samedi 23 janvier 2010

Becos sem entradas nem saídas!





Porém a vida tinha de continuar até que chegasse a minha vez de ir ter com todos aqueles que tanto amei e me deixaram pelo caminho, neste mundo onde as pessoas parecem ignorarem-se umas às outras, onde a ternura parece ter deixado de existir ! A Alfa e eu continuávamos vivos e com vontade de viver, de seguir a nossa caminhada até onde Deus quisesse!

Para fugir um pouco àquele divã vazio no meu estúdio, pegámos nas nossas malas e dêmos um salto até Israel para passarmos duas semanas em casa da Yvonne, em Ramat Gan, esse belo bairro de Tel Aviv. Precisava de me afastar de Villejuif, ir dar umas braçadas no Mediterrâneo, ali na Praia Frishman ! Ver gente, estar com a amigos, apanhar sol, esquecer um pouco todas essas facadas que me tinham vitimado ultimamente! Depois dessas duas semanas passadas a lutar contra as marés a que a vida nos condena, voltámos a Paris firmemente decididos a continuarmos vivos até que Deus quisesse. Eu voltava para a minha casa, a minha Alfa, o meu "Bica e Copo de Água, a minha rotina !

Com os riscos que se corria em ir para a cama fosse com quem fosse, a minha sexualidade entrou em ponto morto, para não dizer em marcha atrás! A última vez que tentei ter sexo com alguém foi, ao sair do Metro Louis Aragon, esbarrei com um bonito asiático que me devorou com os olhos. Para matar saudades duma sexualidade em declínio, convidei-o a subir para um whisky e suas consequências. Enquanto se tomou o whisky tudo decorreu normalmente, mas chegara a altura de mudar de assunto e o sexo entrar em acção. Como habitualmente, procurei o nosso primeiro beijo profundo. Porém, santo Deus, esse asiático vinha prevenido para o que desse e viesse e até para esse primeiro beijo ele sacou do seu saco um preservativo para entrepor entre os nossos primeiros contactos linguísticos! Fiquei apavorado! Aquilo não era mais uma das minhas tantas entregas no corpo de alguém! Levara a minha vida a entrar dentro dos outros quase sem pedir licença. Aquilo era um insulto à nossa liberdade de sair e entrar dentro fosse de quem fosse! Nesse mesmo momento, tal como Greta Garbo, decidi "retirar-me" da minha grande carreira no seu apogeu! Desde esse dia nunca mais toquei em mais ninguém nem mais ninguém me tocou! Nesse momento decidi que as milhares de vezes que tinha ejaculado eram mais do que suficientes para uma vida toda inteira! Intimidades, a partir desse doloroso momento, só com as minhas próprias mãos! Mas com uma condição: Sem luvas de borracha!

Tinha de me contentar com o ser solicitado para outras maneiras de ejacular. Ser notado, apreciado pela minha voz, a minha originalidade. Até participar numa passagem de modelos um dia aceitei! Eu nascera para o palco. Essa noite eu estava no palco. Todos os olhos estavam postos em mim! Esta cruel necessidade de amar e ser amado! Este nefasto egocentrismo do qual tenho sido vítima toda a minha vida! Ser sempre o melhor! Desde as antenas da Alfa até ao atravessar a rua para fazer as minhas compras! Até numa bicha nas caixas dos Supermercados fazer disso um palco! Fazer o meu cinema! Comunicar! Quase gritar à indiferença universal: Eis-me! Estou aqui! Ainda existo, ainda estou vivo! Eu quero, preciso de ser amado!

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