jeudi 17 décembre 2009

Hospital Ichilov Tel Aviv


Uma manhã, no Hilton, estava eu muito ocupado a receber um grupo de quarenta pessoas quando, subitamente, comecei a aperceber-me de que uma espessa cortina muito negra lentamente se baixava sobre o meu olho direito. Intrigado, pensei que era algo de passageiro e continuei o meu trabalho. Porém essa impiedosa cortina descia implacavelmente! Alarmado, cheguei-me ao Miki - o meu querido Miki - que estava ali mesmo a meu lado, e pu-lo ao corrente dos meus temores. Ele olhou-me mudamente por alguns instantes, pousou os seus papéis sobre a sua secretária, meteu-me no seu carro e levou-me às Urgências do Hospital Ichilov, ali a dois passos. Lá chegados fui imediatemente levado de padiola até aos Serviços de Oftalmologia. Nesses serviços fui muito rapidamente posto sobre uma marquesa, rodeado por um grupo de oftalmologista que, depois de cada um ter deitado uma vista de olhos, um deles disse aos outros que seria necessário recorrer aos conhecimentos do Professor Lazar. Que fossem à procura dele e que ele viesse às Urgências, que era um caso muito sério! Entrei logo em pânico mas quedei-me ali alongado, nas mãos daqueles médicos todos, sem qualquer outra alternativa, pois se eu estava com medo deles, estava ainda muito mais apavorado perante a ameaça de ficar cego!

Passados alugns momentos, entra nessa peça um homem alto, forte, cabelos muito grisalhos, senhor duma grande serenidade. Ele pega na sua lupa, espreita o meu olho durante uns segundos e, logo a seguir, voltando-se para um dos seus assistentes, comentou:

- Trata-se dum descolamento de retina. Vai ser necessário operar este senhor o mais rapidamente possível! Encontrem-lhe uma cama! É um caso muito urgente! Ele será o meu primeiro paciente àmanhã de manhã. Que o bloco das intervenções ao “laser” esteja completamente preparado para, por volta das oito, submeter este paciente a uma longa intervenção de emissão de radiação estimulada.

Enquanto me transportavam sobre a minha padiola em busca duma cama vaga nos Serviços do Professor Lazar, um indomável terror se apoderou de todo o meu ser. Era a primeira vez que eu dava entrada num hospital para uma operação. Pelos vistos grave e urgente! Indefeso, deitado naquele desconfortável tabuleiro, eu tremia como varas duma cor imprecisa. Chegado a esse quarto onde haviam três camas, uma delas ali num obscuro recanto, estava livre. Os dois jovens enfermeiros despiram-me e enfiaram-me uma bata branca atada por detrás das costas. Foi a primeira vez que um homem me despia e eu não tive quaisquer ameaças de ficar embaraçado com um das minhas então muito prontas e indesejadas erecções. Acomodaram-me nessa cama e, antes de partirem, um deles me informou que dentro de momentos uma enfermeira me viria dar uma injecção. Ela não tardou! Ela era uma bonita russa, muito loira, com um sorriso angelical que me pediu para me voltar, como já tantos outros na minha vida mo tinham feito também, mas para outro tipo de seringas! Docemente senti uma picada na minha nádega esquerda e, momentos depois, senti-me como pairando nas núvens...

Horas mais tarde, depois duma refeição muito ligeira que me tinha sido trazida numa outra padiola, depois dessa frugal refeição fui mais uma vez levado a chocalhar sobre essa rectangular prancha com quatro pernas e quatro rodinhas, até a um obscuro cubículo que me pareceu ser uma arrecadação onde se arrumavam tralhas já sem qualquer utilidade. Da padiola fui transferido para uma pequena marquesa, sob um luz muito intensa, e o Professor Lazar novamente, com grandes lupas, se inclinou sobre mim. Ele discutia o fenómeno com alguns dos seus colegas, dizendo-lhes que era um sério descolamento de retina, assinalando as lesões por: Uma às três e meia, outra às quatro e um quarto,e algumas outras horas mais. Fiquei surpreendido com aquela linguagem técnica! Depois, muito mais assustadoramente, que tinha de ser imediatamente atendido, que iam experimentar o laser, esperando que o laser fosse capaz de recolar a retina e resolver o assunto. Que o caso era muito sério, que seria operado na manhã seguinte. Nessa noite dormi como um anjo pois que continuava a flutuar entre as núvens e as estrelas. Por vezes, por entre anjos muito loiros, todos de negro vestidos. Aí percebi o poder das drogas! Disseram-me depois, que me tinham injectado morfina!

No outro dia de manhã, às sete horas, vieram-me buscar, uma vez mais de charola. Ao subir para aquela coisa com quatro pernas e quatro rodinhas, entreguei a alma ao Criador! Lá em baixo, no bloco de operações, enquanto preparavam a anestesia geral, a minha primeira anestesia para a minha primeiríssima operação, perante o medo de nunca mais acordar, toda a minha vida me passou pela mente, como numa derradeira despedida da vida que era ainda tão curta. Desde a minha nascença à minha morte, todas as recoradções de todos os meus amores se desenharam ante os meus olhos. Não sei se num adeus se num até breve! Nunca esquecerei esse momento da minha vida em que, sem quase dar por isso, mergulhei numa inconsciência total, como se tivesse rendido a alma ao Senhor, como se a Morte muito cinicamente me tivesse vindo arrancar aos braços da sua pior inimiga: A Vida!

Quando voltei a mim, naquela pequena cama daquele sombrio canto daquele meu primeiro quarto de hospital, quando abri os olhos foi para ver, como se de miragem se tratasse, o doce rosto da minha querida Hella que tinha vindo de Haifa para estar a meu lado. Quando ergui o meu braço para lhe acariciar aquele tão bem-vindo rosto, os outros dois doentes, entalados nas suas camas, aplaudiram o meu regresso à Vida! Hella inclinou-se para depor um beijo sobre a minha face, ao mesmo tempo que me dizia baixinho: You look bautiful! Momentos mais tarde ela me confessaria que quando ela entrou nesse quarto, eu jazia completamente nu sobre aquele muito branco lençol. Que eu tinha um lindo corpo, e que só então percebera a razão pela qual eu tinha sido um dia eleito Mr. Mar! Que o meu corpo muito bronzeado sobre aquele lençol tão branco, era uma visão divina. Que a enfermeira que me tinha vindo tomar o pulso, me tinha coberto com outro lençol branco, mas que essa imagem ficaria para sempre gravada na sua memória!

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