lundi 14 décembre 2009

O Meu Quarto no Laromme

















Um dos poucos dissabores vieram-me duma criada de quarto que fazia o segundo andar. Era evidente que ela queria entrar comigo na minha cama, pois que ela insistia em fazer igualmente o meu quarto e trazia-me garrafas de vinho que me deixava com um recadinho dizendo-me que ela gostaria de ser o vinho que eu bebesse. O problema começou a tornar-se num verdadeiro suplício para mim! Eu via, sentia, que ela andava louca de me ter nos seus braços! Ela era uma mulher ainda jovem, atraente, mãe celibatária duma linda menina que, era evidente, procurava um pai? Uma presença masculina no seu ambiente doméstico? Ela era uma criança jubilante, cheia de vida, mas quando ela me olhava nos olhos havia nas suas pupilas a sombra duma orfandade. Na minha grande ansiedade de fundar uma família, ela era como un anjo que descera do céu para aterrar nos meus braços, mas eu não era o homem que pudesse ser para ela esse abrigo que ela parecia procurar em mim. Sua mãe também talvez procurasse o mesmo apoio, mas nos seus olhos eu vislumbrava um urgente desejo de amor mas, sobretudo, do meu corpo! Aí o problema dobrava de intensidade! Eu amava as mulheres mas os seus corpos deixavam o meu indiferente. Como uma vez disse, a gozar com as minhas misérias, quando viajo no metro e vou confortavelmente sentado, se entra uma senhora eu levanto-me para lhe ceder o meu lugar, mas a minha perna do meio continua de perna cruzada! Se for um belo homem, eu não me levanto para lhe ceder o meu lugar, mas ela, essa maldita perna que devia ter sido amputada à nascença, mal o topa, levanta-se logo, para lhe ceder o meu colo! Porquê a Natureza decidiu inventar essas dificuldades a pessoas como eu, que tanto desejaria fundar uma família e viver uma vida normal? Mas eu tinha de fazer tudo para que a minha vida, a despeito de tudo, fosse uma vida normal, à minha maneira!

Uma manhã, ao sair da piscina, onde dera um proibido mergulho, ela vê-me passar, muito garboso, no meu reduzidíssimo fato de banho e, afundando os seus olhos avidamente no conteúdo frontal do dito, disse-me, muito envergonhada, que andava morta de que eu fosse para a cama com ela, que precisava urgentemente do meu corpo, do recheio do meu bikini... Assumido como sempe fui, brutalmente pu-la ao corrente de quem eu realmente era: um amante do corpo masculino, que as mulheres me deixavam inteiramente indiferente, que ela procurasse um homem que fosse para a cama com ela e a fizesse feliz! Que eu só a poderia fazer desgraçada! Que seríamos ambos os mais infelizes de todos os mortais! Ela, a esconder as suas lágrima, correu de volta ao seu segundo andar! Eu meti-me no meu quarto, barbeei-me, tomei um longo banho, fiz-me bonito para ir mostrar-me e seduzir todos aqueles que me passassem pela frente. Às quinze horas tomei o meu posto na recepção e investi-me no meu trabalho. Uma hora mais tarde sou sacudido pela dilacerante sirene duma ambulância, mas continuei a servir os clientes que me aguardavam do outro lado da bancada. Momentos mais tarde correu o boato pelo hotel todo, que a criada de quartos do segundo andar tinha caído da janela abaixo! Caiu? Atirou-se? Nunca o saberei! Sei apenas que ela nunca mais voltou ao seu trabalho, e isso começou a ensombrar a minha vida no hotel! Disse comigo mesmo que era tempo de eu mudar de panorama, procurar um outro emprego!

O tempo foi passando e eu, sempre ocupado com o meu trabalho, os meus devaneios com o Yves, e as saltadas ao deserto ao meio da noite, uma tarde, estava eu com os olhos postos nas minhas listas, oiço uma voz que, chamando-me pelo meu nome, me disse:

- Ò seu cabrão! Qu’é que vocemecê tá páqui a fazer? Por onde tens andado?

Olhei esse individuo naqueles seus enormes olhos castanhos e, caindo-me ambos ao chão, grito:

- Miki!!! Eu é que te faço essa mesma pergunta!

Era o meu querido Miki, aquele que, no Sing-Sing, tinha adorado os meus ovos estrelados ao sol no degrau da porta!

Deixei cair a caneta, dei a volta ao balcão, e caí-lhe nos braços! Foi talvez o abraço mais apertado que jamais lhe dera! Ele queria um quarto por duas noites, preço especial para os hoteleiros! Eu, como sempre, na paródia, disse-lhe que não tínhamos nenhuns quartos disponíveis! Ele, compreendendo a marosca, disse-me que, nesse caso, dormiria comigo, que mais valia tarde do que nunca!

Retomei o meu lugar por detrás do balcão e procurei-lhe um quarto. Perguntei-lhe se era um quarto para duas pessoas. A sua resposta foi que não, que era somemente para ele. A não ser que eu lhe arranjasse uma gaja boa para passar a noite com ele!

Esses dois dias que o Miki passou em Eilat, foram, para ele, apenas dois dias de repouso. Passou as manhãs na praia, as tardes na piscina, e os serões comigo. Como eu estava livre a partir das onze da noite, passei algum tempo com ele no seu quarto a falar do Sing-Sing e projectos de futuro. Ele trabalhava então no Hilton em Tel Aviv, como responsável dos porteiros, bellboys, e Informações. Falando de futuro, ele fez-me compreender que se eu continuasse a trabalhar no Laromme, mais dia menos dia, eu teria o Ministério do Interior às minhas cavalitas, por estar ilegal no país! Que viesse trabalhar com ele para o Hilton, pois que o Hilton, como Companhia Americana, tinha o direito de empregar fosse quem fosse, fosse donde fosse! Eu comecei a cogitar no assunto!

Uma noite, altas horas, fomos jantar ao “Dag Ha’Cachil” e, durante esse jantar, Miki martelou-me que viesse trabalhar com ele para o Hilton, que eu merecia melhor do que o Laromme, que no Hilton teria melhores condições de vida e, sobretudo, estaria na grande cidade! Mais do que tudo, estaríamos novamente um ao pé do outro! Ele gostava de mulheres e eu de homens, mas dele gostava como se ele fosse meu irmão. E isto sem quaisquer idéias subversivas de incesto. Ele não era o meu tipo de homem, mas era, definitivamente, o meu tipo de ser humano! Quando ele veio pagar a sua conta antes de partir, e dizer-me adeus, esmagou o meu ombro com a sua forte mão, olhou-me intensamente nos olhos, e disse:

-Carmo! Não sejas parvo! Vem trabalhar para o Hilton! Nesse hotel tens um futuro!

Como, por causa da criada de quartos que caíra da sua janela do seu segundo andar, eu me sentia muito menos à vontade e, acima de tudo, a minha instabilidade, o meu permanente desejo de ir para a frente, de não estagnar demasiado tempo sobre o mesmo piso, fui falar com o David e dei-lhe a minha demissão. Ele olhou-me insistentemente e pediu-me para o ver essa noite no seu quarto. Como prometido, nessa noite, depois do jantar, bati à sua porta. Ele lá estava com a sua namorada e, depois dum café ele pediu-me que não me fosse embora, que me iam fazer responsável dos meus turnos, um bom aumento de ordenado, que, quando ele, depois do casamento, voltasse para a África do Sul, eu tomaria o seu lugar como chefe de recepção! Fiquei sensibilizado com a oferta e pelo facto dele me ter dito que eu era um bom profissional, que o Laromme precisava dos meus serviços!

Mesmo assim, ao fim do mês, peguei nas minhas duas malas, disse adeus ao Yves, à Praia dos Corais, à Meira, e apanhei o meu avião que me levaria até Ramat Aviv, onde o Miki estaria à minha espera para me levar para sua casa em Herzelia, até eu encontrar quarto algures em Tel Aviv, perto do Hilton.

Quando o avião levantou voo, olhei pela minha pequena janela e disse adeus à minha Pusky, que estava no céu, e que eu para lá iria um dia para a apertar nos meus braços! Olhando para baixo, vi a cabana do meu beduíno e disse adeus às belas noites de luar que tínhamos passado juntos!

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