lundi 7 décembre 2009
Obervellach - A Bela-Bela Áustria!
De volta ao trabalho, tudo ia decorrendo como habitualmente e, em casa, muitas farras e jantaradas com a malta que trabalhava comigo no Claridge, e as compras no grande Supermercado na Jean-Jaurès. Uma manhã, enquanto procurava nas prateleiras os meus necessários condimentos, apercebi-me duns olhos muito azuis que me espreitavam por detrás duma loira franja muito longa. Era o Hanz, um alemão que morava ali mesmo ai lado desse Supermercado. Ele convidou-me a subir para tomar um copo. Subimos! Era um pequeno apartamento com janela para o Boulevard. Tinha apenas uma salinha e um quarto com cama de casal e um berço, cozinha e casa de banho. Em cima duma cómada uma grande moldura com o retrato do Hanz com um dos seus braços sobre uma senhora que apertava o seu bébé contra o peito. Era óbvio, ele era um homem casado. Um dos meus mais ardentes fantasmas! Claro que caímos sobre a cama mesmo antes de termos empinado fosse qual copo fosse! Empinámo-nos um em cima do outro e experimentámos todas as posições do Kama Sutra! Ele era um fenómeno! Extrema perícia e imaginação tanto por baixo como por cima! Ao descer a sua escada disse a mim mesmo que aquilo era uma inesgotável mina de ouro que eu tinha encontrado, mesmo sem me ter afastado até aos contrafundos dos Estados Unidos! Só quando cheguei a casa me apercebi que além da sua morada eu não tinha ficado com qualquer outro meio de contacto com essa loira bomba atómica! Fiquei muito zangado comigo mesmo. Nem carta de condução nem mais explorações naquela mina de ouro!
O tempo foi passando e a minha velha rotina ficando sempre no mesmo lugar. Outra manhã, nesse mesmo supermercado, novamente esbarro com o Hanz. Os seus olhos faiscaram e nos meus uma autêntica trovoada se desencadeou! Ele aproximou-se e perguntou-me se eu tinha uns momentos a lhe dedicar. Respondi-lhe que sim, que tinha até ao próximo Natal! Fizémos as nossas compras, pagámos à saída, e subimos ao seu primeiro andar. E uma vez mais a remessa foi bem aviada! Depois das lavaduras ele acompanhou-me a minha casa para me ajudar a acartar as compras, que eram muitas e pesadonas. Para lhe agradecer a amabilidade ofereci-lhe um whiky. Depois um segundo, depois um terceiro, depois desiquilibrámo-nos e caímos na minha cama. Com a ajuda dos efeitos do whisky a viagem foi ainda mais eufórica! Depois dessa grande batalha onde ambos saímos vencedores, Hanz disse-me ter gostado muito da minha casa, da decoração, e daquela cama como ele nunca tinha visto uma assim, tão original. Quando lhe disse que tinha sido eu que a tinha fabricado ele não queria acreditar! Que eu tinha muitos outros mais talentos do que os demonstrados na cama com ele! Disse-lhe: “sempre às ordens”! E agora ele sabia o caminho a pé! De sua casa à minha era só atravessar a rua!
Um dia Klaus veio dizer-me que ia deixar o Claridge, que tinha comprado um pequeno hotel na Áustria, em Obervellach, perto de Salzburg, e que queria vender o seu Opel Cadette encarnado, no qual tantos passeios tínhamos dado com a rapaziada. Ele vendeu-mo por 500 francos. O Pat tinha o seu Peugeot e eu o meu Opel Cadette! O problema era que eu não tinha carta de condução! Fui a uma escola de condução ali no Boulevard Jean-Jaurès, perguntar quanto tempo e quanto dinheiro me seria necessário para tirar a carta. O responsável, ao ver os meus olhinhos por detrás das grossas lentes dos meus óculos, aponta-me um pequeno cartaz sobre a parede ao fundo, e pediu-me para eu ler o que estava escrito sobre ele. Semi-cerrei os olhos para me ajudar a ver ao longe, mas não consegui ler. Ele pediu-me para me aproximar do dito cartaz e novamente me faz a mesma pergunta. O que estava escrito no cartaz era: “Para bem conduzir é necessário uma boa visão”! Claro que o senhor me mandou dar uma volta e eu fiquei frustradíssimo! O que ia eu fazer agora com o meu belo Opel Cadette tão encarnado como a boca da vizinha de cima? Só depois disso é que me ocorreu que o Klaus nos tinha vendido o carro sem nos dar os necessários documentos.
Esse meu tão querido Opel Cadette acabou por ser abandonado na margem do Cena, ali mesmo à nossa porta, perto do sítio onde eu costumava ir tomar banhos de sol sobre a relva. Esteve lá estagnado meses até um dia ter desaparecido da minha miopia. Custava-me vê-lo ali abandonado naquela margem, mas no dia em que ele desapreceu eu verti uma discreta lágrimazinha de dó pelo carro e por mim mesmo! Quando disse ao Pat que o Opel Cadette tinha desaparecido, Pat respondeu-me que não tinha sido o Opel que tinha desaparecido, que tinham sido os 500 francos que tinham ido pelo ar!
Um dia resolvemos dar um salto a Obervellach, pois que o Klaus nos tinha enviado um postal ilustrado dessa vilória, que era um encanto para os olhos, mesmo míopes! Respondemos informando-o que Obervellach era um espanto de sítio sobre a terra, que gostaríamos de lá dar um salto. Dias depois, Klaus telefona-me para o Standard e, com um grande contentamento na voz, oferece-me um quarto no seu hotel, para mim e para o Pat. Pela mesma ocasião ele anuncia-me que a Susan tinha ido com ele e que viviam agora juntos. Susan, aquela bonita rapariga inglesa que trabalhara connosco no Claridge. Eles eram amantes mas parece que ele lhe batia, e eu tinha pensado que ela talvez o tivesse deixado e regressado a Inglaterra. Aproveitei a ocasião para lhe contar a história do seu Opel, e ele respondeu-me que, como compensação, tínhamos um quarto para os dois no seu hotel, por duas semanas, “on the house and full-board”! Falei dessa proposta ao Pat e ele aceitou a oferta com ambas as mãos! Poucos dias depois, organizámo-nos, pegámos no nosso Peugeot e partimos à aventura, estrada fora, a caminho de Obervellach!
Levantámo-nos muito cedo e fomos por aí acima a caminho da Áustria mas, depois de termos passado Metz, um camião entrou-nos por trás, e como o motor do carro estava instalado no porta bagagens, o carro não andou nem desandou, e tivemos que ir ao longo da estrada à procura dum telefone de socorro, para pedirmos assintência. Por fim lá nos aparece uma carripana que nos reboca de volta a Metz. Aí, numa garagem, repararam-nos o motor e nós decidimos voltar para casa a pequena velocidade, pois que o motor ficara realmente muito abananado. Telefonámos ao Klaus a informá-lo do acidente, e que iriamos de comboio na manhã seguinte. Foi o que fizémos! Chegados à estação de Obervellach, olhámos lá para baixo e avistámos aquele belo lugarejo perdido entre as montanhas. Disseram-nos depois que para ir até lá abaixo tínhamos de apanhar uma cabine sobre cabos, ali mesmo à nossa beira, que descia até Obervellach. Apanhámos o dito e que cagaço! Essa cabine, pendurada sobre esses cabos a quinhentos metros do solo, tinha um buraco no chão tão alambazado que eu poderia muito bem passar através e aterrar lá em baixo muito antes de todos os outros passageiros!
Mesmo ao pé da saída da esburacada cabine, lá estava o belo hotel à nossa espera! Klaus e Susan abriram-nos os braços e a porta dum bom quarto com janela para o vale. Linda vista, ar puro e fresco, verdura sob as vacas pastando ao largo, flores por toda a parte, fora e dentro do hotel! Instalámo-nos e lá passámos duas belas semanas numa paisagem sublime e em boa companhia. Klaus mostrou-nos tudo em redor. Cada passeio era uma lufada de oxigénio e um banho de beleza para os olhos! Um dia, levou-nos até Itália, a Udine, onde comemos a mais bela “lasagna” de todos os tempos! Mas como tudo o que é bom dura pouco, essas duas semanas passaram a voar. Não consegui conduzir o Opel Cadette mas, graças ao Klaus e à Susan, voámos!. Só aterrámos em Boulogne, na rua Jules Ferry!
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