dimanche 20 décembre 2009

A Noite da Morte!



No Hilton, a minha vida era uma alegre cegada! Gostava tanto do meu trabalho, dos meus queridos colegas todos, gostava tanto de Tel Aviv e desse país em que essa cidade é raínha venturosa! Gostava tanto, tanto de viver! Gostava tanto de viver nesse meu país de adopção onde eu, estando a trabalhar no Hilton, autorizado a empregar quem muito bem lhes apetecia, me afastava da ameaça permanente de ser expelido desse país que tanto amo, apenas por não ser Judeu! Nunca ninguém é um milésimo maior ou mais pequeno do que o resto da humanidade! Hoje, se não fossem certos fanatismos podia estar lá agora a gozar a minha reforma nesse país que amo e perto de todos esses amigos que lá deixei, alguns dos quais ainda aguaradando o meu regresso!

Certa manhã, estando eu felicíssimo de estar por detrás daquele balcão, fazendo o trabalho de que tanto gostava, brincando com todos os hóspedes que vinham pôr ou buscar a chave do seu quarto, apalpando as nádegas e os seios dos meus tão queridos colegas, reparei que, em frente, sentado num sofá, um cavalheiro me observava insidiosamente. Não liguei! Não era a primeira vez que um hóspede sentado num daqueles sofás do Loby, me observava como se eu fosse uma marioneta agitada por certos invisíveis cordelinhos. Se ele me espiava, eu também o comecei a observá-lo. Subitamente ele ergueu-se da sua cadeira e veio até à recepção e perguntou-me muito delicadamente se eu era ou tinha sido comediante. Respondi-lhe que sim, que desde muito pequeno o meu maior sonho era ser actor. Que tinha trabalhado na televisão portuguesa e entrado num filme dum grande realizador português. Ele põe-me na mão o seu cartão de visita, dizendo-me que eu era um desperdício estar alí por detrás dum balcão, que eu devia estar sobre um palco! Que se eu jamais viesse a Paris, o contactasse, que ele faria de mim uma grande vedeta! Que estava a preparar um filme e que me daria um papel nesse seu trabalho se eu voltasse! Agradeci o cartão e continuei a minha vida. Ele regressou ao seu quarto e, desde aí, nunca mais o vi! Porém, a sua oferta tinha acertado no alvo como uma flecha em ouro! A partir desse mesmíssimo momento a minha mente começou a carborar no sentido de voltar para Paris e tentar a minha sorte como o actor que eu sempre tanto quisera ser!

A semente lançada à terra do meu desejo mais profundo, começou a germinar e a ganhar raízes. Eu, que era tão feliz de viver no país que tanto amava, de trabalhar nesse Hilton que um grande futuro me oferecia, todos aqueles meus colegas que tanto carinho me dispensavam, a alegria de saltar no mar todos os dias ao sabor das ondas, o meu Augusto, o melhor amante que jamais tivera até então, o Omar que me vinha constantemente oferecr-me seu belo corpo de homem casado, o meu sonho de encontrar casa para quando o Pat viesse reunir-se a mim, pois que tinha encontrado trabalho no British Council, ali mesmo em frente do Hilton, e aquele pequeno apartamento que eu tinha visto sobre um telhado, frente ao mar, na Yarkon, a dois passos do Hilton e do British Council, eu ia renunciar a tudo isso contra uma proposta atirada ao ar nas asas dum branco cartão de visita escriturado num azul escuro muito forte? Foi precisamente o que aconteceu!

Quando apresentei a minha demissão ao Senhor Moshe Navon, o Chefe do Pessoal do hotel, ou melhor, a minha transferência para o Hilton de Paris, ele pediu-me por tudo que reconsiderasse, que o meu trabalho era muito pareciado e que o director tinha muitos planos futuros para mim. Na manhã seguinte fui chamado ao escritório do Director Geral, o Mr. Florijn. Acorri e ele pediu-me encarecidamente que não deixasse o Hilton, que o seu assistente iria ser transferido para Nova Yorque, e que ele gostaria que eu o substituísse, que eu tinha todas as qualidades requerida para esse posto. Senti-me muito lisonjeado, mas as luzes da ribalta que me acenavam de Paris eram mais fortes do que esse belo futuro que o Hilton de Tel Aviv me estendia!

Como eu tinha recusado a proposta do Director, Glória, a chefe do pessoal, tratou de organizar a minha transferêcia para o Hilton de Paris. Dei um salto ao Consulado de França, ali mesmo em frente da minha Praia Frishman, para ver se os meus papéis estavam em ordem para o meu regresso a França. Eles olharam para a minha Carte de Séjour e garantiram-me que sim, que eu tinha estado mais do que cinco anos nos país, que tinha todos os direitos. Imediatamente escrevi uma carta ao Pat e informei todos os meus colegas do meu retorno a Paris. Todos lamentaram a minha partida, mas que bem gostariam de estar na minha pele! Paris! Essa Cidade Luz que tanto os atraía!

Dei um salto a uma Agência de Viagens na Ben Yehuda e encomendei o meu bolhete de avião só ida. Telefonei ao Pat a informá-lo da data da minha partida do Aeroporto Ben Gurion e ele, para me fazer uma grande surpresa, reservou um voo de Paris, ida e volta, na mesma companhia, tendo lugar no mesmo avião que eu tomaria quando do meu regresso.

Fui despedir-me de alguns amigos e dei um salto a casa do Bob, aquele ricalhaço que tinha sido meu amante quando dos tempos da Pnimiá. Encontrei-o abatido e desmotivado da vida. Quando lhe disse que ia deixar Israel para tentar fazer uma carreira como actor em França, ele baixou os olhos e disse-me que eu lha faria muita falta. Que ele era um homem retirado da vida, farto da sua solidão, que a sua passagem sobre esta terra estava a chegar ao fim, que não tinha ninguém, nem mesmo descendentes a quem legar a sua fortuna. Que eu deixasse o Hilton e o Pat, que deixasse de andar a correr atrás de velhos sonhos de infância, que viesse viver com ele, que o acompanhasse até ao fim dos seus dias e que eu seria o único nome a figurar no seu testamento. Que eu podia depois ir viver para a sua casa em Capri, de que eu tanto gostara. Que tivesse pena dele! Agarrei-lhe na mão, fixei-o nos olhos e garanti-lhe que ele ainda iria viver muitos anos, que encontraria outro alguém que o acompanhasse no seu isolamento! Que eu tinha de cumprir o meu destino, voltar para Paris e ser um dia um grande actor! Que tinha muita pena de deixar o Hilton, mas que o Pat nunca o deixaria! Dei-lhe um beijo na face, disse-lhe até qualquer dia, e nunca mais voltei! Nunca saberei como tudo se passou depois!

Os meus colegas organizaram uma festa de despedida em casa dum deles que morava ali na Ben Yehuda, e foi uma festa de arromba! Eu estava triste de os deixar todos para trás, mas as luzes da ribalta fulguravam lá ao longe a chamarem por mim!

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