mercredi 13 janvier 2010

O Pão de Dó - Avenue Hoche, 50




Como para sobreviver era preciso ganharmos a vida, esse absurdo de trabalhar duro para ganhar o pão nosso de cada dia, e depois reciclá-lo para alimentar os peixinhos lá no mar alto, de borla, revoltava-me! Tive de aceitar essa proposta desses dois padres que procuravam alguém para lhes limpar a igreja, a casa, fazer as compras e a comida! Como era das sete da manhã até ao meio-dia, e isso dava-me tempo de estar na Alfa às duas da tarde para o meu programa! Para mim isso era quase um milagre ! Pois que eles pagavam bem!

Era a Igreja St. Joseph’s, ali na Avenue Hoche, N° 50, muito perto do Arco do Triunfo. Era uma modesta igreja com dois andares por cima. Todo o edifício estava sob a tutela da igreja católica irlandesa. Eram dois padres. Cada um vivia no seu andar. Um era uma alma bem cristã, o outro era apenas o guardador das caixas de esmolas. A igreja em si era bastante pequena e poucos santinhos a limpar. Meia dúzia de fileiras de cadeiras daquelas para ajoelhar, uma pia de água benta à entrada, e dezenas de caixinhas de madeira por todos os cantos, com uma ranhura para meter as moedas. Notas também bem-vindas!

O meu trabalho consistia em limpar a igreja de vez em quando, e os dois andares todos os dias. Como tinham outros padres irlandeses que queriam conhecer Paris, tinha frequentemente alguns quartos a limpar e arrumar. O mais difícil era decidir o que ia ser o almoço e fazer as compras! Depois preparar o almoço para ambos os padres e de vez em quando também o das suas visitas. A enorme cozinha era no rés-do-chão, com uma grande chaminé e um gigantesco fogão a lenha sempre aceso para termos água quente nas torneiras o dia todo. A casa de jantar era ao lado da cozinha, o que me facilitava bastante o trabalho.

O Padre Boa Alma gostava muito dos meus petiscos e era duma infinita bondade. O outro, o Padre Venha a Nós ao Nosso Reino, não tinha absolutamente nada de Salvador. A sua ocupação diária era despejar as caixinhas das esmolas, fazer rolinhos de moedas, e todas as quartas-feiras levar as economias ao Banco! Mas era eu quem tinha que carregar com elas!

A única boa recordação desse curto período foi um fim-de-semana quando tivemos a curta visita dum muito jovem padre que viera apenas para visitar Paris. Ele era cá um borrachinho de se lhe arrancar as penas todas ! Foi precisamente isso que, sem pena nenhuma, tive de fazer! Ele tinha vindo para visitar a mais bonita cidade do mundo, e eu aproveitei para visitar certamente a mais bonita paróquia da Irlanda! Por outro lado, o único triste incidente foi que os pobres vinham à porta pedir-me uma sopa, e como eu fazia grandes papeladas, mandava-os entrar, puxava-lhes uma cadeira à volta da grande mesa da cozinha, e dava-lhes uma pratada. Ora o Padre Venha a Nós ao nosso reino, quando descobriu a marosca, disse-me para não dar sopa a pedintes! Em outras palavras: “dar-lhes sopa”! Não estive pelos ajustes! Como sempre, meti o pé na argola e lembrei-o que ele e a sua Igreja viviam de esmolas, que nesse caso, a esmola duma sopa não era pecado nenhum! Moralidade da história: Mandou-me para o Inferno!

Mas eu não fui logo a correr. Fiz a minha peregrinação Louis Aragon-Étoile até levar a minha cruz ao calvário! Quero com isto dizer: Até ao dia em que a Alfa me começou a pagar um pequeno ordenado pelos bons serviços prestados!

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