jeudi 3 décembre 2009

Lá em Cima Tão Perto do Céu


Foi lá em cima, por detrás daquelas janelas do último andar que davam para a Rue Ponthieu, nas traseiras do hotel, que tantas coisas boas e más se passariam. Foi por detrás dessas janelas que amei e fui amado, que fui amado e detestado! Foi lá nesse quinto andar onde me iria aperceber do que certas pessoas são capazes quando vexadas pelas apreciações concedidas a uns e não dispensadas a outros.

Logo que me mudei para o meu quarto no hotel, ali a dois passos do Standard, fui promovido a assistente da Pierrette, enquanto outras mulheres que já lá trabalhavam há anos e a única promoção que tinham tido ao longo dos anos, foram alguns aumentos de ordenado, segundo a inflação, e nada mais! O meu trabalho foi tão apreciado pelos patrões, colegas, e hóspedes, pelo facto de eu ser muito eficaz e, sobretudo, por falar sete línguas, enquanto elas falavam apenas a sua língua materna. Invejas e ciúmes começaram a jorrar. Sobretudo quando envelopes com gordas gorjetas começaram a chegar ao Standard em meu nome! Até flores um dia me foram enviadas, enquanto que as senhoras apenas recebiam convites para jantares! A partir dessa data em que deixei de fazer as noites e comecei a fazer os turnos diurnos, alternando com a Pierrette, certas colegas – não todas – ignoravam-me, e sempre que eu deixava uma ordem por escrito em Francês, com alguns erros ortigráficos, essas ordens voltavam ao meu lugar no P.B.X. com os erros sublinhados a encarnado. Isso não foi foi grande problema para mim. Como sei encontrar grandes soluções a pequenas mesquenhices, comecei a, cada vez que escrevia uma ordem, quando não tinha a certeza se a palavra se escrevia com um ou dois “tês”, escrevia com três “tês”! Foi remédio santo! Tiveram que inventar outras maneiras de me humilharem! Como se aperceberam das minhas preferências sexuais não tardaram as piadas indirectas. As minhas reacções foram também sempre muito directas. Que cada qual levava onde lhe apetecia, mas que algumas delas também lhes apetecia mas não tinham quem lhes desse a remessa! O que me valeu foi que eram apenas duas dessas frustradas que me pregavam partidas e pequenos adocicados insultos. Estavam ofendidíssimas com a minha promoção, tendo chegado ao Standard apenas alguns meses atrás, e elas, depois de tantos anos de serviço, continuavam a marcar passo!

Entre as mais jovens tínhamos algumas que, antes pelo contrário, me admiravam pelo meu trabalho, as minhas sete línguas, e a apreciação dos hóspedes. Alguns desses hóspedes chegaram a subir ao Standard para me conhecerem pessoalmente e porem-me discretamente um envelope na mão. Mas essas gratificações iam sempre directamente para dentro duma caixa, cuja era aberta pela Pierrette ao fimde cada mês, e essas somas eram distribuidas igualmente por todos. Elas apreciavam o facto de terem melhores somas do que no passado, mas fulas por ter sido graças a mim que isso tinha acontecido! Felizmente, aquelas jovens que estavam a trabalhar lá há pouco tempo, admiravam-me pela minha coragem de fazer face a tantas invejas, sempre com um sorriso e a resposta certa na ponta da língua! Com algumas delas fiz grandes amizades!

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