mardi 8 décembre 2009

Laromme Hotel - Agora Club-Med



Laromme Hotel era realmente um belíssimo hotel ali implantado entre o Negev e o Sinai. Esse hotel estava ali prisioneiro entre as montanhas do Sinai e o Mar Vermelho. Logo à saída do hotel haviam arames farpados a impedir-nos de nos aventurarmos mais longe. Uma grande placa dizia pura e simplesmente: “Proíbido Ultrapassar! MINAS!” Nunca lá pus os pés, mas vontade não me faltou de trepar por aquelas montanhas acima! Os camelos selvagens, como não sabiam ler, aventuravam-se por lá e nunca ouvi nenhuma explosão!

Esse hotel erguia-se ali orgulhosamene frente ao Mar Vermelho, e as suas traseiras, onde se encontrava a sua entrada principal, desafiavam aquelas imponentes montanhas embebidas de todas as cores do caleidoscópio! Por dentro, o hotel era uma harmonia arquictetónica total. Logo à entrada, à esquerda, a vasta recepção e Caixa. Frente à recepção, o elevador entalado entre a boutique e a majestosa escadaria. O vasto hall era prolongado por um largo e longo terraço donde podíamos comtemplar o Mar Vermelho e Akabá do outro lado do golfo. Ao fundo, uma enorme sala de jantar com candelabros e janelas viradas para o mar e a piscina lá em baixo. No rés-de-chão eram os nossos domínios. Era lá que se encontravam todos os quartos do pessoal e o seu refeitório, assim como a saída para o grande jardim onde cintilava a longa e anilada piscina. O meu quarto era nesse andar, com uma larga janela que dava para a piscina com acesso à Praia dos Corais, e a bonita vista sobre as montanhas de Akabá.

A minha rotina começou a ser muito mais do meu agrado. Depois de uma longa noite na Caixa a fazer as minhas contas na companhia do recepconista que fazia as noites, logo que encontrava o meu “balanço”, ficava livre para as minhas fantasias. Uma delas era ir para o terraço ver a esteira da enorme lua sobre o golfo, ao fundo do qual se viam as milhentas luzes de Akabá igualmente cintilando sobre as mansas águas. Fazia sempre um calor asfixiante mas, durante a noite, havia aquela abençoada fresca brisa a compensar-nos dos 48 graus de temperatura, quando, mesmo para atravessar a estrada, quase que era necessário apanhar um taxi. O sol queimava fundo na nossa pele. Ao ponto de, como no passado, no Sing-Sing, tinha feito no degrau da minha porta, podiam-se fritar ovos nas palmas das mãos. Nesse terraço, a essa hora, sentar-me numa “chaise longue” a saborear uma cerveja bem fresquinha, fumar um cigarro, contemplar aquelas miríades de estrelas, concentrando-me especialmente sobre a minha estrela, aquela que brilhava mais do que todas as outras! Sentir a brisa a acariciar-me o cabelo, aquele ligeiro sopro na face, era um sublime extase que me inspirava poesia, assim como o imenso desejo de ter ali a meu lado uma boca muito quente onde eu pudesse mergulhar a minha! Por vezes ia até à Praia dos Corais ver se havia alguém que andasse à minha procura. Um vulto, um aceno! O que mais se via à noite nessa praia eram sacos de dormir donde transbordavam cabeças adormecidas, talvez comigo sonhando. Haviam também alguns drogados em busca de mais uma dose. Quando alguém de mim se aproximava não era para me pedir lume ou um beijo, era sempre uma “shachta”= uma fumaça de haxixe! Outras vezes aventurava-me pelo deserto sem ultrapassar a divisão de arame farpado, por causa das possíveis explosões. Mas apenas mergulhar os olhos naquelas majestosas silhuetas daquelas montanhas entorpecidas, olhando fixamente as estrelas, tínhamos a sensação de as ouvir cintilar.

Às sete da manhã ia à cantina tomar o meu pequeno almoço e era lá que eu encontrava o Jonathan, muito apressadamente, a tomar o seu. Quando ele passava por mim, quase sempre me dava uma palmada nas costas e me dizia:

- Vai dormir! O quarto é todo teu!

Mas a verdade era que eu nunca ia de seguida para a cama. Preferia dar um salto até à praia para dar umas braçadas e ver gente bem equipada. Aí comecei a aperceber-me que para que aquele langor que Eilat nos injectava nas veias se calasse, seria preciso encontrar alguém que eu pudesse estreitar nos meus braços. “Self-service” era uma imperdoável ofensa àquele paraíso sobre a terra! Começava a ser preciso que eu olhasse em derredor a tentar topar uma presa ou um predador. O David era um belo homem mas tinha a sua namorada e, sobretudo, era o meu chefe! Jonathan parecia-me ser um dos anõezinhos da Branca de Neve - talvez o Dengoso - sem qualquer interesse. No refeitório comecei a lamber com os olhos um jovem francês um tanto bizarro, mas duma beleza celestial. Parecia-me um anjo perdido no firmamento em busca duma núvem onde se pousar. Ele era lindo! Alto e esguio, muito elegante, uma pele muito branca - coisa rara em Eilat - mas como plantado sobre um pedestal ou num nicho onde ninguém lhe podia chegar. Por essas mesmas razãoes, foi dele que eu fiz o meu alvo! Ele tinha que descer do seu pedestal e vir ao meu encontro a oferecer-me aquele seu belo corpo aparentemente empedernido!

David começou a perceber aue eu era um desperdício a fazer as noites e, uma manhã, quando um hóspede veio pagar a sua conta, furioso com os preços e o serviço, queixou-se-me que aquilo era um escândalo. Tão caro e com um serviço péssimo! Que aqueles não eram serviços para um hotel de quatro estrelas!

Eu olheio fixamente e disse-lhe:

- Quatro estrelas, não! Cinco estrelas!
- Cinco estrelas? – perguntou-me ele muito surpreendido - Onde é que está essa inesperada quinta estrela,

- Aqui mesmo na sua frente! Eu!

Esse irascível hóspede achou tanta piada que deu uma gargalhada, pagou, e foi-se embora sem ter falado com o director, como ele me tinha exigido! David ouviu este pequeno conflito sem dizer uma palavra. Logo que o cliente virou as costas ele veio até mim e disse-me que eram pessoas como eu que ele predcisava a trabalhar na recepção durante o dia. Mostrei-lhe o meu muito especial sorriso e segredei-lhe:

- Aqui me tem inteiramente às suas ordens!”

Dias depois, chama-me ao seu escritório, aponta-me a cadeira na sua frente, e estende-me um contracto definitivo, e dizendo-me o que eu mais queria ouvir:

- A partir de agora vais passar a trabalhar na recepção nos turnos diurnos! Um aumento de ordenado, e passarás a ter as tuas refeições comigo, na minha mesa, no restaurante dos hóspedes!

Foi para mim uma gande alegria poder recomeçar a viver como quase todos os demais: trabalhar de dia e dormir de noite! Para que essa alegria fosse ainda mais sensacional, um dos primeiros hóspedes a ter recebido - uma grande surpresa, por que ele não tinha reservado antecipadamente - foi o Pat! A outra grande surpresa, nesse mesmíssimo dia, foi a chegada da Flossy, uma colega dele que andava secretamente apaixonada por ele. Nesse dia tive o cuidado de alojar o Pat no rés-de-chão e a Flossy no quinto andar. Mesmo assim, ela, como uma sangussuga, andava sempre colada ao pobre do Pat! Até mesmo a Nancy, a bonita escandinava que estava encarregada do “Public Relations”, um dia, ao vê-los juntos no “loby”, me sussurrou:

- Those two are a very funny couple!

Quando lhe disse que, por acaso, o cavalheiro em questão era o homem da minha vida, o seu queixo caiu-lhe até ao rebordo do seu generoso decote! Da Nancy, à parte as nossas idas à noite aos “dancings” dos outros hotéis à beira do golfo, à caça de parceiros par um possível regabofe, foi, uma manhã, estando eu à beira da amurada do terraço a deitar um olho sobre as belezas ambulando à volta da piscina, ela, lá em baixo, na borda dessa mesma piscina, pôs a mão em pala sobre os olhos, e grita-me lá ao longe:

- Roger! From afar you look quite nice!

A minha resposta, que ficou na histórias das nossas vidas, foi:

- In that case, please, stay far away from me!

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