vendredi 22 janvier 2010

Sombras, sombras e Arroz-Amargo







Um dia a Dona Eugénia - do Restaurante "Arroz-Doce" - convidou-me a fazer uma sessão de assinaturas do meu livro Sombras. Insisti para que a Rita me acompanhasse. Ela acedeu. Talvez ela própria tivesse pensado que isso a ajudaria a aliviar o seu luto, o nosso luto. Sentados numa grande mesa à entrada do restaurante, depois duma boa jantarada como apenas a Dona Eugénia sabia confeccionar - arroz de mexilhão - tomámos um bom café e fumámos um longo cigarro. Isto feito expus os meus livros sobre a mesa e a Dona Eugénia anunciou a minha presença para dedicar os meus livros aos que, ali presentes, estivessem eventualmente interessados. Depois dum grande "ah" geral, alguns dos clientes ali sentados à nossa beira, vieram para me felicitar pelo meu programa, dizerem-me que tinham muito gosto em me conhecer pessoalmente, e pedir-me um livro autografado. Assinei um livro de vez em quando e entre duas assinaturas, como ambos tínhamos despejado uma boa garrafa de tinto, aproveitei para atacar a sério para tentar ajudar a Rita a descer da sua torre, essa torre onde ela aprisionava a sua dor. Como ela me pareceu baixar um pouco o seu pontão, aconselhei-a a mudar de casa, não para esquecer o homem que amava, mas sim para tentar viver uma vida a sós, acompanhada das suas boas recordações dum passado todo vivido a seu lado. Os seus olhos encheram-se de lágrimas e a sua boca martelou-me ameaçadoramente:

- Rogério. A melhor solução é mudar de mundo e ir ter com ele. Não posso nem quero viver sem ele! Onde quer que ele esteja eu quero estar com ele!

Quando as pessoas começaram a pagar as suas contas e a porem os pés a caminho das suas casas, arrumei os livros que me tinham sobrado e o Pat conduziu-nos de volta a Villejuif. Nessa noite, antes de nos deitarmos, ela, ao dizer boa-noite, antes de se fechar no seu estúdio, pôs-me a sua trémula mão sobre o meu ombro e, fixando-me firmemente nos olhos, como uma condenação, assegurou-me:

- Rogério! eu não quero mais viver sem o Zé! Tenho de me preparar para ir ter com ele o mais rapidamente possível!

Dias depois ela regressou ao México e meses mais tarde, uma vez mais tive um outro mail daqueles tão bem preparados para não me magoarem demasiado:

"Hi! Rita passed away this morning. Bye! Anais


Abalado, telefonei à Anaís, no México, a pedir-lhe que me contasse o que se tinha realmente passado com a Rita. Ela, sem qualquer emoção na sua voz, friamente, informou-me que a Rita tinha deixado de comer e que acabara nos seus braços pedindo-lhe encarecidamente:

- Deixa-me partir! Deixa-me ir ter com o teu pai!

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