samedi 12 décembre 2009

A Minha Querida Yvonne Moglad





No Laromme tinha uma colega na Caixa que viria a ser uma grande amiga para o resto da minha vida. Ela chamava-se Yvonne. Tinha nascido no Irão, mas a sua família teve de emigrar para Israel, e foi nesse país que ela cresceu! Ela foi para mim, nas noites em que trabalhei na Caixa, de grande ajuda, pois que entretanto tinha esquecido como se trabalhavam as contas. Um dia, sofrendo demasiado com aquele calor tórrido de Eilat, ela voltou para Tel Aviv onde, em Ramat Gan, tinha um bom apartamento. Arranjou trabalho como responsável das contas correntes duma pequena empresa em Tel Aviv, e ainda hoje lá trabalha!

Sempre que eu ia a Tel Aviv ia ficar com ela na sua casa, onde havia sempre aquele meu divã naquele minúsculo quartinho com uma pequena janela para as traseiras. Passámos grandes momentos juntos e íamos jantar fora. Ela era boa cozinheira, perita nos pratos orientais que adoro, mas era uma grande calona e não gostava muito de mexer nas panelas. Eu, por vezes, é que nos fazia o jantar a comer na sua pequena varanda, à brisa da noite. Gostávamos muito de dar grandes voltas por Tel Aviv e fazer compras por toda a parte! Ela tinha o seu modesto carro, e um cãozinho adorável que ela amava mais do que a sua própria mãe. Uma vez foi a Tel Aviv com ele e arrumou o seu carro na Taiélet, ali mesmo frente ao mar. Pépe, o seu cãozinho, nessa noite desarvorou atrás duma cadelinha e nunca mais voltou! Ela chorou a noite inteira. Na manhã seguinte ela volta à Taiélet para ver se o encontrava e foi dar com ele esperando por ela junto ao sítio onde ela tinha arrumado o carro na véspera! Quando, anos mais tarde, Pépe foi mortalmente atropelado, ela enterrou-o no parque ali mesmo em frente da sua casa e jurou que nunca mais ter animais domésticos. Como ela me disse um dia, com um lágrima deslizando sobre a sua morena face, chorou mais por ele do que pela sua mãe. Que mãe há só uma, e que Pépe também! Ainda hoje lhe peço para arranjar outro cãozinho que lhe faça companhia, mas ela sempre recusa, dizendo que um copo só se quebra uma vez!

Yvonne, talvez por ser muito independente, nunca casou. Teve alguns namorados mas todos de passagem. Uma vez teve um namorado mexicano que se sentiu pouco à vontade com a minha presença, mas quando fomos, eu, ela, o Pat e ele, de carro dar um grande passeio pelo país, ao por do sol tivemos de acampar algures nos nossos sacos de dormir. Chegados a Tibérias, decidimos ir acampar nas margens do lago que Cristo palmilhara. Como se nos tinham acabado os cigarros fomos, eu e o mexicano, de carro, até ao centro da cidade, procurar essa degradante droga. Parámos em frente dum Café ali à beira da estrada, para indagar se haviam cigarros. Haviam! Cada qual comprou o seu maço e, depois, ele convidou-me para um copo. Sentámo-nos e pegámos numa conversa que durou mais duma hora. Depois de alguns cigarros atirados ao ar em absurda fumarada, voltámos para essa pequena praia onde tínhamos acampado. Entretanto o Pat e a Yvonne tinham preparado tudo para um nocturno piquenique e aberto os sacos para uma boa noite de repouso. Tiveram muito cuidado para encontrarem um sítio limpo e pacato para passarmos a noite. Porém, ao alvorocer, fomos acordados por um mosquedo infernal. Yvonne tinha, por descuido, aberto os sacos mesmo ao lado dos gigantescos caixotes de lixo onde todos vinham despejar as suas misérias! Fomos os quatro a correr, completamente vestidos, enfiarmo-nos nas fescas águas do lago para nos vermos livres desse mosquedo que parecia ter decidido tomar o seu pequeno almoço sobre nós!

Depois de nos termos libertado das moscas metemo-nos no carro e fomos de fujida em busca dum Café ao longo da estrada, onde pudéssemos comer um "Humus"!. Depois desse delicios pequeno almoço, o mexicano começou a contar-nos uma anedota americana. Mas ele tinha uma técnica infalível de contar anedotas. Começava a contar e, de repente, começava a falar doutra coisa qualquer. Depois retomava a anedota para logo, momentos depois, começar a divagar sobre outro qualquer assunto. Por vezes uma anedota levava-lhe maia hora a ser contada! Não recordo a anedota nem o nome desse mexicano, mas recordo que ele, sempre que interrompia a anedota, dizia “washi-washi”! Ele, um rapaz encantador, um homem bom, foi a única pessoa que Yvonne amou, além do seu Pépe, enterrado não muito longe da sua casa. Para nós, esse mexicano passou a chamar-se “washi-washi”! Ele depois partiu para os Estados Unidos e nunca mais ninguém o viu ou ouviu falar dele! Que pena! Ele era o único homem que ela amou, e podiam ter sido tão felizes.

Quando regressámos à Rue du Dragon, ali no Quartier-Latin, onde então morávamos, ela aparceu-nos lá um dia de surpresa. Passámos duas inesquecíveis semanas juntos. Como ambos, eu e o Pat, partíamos de manhã para irmos trabalhar, démos-lhe as nossas chaves que tínhamos de lado para as visitas, e ela aproveitou para conhecer Paris. Depois muitas vezes mais ela voltou a Paris, muitas vezes mais nós voltámos a Ramat Gan! Hoje ela ainda continua só. Nem homem nem cão. Ela e a sua independência, o seu trabaho nessa empresa, as suas idas ao Ginásio para manter a linha, as suas idas ao cinema, visitas a outras amigas, e talvez as boas recordações que ambos temos dos tempos do Laromme, da viagem que fizémos a Portugal, daquele dia passado em Alcácer do Sal e Vila Nova de Milfontes, onde tanto rimos!

Até qualquer dia minha querida Yvonne! Em Meudon? Em Ramat Gan? No Paraíso? Seja onde venha a ser, lá estaremos de novo juntos!

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