mardi 1 décembre 2009

O Apartamento da Rue Erlanger



Na minha água furtada, sem o Heinz e o desejo de ir ao bosque, comecei a frequentar a casa do Melo e da Rita mais assiduamente. Para mim era sempre um grande prazer estar com o Melo, escutar a sua voz e o seu riso, sentir a sua fofa mão passando pela minha face, como se fossem beijos. A Rita sempre presente e cheia de projectos, continuava a trabalhar para o Patino, o tal magnate mexicano, ali à La Mouette, e a comprar discos do Mike Brant, por o achar um homem divinamente belo e possuidor duma voz que era capaz de acordar todos os clitoris e muitas vergas. À noite, depois do jantar, lavámos a loiça e depois púnhamos o novo disco do Mike Brant a rodar. Normalmente depois do jantar sentávamo-nos na sala a ver televisão, mas o Mike mudou os nossos hábitos. A Anaiss, que começava a descobrir a sua menstruação, era louca desvairada! O Melo, o dono da casa, o patrão, o amante de mulheres, fechava os olhos para o escutar, sussurrando: Que voz tão sensual!

Esses nossos serões na Rue Erlanger eram realmente muito agradáveis. Por vezes também víamos as notícias na televisão e, depois, um filme. Mas havia também tempo para conversarmos, recordar os tempos do Tique-Taque, de Jerusalem e, sobretudo, fazermos muitos projectos! Outras vezes íamos ao cinema ali perto do Metro Jasmin - a boca de Metro mais próxima da minha água furtada - para vermos um bom filme. Foi nesse cinema que um dia ri tanto com um filme britânico intitulada “A Vida Privada de Sherlock Holmes”, que os outros especatadores, muito menos sensíveis do que eu ao humor britânico, me mandavam constantemente calar! Rita, nessa noite, jurou-me nunca mais ir ao cinema comigo!

Nessa bela noite, depois do cinema, fomos a pé até à Rue Erlanger e, como muito frequentemente, Rita falava dos seus projectos. Como eu tinha perdido Heinz - o meu belo ariano amante - tinha deixado de frequentar o bosque, e no Claridge a minha colheita se limitava ao meu jantar servido no divã do Standard, pelo belo responsável do serviço de quartos - que sofria de insónias - falei com ela acerca da possível vinda do Pat para Paris e lhe encontrarmos um trabalho, fosse onde fosse, Rita apontou-me uma grande varanda num prédio ali mesmo em frente onde ela vivia, que exibia um grande cartaz que dizia “Para Alugar”, e comentou que antes de mais nada teríamos de pensar no seu alojamento. Que na René Basin havia pouco espaço para dois, que a cama era muito estreita, e que em casa dela nem pensar! Andavam todos a cavalo uns nos outros! Que emprego sempre se arranjaria alguma coisa. Que ali mesmo ao pé onde ela trabalhava havia a O.E.C.D., uma organização internacional onde todos falavam o Inglês, que ele poderia eventualmente arranjar trabalho nesse Organização, que era ali mesmo a dois passos da René Basin e da Rue Erlanger. Que àmanhã ela telefonaria a essa agência, para irmos visitar esse apartamento!

No dia seguinte, como eu pegava no meu trabalho às onze da noite e tinha os dias todos livres, e como era sábado e ela também tinha os seus fins de semana para se repousar, combinámos tratar do assunto de visitar esse grande apartamento. Telefonámos à Agência. Uma voz feminina nos pediu para estarmos lá em baixo, ao pé da porta da escada, que ela estaria lá dentro de dez minutos. Pusémos os nossos carapuços e fomo-nos plantar ao pé dessa porta mesmo em frente. Olhámos para cima, para aquela grande varanda ali no quinto andar desse prédio muito moderno e fizémos muitos projectos. Quando a senhora chegou para nos mostrar a casa apanhámos o elevador até a esse quinto andar e ficámos logo agradavelmente surpreendidos com o esplendor da porta de entrada. Entrámos e, Santo Deus!, o apartamento era imenso! Tinha três quartos enormes, uma vasta sala, uma boa casa de banho, retrete separadamente, uma muito bem apetrechada cozinha, um longo corredor e, sobretudo, aquela espaçosa varanda donde se avistava o bairro todo! Mesmo em frente da senhora, em Hebraico, discutimos a situação. Que a casa era óptima! Tínhamos um quarto para eles, outro para a Anaiss, e outro para mim e o Pat. Perfeito! O problema foi quando perguntámos qual a renda? A resposta dessa senhora, muito intrigada com o nosso Hebraico, atirou-nos com o prédio abaixo! O prédio e todos os nossos projectos! Era um balúrdio! Seria preciso ser-se milionário para nos darmos ao luxo de sonhar alto!

Passados alguns dias a Rita telefona-me para me dizer que, afinal, se o Pat viesse e arranjasse emprego no O.E.C.D. ele teria um bom ordenado e que, assim, já poderíamos alugar aquele magnífico apartamento! No sábado seguinte voltámos a telefonar à Agência, pedindo um encontro para assinarmos o contrato, mas esse palácio das Mil e Uma Noites já tinha sido cedido a uma grande vedeta internacional! Ficámos logo muito ansiosos de saber quem seria essa vedeta que nos tinha abafado o nosso “Abre-te Sésamo”! Que não éramos Aladino e Sherezade! Que os nossos projectos tinham ido todos por água abaixo! Que só uma lamparina mágica nos poderia acudir, e fazer dos nossos sonhos uma tão ansiada realidade!

Como eu tinha os dias livres e fazia as minhas compras no supermercado ali mesmo à saída da boca do Metro Michel-Ange Auteil, costumava igualmente ir tomar uma bica no Café-Tabac ali mesmo em frente. Uma manhã, como não tinha cigarros, antes de me sentar entrei na bicha para comprar os meus efémeros cigarros e, na minha frente, de costas, um jovem muito alto e garboso, com uma cabeleira até ao meio das costas. Curioso, tentando ver se a sua fachada correspondia àquelas belas retaguardas, desviei-me um bocadinho. O tipo que estava atrás de mim, pensando que eu decidira sair da bicha, procura obter o meu lugar. Com tal força que fui de encontro ao meu vizinho da frente. Ele voltou-se para trás, com um ar muito aborrecido e, quem era ele? Santo Deus! Cairam-me ambos aos pés!

Era o Mike Brant!

Desculpei-me em Hebraico e ele volta-se inteiramente para trás e, muito surpreendido, começa a fazer-me aquelas mesmas perguntas que sempre se faziam em Israel: Quem és, dode vens, para onde vais!? O grande prazer foi mútuo! Perguntei-lhe se ele morava ali nos arredores? Ele respondeu-me:

- Aqui! Na Rue Erlanger!

Logo que pude fui dar a grande novidade à Rita, ao Melo, e à Anaiss! Ficaram todos estupefactos! Imediatamente começámos a inquirir em que prédio seria que ele vivia? Rita, perspicaz como sempre fora, deduz que certamente ele era a grande vedeta que nos tinha apanhado o nosso querido apartamento para fazer o Pat vir juntar-se a nós. Com o decorrer do tempo, um dia olhámos lá para aquela grande varanda naquele quinto andar, e lá estava ele, debruçado sobre o corrimão dessa imensa varanda, a ver passar o trânsito!

Esse homem lindíssimo que, meses depois, dessa maldita varanda se lançaria!

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