma vasta mesa decorada com um castiçal de prata com três velas. O “cameriere” touxe-nos a ementa, assim como dois aperitivos que nunca saberei como foram confessionados! Eram delicosos! Nesses tempos de “outrora” ainda se podia e devia fumar nos restaurantes. Era mesmo chique, mas o Mauricio não fumava, para não amarelecer os dentes. Eu fumei pelos dois! O repasto foi altamente refinado e servido como se fôssemos membros da família real! Tomou-se chapagne. Não gosto de champagne porque me endireita a Torre de Pisa mas, nessa noite, antes pelo contrário, até era bastante conveniente, pois que depois de duas semanas de abstinência, era-me de importância capital receber uma pequena grande conpensação! E, como tinha percebido, Mauricio devia andar a sofrer dessa mesma doença crónica dos meios fechados, onde quase todos se espiam para saberem quem vai para a cama com quem! Durante toda a refeição Mauricio manteve-se no seu mutismo. Apenas os seus olhos ousavam dizer-me o que a sua boca calava! E o que essa boca calava era “cazzo in culo, cazzo in culo”!
Depois desse longo e sumptuoso banquete, Mauricio acompanhou-me ao meu hotel, a pé, novamente através dessas incrivelmente animadas ruas mal iluminadas. Sob essa luz coada, Mauricio repentinamente se me assemelhou a um amante latino! Tive vontade de o beijar ali no meio da rua, levado pelo caudal de toda aquela gente feliz! Chegados ao hotel eu convido-o a subir, mas ele não podia, que receava as más línguas, que o recepcionista - tinha a certeza - nos viria escutar à porta e a espreitar pelo buraco da fechadura! Compreendi que a homosexualidade em Verona devia ser um pecado mortal, como o era em Mafra! Mas como ele estava a pedir “cazzo in culo” e eu morto de lhe satisfazer as suas continências, ao ver, mesmo em frente da porta do hotel, o páteo daquela estranha casa com aquela misteriosa varanda, perguntei-lhe se era algum museu ou casa particular? Ele explicou-me que era a varanda onde a Julieta namorava o seu Romeu. Fiquei espantado com a coincidência! Eu tinha ficado fascinado com aquela varanda quando a vira pela primeira vez! Estranho! Todo o romantismo daquela casa e daquela varanda puseram a minha tórrida imaginação em alvoroço! Quis imediatamente ser o Romeo e o Mauricio a Julieta, e dar ao Mauricio o que a Julieta nunca teve: “Cazzo in culo”! Bastou-me esticar os meus lábios frente à sua boca para ele ficar perdidamente “sessualmente eccitato”! A maior surpresa dessa noite, melhor do que o restaurante de luxo e o repasto de reis, foi descobrir que Mauricio não era quem eu julgava! Cuidado com as primeiras impressões! Revelou-se ser um amante dos mais quentes que tive. Todo ele era sofisticada luxúria! Escondidos nas trevas daquele canto do páteo, em frente dessa mítica varanda, Mauricio mostrou-me que para ele também as preliminares eram importantes! Naquele canto onde ninguém passava, descobri um homem escaldante de sensualidade! Nada arcaico, ele deusse-me com uma paixão nunca suspeitada! Enquanto ele se me entregava e eu lhe dava o que tinha de melhor! Depois dessas duas semanas de fastio, ele começou a delirar e a soluçar “Romeo, Romeo, amore mio! Bacia me! Bacia me”! Com uma paixão nunca por mim pressentida! Romeo, por seu lado, deu-lhe “cazzo in culo” como ele bem desejava e esperara! Romeu dizia à sua Julieta: “ti amo, Julieta, ti amo, ti amo”! E, a maior surpresa de todas foi, depois do Romeo ter regressado a penates, foi o Mauricio que, muito docemente, me sussurrou ao ouvido:
- “Julieta, amore mio, ora lasciatemi essere me Romeo”!
Para bom entendedor, meia palavra basta! Sempre gostei de dar e receber! Ora agora viras tu, ora agora viro eu! Quem vai à guerra dá e leva! Viagens de ida e volta! Porém, depois daquela súbita tomada, uma vez mais compreendi que não há nada melhor na vida do que “cazzo duro nel culo caldo”!
Suo Bellissimo Cavaliere!!!
Esperei Mauricio em baixo, num cadeirão almofadado já muito coçado. Guardando os olhos postos na porta para ver chegar Mauricio - do qual apenas tinha visto uma pequena fotografia que ele me tinha enviado por carta - vi passar a bela juventude de Verona. Rapazes e raparigas dessa cidade que, a despeito da sua secular aparência, a sua juventue estava altamente modernizada. Não tardou muito tempo, Mauricio aparece na moldura da porta e aborda-me. Era um homem aí dos seus trinta anos, muito alto, muito digno, ao qual parecia interdito sorrir. Não houveram quaisquer manifestações de regozijo. Apenas um “Ciao! Come stai?”! Imediatamente compreendi que Mauricio não era um homem nem para a cama nem para qualquer outro meio de comunicação! Procurei comportar-me como se não fosse o caso! Levantei-me, cumprimentei-o respeitosamente, e aceitei o seu convite de irmos dar uma volta. Tal como Tino, Mauricio tirara a tarde para estar comigo. Já na rua, não descapotável à porta! Caminhámos lentamente ao logo dum passeio e, depois de termos atravessado uma bela ponte romana, chegámos a sua casa. Pelo caminho ele contou-me que a mãe dele se tinha ausentado, que tinha ido passar o dia com a irmã dele, pois que andava louca com o netinho com o qual sua filha a tinha prendado mas, no fundo, supus que ele se tinha livrado da mãe, via alguma elaborada astúcia.
Subimos ao seu primeiro andar. Ele abriu a porta e deixou-me passar primeiro. Ele era sem qualquer dúvida, um verdadeiro “galantuomo”! Porém, mal fechou a sua porta por dentro, o nosso “gentiluomo” transformou-se, em fracção de segundos, num autêntico Drácula! Parecia querer esvaziar-me as veias e os testículos sem perda de tempo! Sem quase quaiquer preliminares, baixou as calças e ofereceu-me o seu “bel culo”! Inclinando-se sobre a mesa da casa de jantar, baixou o pontão sobre o fosso para que o cavaleiro entrasse no seu castelo mediéval! Depois de longa cavalgada na gruta dos amores vergonhosos, o cavaleiro recolhe aos seus domínios. Mauricio levantou o pontão e foi fazer um chá. Foi depois desse chá que ele pediu “permesso” para me tirar uma foto como recordação, dizendo que eu era “molto bello”!
Dantesco Romeu & Romeu
Chegado a Verona, apanhei um táxi que me conduziu à morada que me tinha sido dada na véspera pelo Mauricio. Foi uma viagem curta, pois que não era nada longe da Estação Ferroviária. A reservação tinha sido feita, e tinha um pequeno quarto no terceiro andar à minha espera. Era, uma vez mais, um hotel e um quarto pequeno e modesto. Esse quarto tinha apenas uma cama muito campesina, uma mesa de cabeceira com um belo penico estilo antiguídade, a fazer de decoração durante o dia, e certamente a ter outros usos durante a noite, pois que não havia retrete, nem no quarto, nem no vão de escada desse terceiro andar. O que imediatamente me chamou a atenção, foi a minúscula janela que tinha sido deixada aberta para arejar o quarto. Debrucei-me nela para ver a paisagem. Dava sobre velhos telhados e, à esquerda, rasgando a fachada duma bucólica casa, uma varanda impregnada de História, que exerceu sobre mim um estranho fascínio! Pousei a minha sacola e desci para telefonar ao Mauricio. Lá em baixo, a recepção era tão rudimentar que até receei não haver telefone! Mesmo assim, com os meus frescos conhecimentos da língua de Dante, perguntei se podia telefonar. O recepcionista, que mais parecia uma daquelas personagens da Divina Comédia, pediu-me o número. Mal se ouviu uma voz do outro lado dizendo “pronto!”, ele estendeu-me o seu telefone que parecia ser dos tempos de Dante! Quando peguei no telefone perguntam-me “che si desidera parlare con”? Respndi que queria falar com Mauricio Valentini! A voz de alem túmulo diz-me “un momento”, e segundos depois obtive a voz de Mauricio, que não percebia se me soava vinda do Inferno, do Purgatório, ou do Paraiso! Fosse donde fosse, era uma voz amedrontada e exitante. Quando lhe disse que era o Robi, a sua voz continuou impassível e, muito gelidamente, recita-me:
- “Molto bene! Io vengo! Sarò li in un minuto!”
samedi 17 octobre 2009
Milano - Sol de Pouca Dura!
A viagem para Milão também foi calma. Depois dessas duas semanas de abstinência em Torino, o meu corpo começava a pedir-me farra! A minha cabine estava cheia de senhores reformados a lerem jornais. Chegado a Milão, como não tinha lá nenhum correspondente, claro que ficaria só uma noite. Um dia chegar-me-ia para ver o issencial dessa grande cidade. Além de "La Scala de Milano", e aquela famosa catedral cuja porta penso pertencer ao Património Mundial! Aquele fabuloso baixo-relevo que milhões de turistas fotografaram e tocaram com as polpas dos dedos, depois de neles terem depositado um breve beijo.
Dormi uma noite numa pequena pensão e no dia seguinte segui viagem para Verona onde tinha, pelo menos, um correspondente. De Milão telefonei-lhe dizendo-lhe que chegava no dia seguinte. Ele pediu desculpa de não me poder oferecer a sua casa, que vivia com a mamma, que era viúva, e que não era pessoa de gostar de receber pessoas em sua casa que não conheci de parte alguma! Mas que ia reservar um quarto para mim num pequeno pequeno hotel perto de sua casa. Deu-me o nome e morada do hotel e que quando chegasse me instalasse, que depois lhe telefonasse para o emprego. E deu-me o número!
Torino - Io no ti vedrò mai più!
Decidira passar apenas uma noite em Torino para fazer render as minhas finanças. Porém, no outro dia de manhã, ao ir a esse mesmo Café tomar uma espécie de pequeno almoço, novamente deixei os meus olhos passearem sobre aquelas apetitosas saladas. Apontei uma delas, a mais viçosa, e devorei-a em dois minutos. A senhora que me serviu - a patroa - perguntou-me o que queria eu beber e eu disse que nada, muito obrigado! Ela, sem dizer uma palavra, retirou o meu prato já vazio de cima do balcão, e pôs-me um outro bem atulhado, e encheu-me um copo de “vino rosso”. Fiquei espantado com a atitude da senhora, mas resignei-me e enguli essa segunda tão apetecida dose. Depois pedi um “capuccino”. Quando lhe perguntei quanto lhe devia, ela respondeu-me que não lhe devia nada! Que se eu estava “nella merda”, que lhe dissesse! Que ela preciva de alguém para a ajudar aos almoços e aos jantares, para lavar pratos! Pensei logo que pratos, só limpos! Como o meu Italiano tinha feito grandes progressos, aceitei. Ela propôs-me pagar-me o quarto lá em cima, três refeições por dia, e uma pequena maquia por dia para os meus alfinetes.
Comecei logo no dia seguinte. Tinha de lá estar para os pequenos almoços, almoços, e jantares. O meu trabalho não me agradava, mas também não me degradava! O pessoal na cozinha eram todos muito “carinos”, e como eu andava sempre a dizer palavrões na língua deles, acabaram por me adoptar em poucos dias, e começaram a chamar-me “cazzino”! Assim tinha todos os dias a minha comida, o quarto pago, umas “liras” para comprar cigarros e algumas mais coisas e, sobretudo, andava a aprender Italiano de borla! Durante o dia tinha duas horas para ir dar uma volta entre as refeições principais. Aproveitei esse tempo para visitar Torino, museus, e algumas catedrais. Ia todos os dias àquela igrejinha onde tinha entrado no primeiro dia a pedir amparo, e agradecia a Deus o facto de eu ter nascido!
Trabalhei nesse Café umas duas semanas e economizei umas liras. Não abri conta no Banco! O meu banco continuava a ser as minhas peúgas! A minha roupa suja era, presumo, lavada juntamente com os guardanapos, toalhas, e panos da cozinha, mas uma coisa era certa: de vez em quando, ao subir ao meu quarto, encontrava a minha roupa muito bem engomadinha em cima da minha cama, à minha espera! Adorei essas duas semanas pois que sempre me interessou aprender línguas! Ao princípio só sabia dizer “cazzo”, mas muito rapidamente me apropriei da língua e já começava a poder conversar quase fluentemente com todos. Conversas corriqueiras, nada de filosofias!
O tempo foi passando, e no dia em que eu já tinha umas economias, disse à La Mamma que tinha de seguir viagem, que tinha de estar em Londres, onde já tinha emprego. Ela ficou “soddifastta” e disse-me que tinha a sua casa sempre às ordens! Assim, uma manhã, depois de ter tomado o meu último pequeno almoço nesse Café, despedi-me de todos e apanhei o meu combóio para Milão. Ao afastar-me olhei para trás já com alguma saudade desses dias. Dentro de mim, uma voz me dizia que eu nunca mais voltaria a Torino!
Mensagem Vinda do Omnipotente!
Nessa noite deitei-me só! Cedo, e triste! Procurava compreender quais as manipulações e razões da Natureza de me trazerem a este mundo! Certamente que não viémos apenas para continuar a nossa própria espécie! Deviam haver outras razões que eu procurava discernir. Eu não vim a este mundo apenas para um dia o deixar! Certamente que vim para viver um Destino! O meu Destino! Tinha já compreendido que o gozo sexual era puro manejo da Natureza para garantir a continuação de todas as espécies! Salvo os homensexuais, que nem para isso servem! A não ser que a homosexualidade tenha sido outra astúcia dessa dita Natureza para evitar excessos de população! Mas, para isso, se eu tivera sido a Natureza, teria encontrado uma solução mais simples, mais humana! Que todos aqueles que procuram o sexo oposto, em vez de - como os meus pais - terem oito filhos, tenham apenas dois ou três! Teria sido mais justo do que inventar o desejo sexual entre dois membros do mesmo sexo, com todas as vantagens e desvantagens que isso comporta! Quando virem dois membros do mesmo sexo que passam na rua, enamorados un do outro, não os apontem como se fossem um insulto à Natureza, uns depravados! A Natureza é que, muito frequentemente me parece depravada! Como obrigar os animais a comerem-se uns aos outros para sobreviverem! Dois homens ou duas mulheres que se amam, merecem o nosso, o vosso respeito! Não foram eles que escolheram as suas inclinações sexuais! Foi a Natureza! Já se nasce homosexual ou heterosexual! Não somos nós que decidimos! Uma grande percentagem da humanidade troça dessas quase víctimas dessa imensa injustiça, pois que a maternidade e a paternidae (Ordens de Deus? Da Natureza?) é tão importante para uns como para outros! Dois homens ou duas mulheres que viveram e se amaram durante decénios, eles, tanto como os casais procriadores, carregam com eles essa mesma necessidade de terem esse pequeno alguém nos seus braços que lhes chamem “Mãe”! “Pai”! Essas pequenas criaturas a quem nós ajudaríamos a crescer, e que, mais tarde, seriam eles que nos ajudariam a minguar! Nisso nunca ninguém pensa! Homensexuais muito frequentemente se sentem punidos por um crime que nunca cometeram! Não vejo porque razão um heterosexual se sinta tão orgulhoso das suas conquistas, e que um homensexual se veja condenado a ocultar o seu castigo! Não somos nós que escolhemos as nossas sortes ou infortúnios! Elas nascem connosco! Foram ambos gerados nos ventres das nossas mães! Não foram as nossas mães que o decidiram! Foi Deus? A Natureza? O Destino? Eu nunca o saberei mas, chegado a velho, sei que devo tentar fazer compreender àqueles que me desprezam, que a culpa não é minha! Por essa razão agora exibo galhardamente a minha inteligência sem preconceitos!
Como alguém me disse um dia, num comum E-Mail caído dos céus aos trambolhões:
“Para um panasca, você tem um par de colhões maiores, mais sólidos, mais duros, do que certos parvalhões que andam por aí a apregoar aos sete ventos as gajas que já “comeram”! Agora a sua vez de gritar ao mundo inteiro os gajos que você já “comeu”, os homens que você amou e desejou, por vontade divina! Siga para a frente! Não pare! Sacuda o mundo de todas essas convenções de que ele é escravo! Viva a sua vida! Tenha sempre orgulho naquilo que é: Um Homem! Um verdadeiro Homem com um par de colhões e a coragem de mostar aos outros quem é! É essa a sua grande superioridade em relação a essa repugnante hipocrisia mundial! Você mostra os seus colhões porque os tem, os outros escondem-nos, porque os não têm! Ultrapasse todas as dificuldades e faça das suas desditas um mérito!”
Quando Acreditar Ajuda
Sentado no meu duro banco nessa cabine, com os meus trapos a meus pés, deixei o combóio avançar, sem saber exactamente onde ele me levaria. O bilhete dizia Torino! Os meus dólares continuavam a esgueirarem-se assustadoramente da minha peúga, e receava não ter fundos que me chegassem até eu chegar a Lisboa. Ao sair da estação ferroviária de Torino, desembarco numa praceta muito movimentada. A minha primeira preocupação foi encontar um quiosque onde pudesse comer umas sandes. Mesmo em frente, muito modesto, um pequeno Café-Restaurante. Entro e, encostado àquela vitrina que fazia de balcão, estavam esxpostas pequenas travessas estilo prato de entrada. Eram umas saladas muito colorias e apetitosas. Como o preço era razoável, apontei um desses pratos, que foi imediatamente servido com um “panino”. Perguntaram-me “cosa vuoi da bere”, Pedi também um copo de vinho para acompanhar. Depois tomei um “capuccino” e fumei o meu último cigarro. Amachuquei o maço e atirei-o ao chão, num quase movimento de revolta. O meu dinheiro começava a escacear e as despesas continuavam a ser as mesmas. Perguntei também à simpática senhora se ela poderia indicar-me uma pensão barata, que estava com pouco dinheiro. Ela recomenda-me uma pequena pensão mesmo por cima desse Café. Que eram pessoas muito limpas e muito sérias, ali no segundo andar. Subi a esse segundo andar e esbarro com outra “mamma” adorável. Os preços eram verdadeiramente módicos, e o quarto que me proposeram era apenas uma cama e uma mesa de cabeceira junto duma pequena janela. Disse-me que me tinha dado um quarto para as traseiras porque era mais barato e mais tranquilo. Paguei adiantado, peguei na chave, e fui dar uma volta para ver o centro da cidade.
Era quase noite. Torino era uma cidade bastante cosmopolita. Ouviam-se vários sotaques do país, assim como muitos americanos que, como muitos mais, falavam muito alto e não diziam nada! Já era tarde para visitar fosse o que fosse, a não ser clubes nocturnos. Havia muita rapaziada nova muito alegremente gozando a vida. Raparigas nenhumas! Pensei que em Itália, como então em Portugal, as raparigas só saíam de dia para irem às compras ou trabalhar na costura. Penso que nessa altura da Eternidade, os rapazes teriam de brincar uns com os outros, pois que, raparigas, primeiro era preciso desposá-las! Era evidente que os italianos, nessa época, tal como alguns países retrógadas e muito religiosos, os rapazes tinham de se desenrascar sozinhos uns com os outros o com as pratas da casa! Fui notado por um pequeno grupo mas fechei-me em copas. O cansaço e o desânimo eram realmente enormes! Passei por uma igreja que estava iluminada e entrei. Sentei-me num banco e pedi a Deus que me amparasse, que me ajudasse a chegar a Lisboa são e salvo!
vendredi 16 octobre 2009
Por Caminhos e Atalhos
Jantámos silenciosamente, saboreando as nossas deliciosas “lasagnas” e embalados por aquela música de fundo que parecia vir-nos do céu. Durante a refeição, o pouco que se falou, foi uma espécie de obsessão mutua de chegar à sobremesa e irmos algures libertarmo-nos daquele agonizante suspense. Despejaram-se duas garrafas de “vino rosso” e, depois do café e dum cigarro, Tino abre-se em confissões: que tinha tirado três dias afim fazer um longo fim de semana comigo, que tinha bebido demasiado, que estava um tanto embriagado, que receava conduzir na noite que se fechara, que o melhor seria passarmos a noite em Portofino e, depois, de manhã, mais frescos, voltaríamos a Génova sem pressas. Caminhámos até onde ele tinha deixado o seu carro e subimos para, como ele explicou, irmos dormir num hotel não longe dali, que era apenas cinco minutos, e que cinco minutos ele poderia fazer sem qualquer problema. A viagem foi realmente curta. Subimos uns dois quilómetros estrada acima, direcção Génova, e fomos desembocar num átrio frente a um belo hotel muito bem iluminado. Ele deixou o seu carro em frente da porta e entrámos.
Novamente:
- Buonasera, signore ingegnere!
Pelos vistos também nesse hotel ele era habitual. Sem quaisquer burocracias, o recepcionista põe-lhe uma chave na mão e deseja-lhe “una serata molto piacevole”! Subimos a pé. Era no primeiro andar. Entrámos! Tino fechou a porta a sete chaves e, o que depois se passou, prefiro não contar, senão cairia na mais chocante de todas as pornografias. Mesmo as mais ousadas! Nessa noite descobri o que o sexo podia ser qualquer coisa de sensacional quando nas mãos dum perito na matéria! Basta apenas dizer que essa foi talvez a noite mais divinamente sexual que eu viria a viver!
Dormimos até ao meio-dia e, em vez de paqueno almoço, fomos directamente almoçar na princepesca sala de jantar do hotel. Depois desse lauto almoço, como não tínhamos qualquer bagagem, ele pagou a sua conta e metemo-nos no carro. Tino informou-me que íamos a Génova pagar o meu hotel na Piazza Cristoforo Colombo, recuperar os meus haveres e que, depois, ele iria buscar alguma roupa a sua casa, que esperasse por ele ali no hotel, que ele viria buscar-me para, então, mostrar-me toda a beleza histórica e natural, daquela área que circundava Génova!
Uma vez mais, se eu descrevesse completamente o que foram esses três dias, este livro acabaria na página quinhentos! Basta apenas mencionar que visitámos dezenas de aldeias onde a gricultura era o pão nosso dos dias de muitos italiano lá residentes. A terra ainda era trabalhada com bois puxando a sua canga, onde ainda cheirava a terra lavrada e a flores campestres. Visitámos alguns museus e vários velhos castelos em ruinas e, sobretudo, que parávamos em todos os atalho para fazermos amor no meio das searas e todos os pinhais que atravessámos. Pernoitámos duas noites em dois pequenos hoteis à beira estrada, tentando não acordar os visinhos com o gingar da cama. O mais curioso era que Tino sempre pedia uma cama de casal, e uma cama de casal recebemos sem qualquer dificuldade! Uma cama de casal para dois homens, num paí tão católico como a Itália?
Tino fez muitas fotos, as quais nunca me passaram por baixo dos olhos. Esses três dias passados, ele depôs-me frente à Estação de Camminhos de Ferro de Génova, frente ao Cristóvão Colombo, com a minha pouca bagagem, dizendo-me friamente:
- Ciao! Vi vedrò quelche tempo! O amato molto di averti incontrato! Io vi scriverò qualche volta!
Nunca mais tive notías do Tino! Nem uma carta, nem uma foto!
“Io non era stato di più poi qualcuno che a scopato un centinaio di volte, come tanti altri”!
A não ser que ele me tenha escrito para o Hod Hotel, no qual eu nunca mais poria os pés! A minha única airosa saída consistia em agarrar nos meus trapos e a panhar um combóio para Turino e seguir viagem!
Portofino: La Notte Più Bella Mai!
Chegados lá abaixo arrumou o carro num carreiro e, daí, a pé, fomos desvendar todos aqueles recantos dum raquintado pitoresco à beira daquela anilada enseada onde se balançavam pequenas barcas que lembravam gaivotas pousadas nas cristas daquela mansa ondulação do fim de outro dia mais! Percorremos todas aquelas ruelas por detrás daquela longa fila de Esplanadas e Restaurantes, que me lembravam a rua do Marco, em Roma. Muita roupa estendida à janela, com mulhres debruçadas ao pararapeito, conversando, de janela a janela, com a vizinha do lado e a da frente, numa conversa muito delas que elas espalhavam pela rua toda. Depois dessa longa passeata, depois de uma muito variada troca de impressões, Tino revela-me todos os segredos da sua correspondência, graças à revista “Hermes”, com outros homens espalhados pelo globo, que o tinham vindo visitar a Génova. Que tamém tinha visitado alguns paises estrangeiros graças a essas correspondências.
Entretanto o sol começou a descer e as cores de Portofino a modificarem-se. Eram vermelhos arroxeados diluindo-se em amarelos alaranjados, numa evolução constante. Sentámo-nos numa esplanada para tomar um café e deleitarmo-nos com aquele grandioso espectáculo! Tino levantou-se para ir comprar um maço de tabaco Marlboro, que tinha gostado dos meus, que eram muito mais suaves e agradáveis. Quando o sol despareceu para dar lugar à escuridade e aos candeeiros das ruas que começaram a iluminarem-se como irrequietos pirilampos, entrámos num pequeno bar para tomarmos um aperitivo, um delicioso vermute que estava então muito na moda. De pé, encostados ao balcão, Tino começou o seu trabalho de sedução: que me tinha escrito porque tinha gostado muito da minha fotografia no “Hermes”! Que tinha gostado muito dos meus olhos penetrantes, e da minha boca pedindo beijos! Com a mão esquerda segurava o seu copo e o seu cigarro, com a mão direita metida no bolso dos seus “jeans”, amassava o seu “cazzo”, que já adivinhava curto e grosso como os cigarros que ele dantes fumava. Os seus enormes olhos muito pretos e pestanudos começaram a serem invadidos por muitas estrelas cadentes, enquanto entre as suas pernas uma outra estrela generosamente imergia. Ele saboreava o seu vermute em pequenas goladas, usando constante mente a sua rubra língua como guardanapo. Como outras partes do seu corpo, a sua boca parecia entumecer-se a olhos vistos! Chegou-se um pouco mais a mim e cochichou-me ao ouvido:
- Sono anxiuos di andare a letto con te!
Não ousei responder-lhe que “anche a me con te”! Haviam outros clientes encostados ao balcão, sorvendo as suas bebidas e tagarelando. Receei que ouvissem as nossas apaixonadas palavras em surdina. Havia uma música de fundo muito suave, e os últimos raios dum sol moribundo espelhando-se nas garrafas enfileiradas sobre uma longa prateleira na nossa frente. O Barman parecia observar-nos discretamente, como que prevendo o que se iria passar entre mim e o Tino nessa mesma noite. Talvez mesmo com vontade de compartilhar connosco aqueles mesmos segredos de bocas que calavam o que os olhos gritavam! Depois de ter asmagado mais uma beata no cinzeiro, Tino sugeriu que era melhor irmos jantar, que eram horas, que iríamos jantar num restaurante muito pacato ali nas ruelas traseiras, onde se comia muito bem à luz da vela. Que nas esplanadas, rente à enseada, havia muita gente e muita algazarra.
Esse restaurante era quase apenas um pequeno buraco com meia dúzia de mesas. Tino foi saudado muito jubilosamente. Era evidente que ele era ali muito conhecido e apreciado. O criado que nos veio receber e oferecer a única mesa vaga, fazendo-lhe uma grande vénia, cumprimenta-o:
- Buonasera, signore ingegnere!
Finalmente, por portas e travessas, vim a saber quais os estudos e ocupação do Tino. Sentámo-nos. O “cameriere” acendeu-nos a vela e foi buscar a ementa. Tino percorreu muito rapidamente o menu e, levantando os olhos da ementa, pergunta-me se eu gostava de “lasagna”? Respondi que adorava, e ele encomendou duas doses. Enquanto na cozinha, por detrás do balcão, nos preparavam o nosso jantar, o “cameriere” trouxe-nos mais outro vermute e uns aperitivos muito variados numa pequena travessa. Tino ostensivamente tira dois cigarros do seu maço, entalá-os entre aqueles seus rubros lábios em fogo, aproxima-os da chama da vela, e sorve-os sofregamente, até obter o azulado fumo que se escapava da sua boca, entala um deles entre os meus lábios, chupa o seu sensualmente, e expele uma leve baforada daquele tépido e transparente fumo na minha cara, explicando-me que, em Itália, quando alguém assim o fazia, era uma mensagem em código, insinuando: “voglio scopare”! Quando lhe disse que em Portugal também se usava essa astúcia, ele, apertando os meus joelhos entre os seus, sussurra-me languidamente:
- Che cosa stiamo aspettando”?
Em Inglês respondi-lhe que estávamos à espera da nossa “lasagna”! Ele sorriu matreiramente e segreda voluptuosamente:
- Possiamo aspettare, abbiamo tutta la notte avanti!
Concordei com a sua “affermazione”, mas desejei que o tempo passasse depressa! Eu queria-o nas minhas garras, nos meus braços, nas minhas pernas. Eu queria-o todo dentro de mim! Nessa noite apercebi-me de qua a vida é extremamnet curta! Que cada minuto contava! Esses minutos correndo uns atrás dos outros, tinham de ser bem especulados! Pedi a Deus que essa noite nunca mais acabasse! Quem sabia se eu voltaria a Portofino, a estar ali em frente dum homem que era um prodígio de sedução, um homem que eu desperadamente desejava nas minhas entranhas!
Portofino! Amor à Primeira Vista!
Chegados lá abaixo arrumou o carro num carreiro e, daí, a pé, fomos desvendar todos aqueles recantos dum raquintado pitoresco à beira daquela anilada enseada onde se balançavam pequenas barcas que lembravam gaivotas pousadas na crista daquela mansa ondulação do fim de mais um dia. Percorremos todas aquelas ruelas por detrás daquela longa fila de Esplanadas e Restaurantes, que me lembravam a rua do Marco, em Roma. Muita roupa estendida à janela, com mulhres debruçadas ao pararapeito, conversando, de janela a janela, com a vizinha do lado e a da frente, numa conversa muito delas que elas espalhavam pela rua toda. Depois dessa longa passeata, depois de uma muito variada troca de impressões, Tino revela-me todos os segredos da sua correspondência, graças à revista “Hermes”, com outros homens espalhados pelo globo, que o tinham vindo visitar a Génova. Que tamém tinha visitado alguns paises estrangeiros graças a essas correspondências.
Entretanto o sol começou a descer e as cores de Portofino a modificarem-se. Iam do vermelho ao roxo, passando pelo amarelo e alaranjado. Sentámo-nos numa esplanada para tomar um café e deleitarmo-nos com aquele grandioso espectáculo! Tino levantou-se para ir comprar um maço de tabaco Marlboro, que tinha gostado dos meus, que eram muito mais suaves e agradáveis. Quando o sol despareceu para dar lugar à escuridade e aos candeeiros das ruas que começavam a iluminarem-se como irrequietos pirilampos, entrámos num pequeno bar para tomarmos um aperitivo, um delicioso vermute que estava então muito na moda. De pé, encostados ao balcão, Tino começou o seu trabalho de sedução: que me tinha escrito porque tinha gostado muito da minha fotografia no “Hermes”, que tinha gostado muito dos meus olhos penetrantes, e da minha boca a pedindo beijos. Com a mão esquerda segurava o seu copo e o seu cigarro, com a mão direita metida no bolso dos seus “jeans”, amassava o seu “cazzo” que já adivinhava curto e grosso como os cigarros que ele dantes fumava. Os seus enormes olhos muito pretos e pestanudos começaram a serem inundados por muitas estrelas cadentes. Entre as suas pernas anunciava-se uma estrela emergente. Ele saboreava o seu vermute em pequenas goladas, usando constante mente a sua rubra língua como guardanapo. Como outras partes do seu corpo, a sua boca parecia engordar a olhos vistos! Chegou-se um pouco mais a mim e cochichou-me ao ouvido:
- Sono anxiuos di andare a letto con te!
Não ousei responder-lhe que “anche a me con te”! Haviam outros clientes encostados ao balcão, sorvendo as suas bebidas e tagarelando, receei que ouvissem as nossas apaixonadas palavras em surdina. Havia uma música de fundo muito suave, e os últimos raios dum sol moribundo espelhando-se nas garrafas enfileiradas sobre uma longa prateleira na nossa frente. O Barman parecia observar-nos discretamente, como prevendo o que se iria passar entre mim e o Tino. Talvez mesmo com vontade de compartilhar connosco aqueles mesmos segredos de bocas que calavam o que os olhos gritavam! Depois de ter asmagado mais uma beata no cinzeiro, Tino sugeriu que era melhor irmos jantar, que eram horas, que iríamos jantar num restaurante muito pacato ali nas ruelas traseiras, onde se comia muito bem à luz da vela. Que nas esplanadas rente à enseada havia muita gente e muita algazarra.
Esse restaurante era quase apenas um pequeno buraco com meia dúzia de mesas. Tino foi saudado muito jubilosamente. Era evidente que ele era ali muito conhecido e apreciado. O criado que nos veio receber e oferecer a única mesa vaga, fazendo-lhe uma grande vénia, cumprimenta-o:
- Buonasera, signore ingegnere!
Finalmente, por portas e travessas, vim a saber quais os estudos e ocupação do Tino. Sentámo-nos. O “cameriere” acendeu-nos a vela e foi buscar a ementa. Tino percorreu muito rapidamente o menu e, levantando os olhos da ementa, pergunta-me se eu gostava de “lasagna”? Respondi que adorava, e ele encomendou duas doses. Enquanto na cozinha por detrás do balcão nos preparavam o nosso jantar, o “cameriere” trouxe-nos mais outro vermute e uns aperitivos muito variados numa pequena travessa. Tino ostensivamente tira dois cigarros do seu maço, entalá-os entre aqueles seus rubros, entumecidos lábios em fogo, aproxima-os da chama da vela, e sorve-os sofregamente, até obter o azulado fumo que se escapava da sua boca - aquela boca que eu tanto queria desfraudar - entala um deles entre os meus lábios, chupa o seu sensualmente, e expele uma leve baforada daquele tépido e transparente fumo na minha cara, explicando-me que, em Itália, quando alguém assim o fazia, era uma mensagem em código, insinuando: “voglio scopare”! Quando lhe disse que em Portugal também se usava essa astúcia, ele, apertando os meus joelhos entre os seus, sussurra-me languidamente:
- Che cosa stiamo aspettando”?
Em Inglês respondi-lhe que estávamos à espera da nossa “lasagna”! Ele sorriu matreiramente e segreda voluptuosamente:
- Possiamo aspettare, abbiamo tutta la notte avanti!
Concordei com a sua “affermazione”, mas desejei que o tempo passasse depressa! Eu queria-o nas minhas garras, nos meus braços, nas minhas pernas. Eu queria-o todo dentro de mim! Nessa noite apercebi-me de qua a vida é extremamnet curta! Que cada minuto contava! Esses minutos correndo uns atrás dos outros, tinham de ser bem especulados! Pedi a Deus que essa noite nunca mais acabasse! Quem sabia se eu voltaria a Portofino, a estar ali em frente dum homem que era um prodígio de sedução, um homem que eu desperadamente desejava nas minhas entranhas!
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