vendredi 29 janvier 2010
Os Três Malvados Assaltos
Tínhamos comprado aquele apartamento em Villejuif, o tal no 5, rue du Dr. Paul Laurens - 2° Esq., para ficarmos mais perto da Rádio Clube Português, naquela minha já tão antiga ambição de fazer rádio! Agradou-nos também o facto de a casa ficar ali mesmo em frente do Metro Louis-Aragon, assim como o Mercado e todas as outras lojas mais necessárias. Isto sem falar nos dois grandes Cafés e esplanadas ali mesmo à porta! Eu que tanto aprecio ir tomar um café de vez em quando e, sobretudo, ver gente e ouvir rir e falar todos aqueles encostados ao balcão, a virarem os traseiros aos que, como eu, preferimos sentarmo-nos uns momentos a descansar as pernas e a engordar os olhos e outras coisas mais! Além de tudo isso, Villejuif era uma vila calma e povoada por pessoas bem-postas e bem-educadas. O problema é que o que é bom acaba-se depressa! Rapidamente se começou a ver jovens com o boné de pala para trás, faca ao cinto, e "pitbulls" à arreata! Com a sua chegada partiram para bem longe esse grande sossego e bem-estar!
Para nós, depois de todas as obras que fizemos para que o apartamento ficasse como novo, era um inefável conforto viver ali num sítio tranquilo e bem verdejante. Até ao dia em que, voltando do meu trabalho na Torre Atlas, meti a chave à porta e ao abri-la deparou-se-me todas minhas roupas e sapatos, fotografias, todos os meus poemas e outras papeladas, espalhados pelo chão! A sensação ressentida foi precisamente aquela de se ter sido violado. Não o corpo mas sim os nossos domínios e privacidade! Imediatamente me apercebi do desaparecimento do nosso televisor, leitor de cassetes vídeo, e o Bar estava vazio. Era evidente que também tivessem procurado valores monetários, pois que as gavetas estavam todas abertas, despejadas, e os colchões de pernas para o ar! Não encontro palavras que possam descrever o que senti! Talvez apenas, como já o disse, ter sido violado por meia dúzia de bandidos! Era evidente que eles tinham entrado pela janela da varanda, que eu deixava sempre entreaberta para arejar, mas isto num alto segundo andar! Claro que a partir dessa data, antes de sair , tinha sempre o cuidado de verificar que todas as janelas estavam bem trancadas !
Todos os meus cuidados foram poucos mas, mesmo assim, meses mais tarde, voltaram a assaltar-nos. Desta vez, encontrando todas as janelas fechadas, arrombaram a porta. Desta vez o estrago ainda tinha sido maior! Quando eles pressentiram o meu retorno, saltaram pela janela! Esse famoso alto segundo andar! Penso que este tipo de jovens que vivem desses abusos é, são alpinistas profissionais. Desta vez não roubaram nada porque não tiveram tempo de acabar o seu trabalho! Eu tinha apenas ido à rua tomar um café ali num pequeno Café dentro do Metro e eles, se calhar estavam à coca, e pensaram que eu tinha tinha ido apanhar o Metro para ir até Paris. Isso lhes teria dado tempo que chegasse para fazerem limpeza geral! Mesmo assim, ainda tiveram tempo de encher duas malas com todos os meus CD! Nesse dia pensei que o melhor seria mudarmos de casa, de morada! Os nossos vizinhos - mesmo os do rés-do-chão - nunca sofreram esse mesmo tipo de investidas! Achei muito estranho! Falei com o Pat e decidimos vender o apartamento e ir alugar um outro algures menos selvático!
O anúncio foi posto numa Agência ali perto, mas ninguém se mostrou interessado durante uma longa temporada! Não tínhamos outra alternativa senão aguentar, mesmo temendo sermos assaltados à noite, durante o nosso sono. Mais o alto risco que isso representava! Tivemos de continuar a viver a nossa rotina o melhor que se podia! Não era mesmo nada fácil, mas realmente não havia qualquer outra solução que aguardar que alguém se interessasse na compra do nosso bonito apartamento!
Tempos mais tarde, estava eu em casa de janela entreaberta a fazer a limpeza quando, inesperadamente, ouvi uns estranhos ruídos vindos lá de baixo, do jardim que circundava o nosso edifício. Cheguei à varanda, olhei para baixo, e vi um jovem a trepar até à varanda do andar de baixo. Outros dois aguardavam sentados na relva, controlando as manobras. Quando lhes gritei que dessem a volta que eu lhes abriria a porta, os dois lá na relva agarram nos pés e piraram-se a grande velocidade. O que estava a chegar à varanda sob a minha, desprendeu-se e caiu sobre as lajes. Penso que partIu uma perna, pois que virou a esquina ao pé-coxinho! Eram, claro, aqueles folclóricos jovens que eu costumava ver lá em baixo, à esquina, sentados num baixo muro, a espevitarem os dentes e a fazerem festinhas nos seus colossais « pitbulls » !
Eu procurava compreender como era que Villejuif tinha sido invadida por esse tipo de adolescentes maltrapilhos. Certamente que eram resultados da união de todos os países europeus, que os políticos começavam a fazer para competirem com os Estados Unidos da América! Eles - penso - sonhavam e ainda sonham com os Estados Unidos da Europa! Agora todos os países que constituem esse continente têm liberdade de passarem as fronteiras sem terem de solicitar qualquer Visa! Assim cada qual faz o que muito bem lhe parece e vai onde muito bem lhe apetece, pois que esses jovens entre eles falavam uma língua que eu totalmente desconhecia! Assim cada país se tornou na montureira dos vizinhos do lado!
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