mercredi 13 janvier 2010

"Bica e Copo de Água"





Pouco a pouco tudo - ou quase tudo - se organizou para que a Alfa fosse uma rádio a sério. Todos nós muito motivados nesse sentido. Os fundadores, assim como outros elementos que se foram inserindo. Uns pelo amor à rádio, outros apenas pelo seu vedetariado! Foi assim que, não sei por que atalhos, a Maria Raquel ingressou logo como Directora da Programação! Ainda por cima ela tinha um assistente muito bem “assistido”! Eu gostava muito da Raquel mas, a partir do dia em que ela foi eleita Directora da Programação, tomou uns certos ares de superioridade! Eu era membro fundador e contentava-me com apenas o meu programa, e ela era a Senhora Directora da Programação! Claro que ela era superior a mim! Ela tinha feito um Curso de Letras Modernas e era professora das ditas! Ela era a Senhora Dra. Maria Raquel, e eu era apenas o Zé Maria Nicolau que nem sequer a terceira-classe tinha! Mas por outro lado eu tinha o retrato dum rei português feito por mim que era já Patimónio do Estado e preparava um livro que iria receber um Prémio Internacional! Ela parecia estar convencida que ela tudo conseguiria obter graças a uma arroba de maquilhagem, um generoso decote, e uma mini-saia! Eu pensava que eu só conseguiria alcançar o que os outros me queriam por caridade me conceder! Recordo uma tarde, durante uma reunião, quando ela fazia o seu discurso, eu dizer-lhe que ali na Alfa todos queriam ser P.D.G. e que eu já o era quase! Só me faltava o G! Por outro lado, que a moda para as senhoras era uma saia até aos joelhos e um decote até ao pescoço, e que ela invertia a situação: Um decote até aos joelhos e uma saia até ao pescoço! As coisas começaram a tornarem-se bastante turvas entre nós! E eu viria a pagá-las mais tarde, porque eu era um simples funcionário e ela a Senhora Directora da Programação! Outra coisa que nunca esquecerei, foi quando ela me pediu para eu ir à sua secretária, na gaveta de cima, à direita, buscar um certo documento de que ela precisava para utilizar na gravação que estava a fazer no estúdio ao lado. Como bom lacaio que me prezava, acorri a obedecer à Sra. Dra! A primeira coisa que topei ao abrir essa gaveta, foi uma carta da Embaixada de Portugal em Paris, a ela dirigida, solicitando que um certo senhor muito importante de passagem por essa cidade fosse entrevistado na Alfa. De preferência na “Bica e Copo de Água”! Claro que nunca lhe pus os olhos em cima. Essa importante individualidade passou na emissão da Sra. Doutora!!

O Director dos Serviços Comerciais, assim como alguns mais membros da sua família, instalaram-se num espaçoso primeiro andar, tendo a rádio sido instalada no quarto-andar. Foi graças ao seu trabalho que comecei a ser mais ou menos pago pelo meu trabalho e a obter uma certa independência! O Senhor Presidente da Alfa também tinha o seu privativo canto nesse mesmo primeiro andar. Eu tinha apenas o meu programazinho “Bica e Copo de Água”, do qual até a imprensa francesa já falava! Daí as primeiras invejas!

A primeira coisa que gostaria de contar acerca deste meu primeiro programa na Alfa, vai ser o porquê deste título: Uma manhã, estava eu a tomar um galão e um queque num pequeno Café na Avenida do Uruguai em Benfica, magicando acerca de que nome dar à minha emsissão, quando um criado de mesa veio à copa encomendar algo para servir algum cliente sentado à sua mesa e gritou alto e bom som: Sai um Fino e tremoços! Sai um chá e duas torradas! Às tantas disse a mim mesmo: A próxima coisa que ele encomendar vai ser como a minha emissão vai ser chamada! Ora, logo a seguir, um dos criados chagou-se à copa e gritou: Sai uam Bica e um copo de água! Como o meu programa era das 14 às 16 horas, pensei que isso encaixava que nem uma luva! Foi assim que Bica e Copo de Água nasceu! Iria viver oito anos! Iria ser assassinada por dois bandidos sem eira nem beira!

Essa emissão, preparada todas as noites depois de jantar, começava sempre por uma hora de boa disposição e a segunda hora de coisas sérias. Tinha sempre um convidado! Para a primeira hora inventei um personagem – o senhor Fagundes – que tinha sempre, todos os dias, algo a contar da sua “mnher”, a Maria do Amparo. Eu inventei uma voz para o Fagundes e outra para a Maria do Amparo, e ao terminar a histária havia uma grande gargalhada que eu tinha gravado sabe Deus onde! Que pena eu nunca ter guardado toda essas histórias! A única que ainda recordo, foi aquela do:

- Ò Maria! São horas dir pá cama! Vai lavar os dentes!

Momentos mais tarde voltei à carga e continuei:

- Ò Maria! Já tás na cama?

E a Maria respondeu que sim!

- Lavaste os dentes?

E a Maria disse que sim!

- Ambos? O de baixo e o de cima?


Recordo esta história pelo facto de depois, regressando a casa, fazia as minhas compras para o nosso jantar e depois ia sentar-me ali no Café da esquina, depois de ter comprado os meus cigarros e ter encomendado o meu Espresso. Ora, mesmo em frente, estava o balcão com uma bela enfiada de portugueses a tomarem a sua Imperial e a discutirem as parvoices que eu tinha dito no meu programa. E uma delas foi essa da Maria só ter um dente por baixo e outro por cima!

Foi igualmente nesse Café que eu gravei algumas entrevistas para a Bica. Tais como Vitor Pavão dos Santos, para falarmos da biografia da Amália que ele tinha extraído duma conversa de muitas horas com ela, na sua casa em São Bento, Maria de Medeiros, e mais alguns que já não recordo! Gostava de o fazer pois que os gravava com os ruídos do Café, barulhos esses que eu costumava usar como fundo permanete, a imaginar que tínhamos todos ido a um Café tomar uma bica. Também muitos vinham a minha casa tomar um copo quando, por razões profissionais, não podiam estar nos estúdios entre as 14 e as 16 horas.

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire