samedi 19 décembre 2009

A Bela Rua do Professor Neuman



Pouco a pouco tudo me pareceu de novo aceitável para que eu continuasse vivo e de algum modo orgulhoso da minha pessoa. Eu continuava a divertir os colegas e os hóspedes e, sobretudo, a apalpar os traseiros e os seios da malta toda! O meu Ego tinha emagrecido um pouco, mas procurei dar-lhe boas razões para que ele engordasse um pouco, evitando a obesidade. Pensava no meu irmão Alberto e na dívida que tinha de pagar: Ser feliz por ele e por mim próprio! Eu tinha de continuar feliz de ser quem era, fosse como fosse, fosse quem fosse!

Um dia começou a grande moda de todos os meus colegas fazerem operações plásticas ao nariz. Eles e elas ausentavam-se durante uns tempos e ao voltarem pareciam outras pessoas, muito mais orgulhosos de si mesmos. Passou-me pela cabeça que o meu nariz também precisava dum retoque. Fui falar com o Professor Lazar e ele disse-me abertamente que não havia qualquer risco ocular em fazer essa correcção, se isso me fosse realmente importante. Dias depois, como uma das minhas colegas tinham feito essa correcção em Jerusalem, com o Professor Neuman, telefonei para a sua clínica e pedi uma data para apresentar o meu caso. A data foi-me fornecida de seguida. Tinha porém de esperar uns meses, pois que ele era um grande nome da chirurgia pltástica, e as esperas eram longas.

Essa data chegada, apanhei um autocarro até Jerusalem e daí um táxi, pois que ele vivia numa parte da velha Jerusalem que eu mal conhecia. O táxi rompeu aquelas velhas ruelas até chegar à morada da famosa Clínica do Professor Neuman. Entrei e mostraram-me a porta da sala de espera. Dois ou três quartos de hora mais tarde, depois de ter folheado todas as revistas adormecidas sobra aquela pequena mesa redonda, vieram-me chamar. Entretanto, mais dois futuro pacientes tinham chegado e acomodado-se silenciosamente na minha frente. Eles pareciam tão embaraçados quanto eu próprio estava.

No seu consultório, Professor Neuman, um homem já duma certa idade, duma presença altamente apaziguadora, pedeiu-me para me sentar e mostrou-se curioso das razões que me haviam trazido. Depois instalou-me numa marquesa e, com a ajuda do seu belo assistente, fizeram as devidas pesquisas acerca do meu nariz. Professor Neuman garantiu-me que eu tinha um belo nariz e que não encontrava fosse o que fosse que necessitasse de ser corrigido. Insisti, que o meu pai, com a idade, o seu nariz tinha-se feito enorme, e que eu já tocava com a língua na ponta do meu nariz e que gostaria de o fazer um nadinha mais curto. Ele fez fotos do meu perfil, que ia estudar a possibilidade de me fazer o gosto ao nariz, que depois me enviaria uma carta a sugerir datas para a minha intervenção.

Semanas mais tarde recebo essa carta. Telefono-lhe e marcámos uma das datas. Essa data chegada, agarrei nuns trapos e aí fui a caminho do meu grande desejo de compensar os estragos feitos pelo o meu olho. Deram-me um belo quarto com janela para aquela rua aonde ainda haviam vestígios da passagem dos romanos, Na manhã seguinte vieram-me acordar cedo para ser levado ao pequeno bloco operatório. Vestindo apenas a minha bata branca como a neve, recostei-me na marquesa e, aterrado, aguardei o andamento das coisas. O primeiro passo foi, antes de mais nada, a dolorosa injecção de anestesia local. Pensara que seria anestesia geral, mas era tarde demais para tais exigências! Durante uma meia hora, com a ajuda do seu assistente, trabucaram no meu nariz e, com um escopo, um martelo, e uma serrinha muito afiada, cortaram-me o osso básico do perfil, assim como algumas cartilagens. Depois recoseram, puseram um grande penso, e levaram-me de novo para o meu quarto, dizendo-me que dentro de momentos me seria servida uma peqauena refeição. Que mastigasse lentamente para não rebentar os pontos.

Passei três dias nessa clínica. Na manhã desse terceiro dia levaram-me novamente ao bloco operatório, e verificaram os resultados. O seu assistente disse-lhe que ele tinha feito um bom trabalho, que eu tinha ficado com um nariz muito masculino. Nem pequeno nem grande, apenas perfeito. Gostei de ouvir esses comentários. Depois aplicaram outro penso e lá voltei ao meu quarto para me vestir e apanhar um táxi de regresso a Tel Aviv. Entretanto entram no meu quarto o próximo paciente que aguardava o meu quarto, uma lbansesa que se fazia acompanhar do seu simpático irmão. Eles queriam saber tudo, como se tinham passado as coisas comigo. Disse-lhes que era um tanto doloroso e, quanto aos resultados finais, teria de esperar duas semanas até que o inchaço e as nódoas negras desaparecessem. Antes partir, Professor Neuman explicou-me que tinha de o vir consultar de dois em dois dias durante a primeira semana.

Claro que não trabalhei durante esse longo período. Passei os dias em casa a esconder-me das furtivas miradas dos passantes. Dois dias depois, com combinado, às dez da manhã, Professor Neuman arrancou-me o penso, inspecionou o seu trabalho, e confessou-me que ele não estava muito satisfeito com os resultados, e que, logo que voltasse dos Estados Unidos - onde ia lecionar a sua arte - que quando voltasse, dentro dum ano, que eu lhe telefonasse para combinarmos uma data para corrigir a cartilagem central e reduzir o tamanho das narinas. Ao despedir-se disse-me que já não precisava de mais pensos, que deixasse o nariz ao ar, mas qu evitasse o sol directo sobre a minha arroxeada penca.

Voltei ao meu trabalho no Hilton e fui aplaudido pela malta, perguntando-me, no gozo, se eu tinha levado com alguma porta na tromba. Durante alguns dias houveram mais alguns sarcásticos comentários. Depois o nariz começou a ter cara de gente, e nunca mais se falou do assunto. O Augusto achou que eu estava muito mais bonito com o meu novo nariz, e que o meu olho estava a ficar na ponta da unha! Claro que, durante as nossas próximas avenças na cama, todos os cuidados foram poucos para não agredir o meu combalido nariz de grego. Durante algum tempo, fui eu que me vi grego para me barbear sem poder soerguer um pouco a ponta do nariz para rapar o bigode. Sempre que me barbeava olhava-me no espelho longamente, de face e de perfil, indagando se eu tinha tomado uma boa decisão em ter corrigido o nariz. Achava-o mais bonito mas, realmente, quanto à cartilagem central e as aberturas das narinas, estava de acordo com o Professor Neuman.

Claro que nenhuma outra correcção poderia ser feita antes de ter passado um ano. O Professor estava na América e eu em Tel Aviv, diariamente a espiar o seu trabalho. Decidi que, realmente, quando ele voltasse eu o procuraria para as tais correcções por ele sugeridas. O problema foi que, meses mais adiante, muito bem sentado numa esplanada da Avenida Ben-Yehuda, lendo meu jornal, descubro - como uma grande chapada na cara - que o Professor Neuman tinha falecido em Nova Yorque. Moralidade da história, o meu nariz ficaria tal como o Professor Neuman o deixara, isto até que eu fosse ter com ele onde, certamente, os narizes não são de qualquer importância à felicidade seja de quem for!

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