samedi 19 décembre 2009

A Estadia no Hilton - by the Pool



Nesse meu primeiro dia na minha pequena cama, com um enorme penso higiénico sobre o olho, vi as caras dos meus outros dois companheiros de infortúnio acenando-me amicalmente, e as enfermeiras que vinham frequentemente mudar o meu penso e pôr algumas gotas no meu olho que mais parecia ter sido atropelado por um camião-frigorífico! O Professor Lazar também, nessa mesma tarde, veio deitar uma olhadela ao meu massacrado olho, e render-me um apanhado do que tinha sido essa tão longa e delicada operação. Que tinha levado oito horas, que era a primeira vez na história que ele tinha feito essa intervenção com laser, e que tudo tinha corrido pelo melhor! Que eu ficaria mais uma semana hospitalizado e que depois podia voltar para casa e vir ver a Dra. Haya, para controle, durante algum tempo. Que depois logo se via! Recordo o seu sorriso quando retorqui que “se depois logo se via" era óptimmo, pois que fora esse o intuito dessa complicada intervenção!

Essa tarde foi para mim uma demonstração permanente de humanidade e humanismo! Os meus dois companheiros de quarto constantemente me repetiam que estavam felicíssimos com os resultados das suas operações, que estavam a ver lindamente. Um pouco turvo, mas que isso passaria com o tempo! A minha enfermeira russa vinha-me buscar de vez em quando para me levar a uma sala ali mesmo ao lado, onde eu tinha que me sentar num pequeno banco rotativo e assentar o queixo numa minúscula plataforma para ela analisar o meu olho. Foi nesse dia que vim saber que ela se chamava Dra. Haya, e que era de origem russa! Ela emanava uma ternura tal que acabei por me apaixonar por ela. Quando um dia lho disse, ela explicou-me que isso era natural, que todos os pacientes se apaixonavam pelos seu médicos e enfermeiras! Que eu ainda me viria a apaixonar por outros médicos e enfermeiras, que era um fenómeno psicologicamente explicado! Recordo igualmente - sempre com um sorriso - uma outra médica que não era particularmente bonita, quando um dia lhe disse que ela era muito bela, ela respondeu-me, muito simplesmente, que nesse caso, eu teria de voltar ao bloco operatório, que os resultados visuais da minha operação não eram mesmo nada positivos, pois que eu andava a ter visões!

Nesse mesmo dia o Miki veio visitar-me e, ao sair, perguntou-me o que era que eu queria que ele me touxesse no dia seguinte. Disse-lhe que um bolo de chocolate me bastaria. No outro dia ele chaga-me lá com um bolo de chocolate do tamanho dum pneu! Perguntei-lhe se ele estava bem da cabeça? Que eu seria incapaz de consomir um bolo daquele tamanho antes de ele ficar bolorento. Ele - quase num berro - disse-me de o compartilhar com os meus colegas de quarto, com as enfermeiras, com os médicos, com as mulheres da limpeza! E foi o que se veio a passar! Um enfermeiro, pelo qual eu andava loucamente apaixonado, organizou-se e, no quarto onde eles se repousavam de vez em quando, pôs uma grande mesa com pratos e garfinhos, um grande balão de café, o grande bolo ao meio, e convidou todos os outros pacientes do Serviço de Oftalmologia. Foi uma festa! Nunca tinha visto tanta gente ao mesmo tempo com um penso no olho, em toda a minha vida! Até o Pofessor Lazar lá estava! Nessa ocasião ele aproveitou para me dizer que tudo tinha corrido muito bem, que eu deixaria o hospital dentro duma semana, que ia ver tudo turvo e as imagens multiplicadas por três, mas que isso passaria dentro de alguns meses.

Todos os dias Miki vinha com alguma coisa para mim, tendo a primeira coisa sido uma escova de dentes e um tubo de pasta dentífrica! Cada vez que ele vinha nunca vinha só! Trazia sempre com ele um qualquer outro dos meus colegas! Nunca me senti tão amado e amparado na puta da vida! Por essa e muitas outras razões, lhe escrevi, anos mais tarde - depois da sua injusta e precoce morte - um poema, o único poema que escrevi em Hebraico, confessando-lhe quanto eu o amava e amava esse luminoso país onde vivi a minha maravilhosa juventude, cercado de amigos sinceros!

Passados esses dias todos - depois de tantas idas ao quarto ao lado fazer os exames com a minha Dra. Haya - finalmente me disseram que eu deixaria o hospital dentro de dois dias. Foi o Miki que me veio buscar no seu carro. Quando dexei esse hospital tive de esconder uma lágrima. Eu tinha passado os dias mais saudosos de toda a minha vida. Esses dias quando eu amava todos aqueles que me cercavam, assim como, de volta, era por eles todos igualmente amado!

Primeiro o Miki levou-me a minha casa para eu pegar em alguma roupa, e depois levou-me para sua casa em Herzelia para eu convalescer em família, não sozinho no meu buraco na Frishman Street! Ao chegar a sua casa fiquei comovido com a recepção. Adela, a sua esposa, lá estava à nossa espera com uma mesa posta cheia de coisas boas para comer. Ele tinha tirado um dos seus filhos da sua cama, pondo-o a dormir no canapé da sala, para me poder oferecer um quarto onde - como ele disse - pudesse fechar a porta e sentir-me em minha casa. Durante alguns dias foi ele quem me transportou ao hospital para os primeiros exames. Foi ele, o meu querido Miki, quem me amparou, mostrando-me cuidadosamente o caminho, para ver onde eu punha os pés.

Uma tarde, ao regressar do seu trabalho - estava eu numa profunda modorra - ouvindo os seus três filhos no salão a brincarem às escondidas, Miki berrou-lhes que não fizessem barulho, que deixassem o Carmo descansar! Porém foi ele que, com esses mesmos berros, me acordara! Sempre que penso no Miki, digo-lhe, em pensamento: Miki! I love you!As I have never loved anybody!

Dias mais tarde, como ele tinha de me levar ao hospital para os habituais exames - para lhe facilitar a vida - pediu licença ao diretor do Hilton - Mr. Florijn - de pôr à minha disposição, um daqueles pequenos quartos à volta da piscina. Foi nesse quarto, ao som de pessoas felizes a mergulharem na dita, que fui tão feliz! Tinha lá todos os dias os meus colegas que davam lá um salto para estarem um pouco comigo e ver se eu preciava de alguma coisa. Mas a única que eu pecisava era o seu amor. E esse, eu tinha-o!

A maior de todas as surpresa foi, quando eu estava a descansar em cima da cama e alguém docemente me bateu à pora. Achei estranho, pois que a minha porta estava sempre destrancada e todos entravam e saíam como suave brisa ou rabanadas de vento! Levantei-me, entreabri a porta, e quem estava ali na minha frente? O Pat! O Pat com a sua pequena mala de mão! O Miki tinha-lhe escrito a dar-lhe as minhas notícias. Que grande alegria! Foi nessa altura que me tiraram o penso e comecei então a ver muito fosco e as imagens multiplicadas por sete. Foi com o Pat, depois de liberto do meu penso, que comecei a deambular pelo loby do hotel. Havia, no grande salão uma grande televisão onde, certo dia, eles anunciaram mostrar pela primeira vez como se passavam as coisas durante essa intervenção ocular à base de laser. O Pat quis ver esse certamente horror, mas eu voltei para o meu quarto e ver as belezas à volta da piscina. Foi nesse dia que vi pela primeira vez o salva-vidas da piscina, um belo rapagão, multiplicado por sete. Ao vê-lo, disse com os meus botões: Porra! Um deles já me chegava para umas boas braçadas!

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