vendredi 8 janvier 2010
R.C.P. - A Rádio de Todos Nós
De volta a Paris, com a raiva a roer-me as entranhas, decidi pegar nas rédeas do meu destino e abrir caminho, fosse lá onde fosse que ele me conduzisse! Compreendi que eu não podia mudar a mediocridade de certas mentalidades que ainda não tinham percebido que somos todos iguais. Que as etiquetas foram inventadas por degenerados para dividir a Humanidade em troços que se não devem entrelaçar! Ninguém é pior ou melhor do que aquele que se atravessa no nosso caminho! Os caminhos foram feitos para caminharmos lado a lado, mão na mão, sem absurdas segregações! Todos nascemos dum parto e ao fim desse caminho, seja para quem for, apenas o mesmo destino: Paraíso!
Espero que no paraíso - sendo todos os mortos de uma única origem - não hajam por lá guetos! Os bons para um lado, os maus para outro! Pois que depois de mortos somos todos pura e simplesmente algo que a Natureza deitou fora, para o mesmo caixote de lixo, sem sermos - seja quem for - reciclados! Fomos apenas inventados para garantir a continuação duma espécie!
Nunca percebi porquê eu tinha sido recusado no Hotel Alfa de Lisboa! Vivi em Israel, amei Israel, aprendi as tradições judaicas, integrei-me nelas, tive e tenho amigos Judeus, mas se Israel tivera estado nessa altura nas mãos doutros povos, eu teria amado Israel, teria amado esses povos, fossem quais eles fossem, aprendido com eles, adoptado as suas tradições e, sobretudo, amado Israel! Pura e simplesmente porque foi nessa nesga do planeta que eu vivi a minha maravilhosa juventude! Mas como foram Judeus que povoavam esse pequeno país quando por lá passei, amo Israel, amo os Judeus e suas tradições! Amo a língua que eles falam como amo todas as outras línguas que outros povos falariam! Amo todas as línguas! Amo o amor! Só há uma coisa que eu odeio: O ódio! O ódio e suas nefastas consequências!
Chegado a casa, ali nos cocurutos daquele edifício da Place Corneille, abri todas as janelas que davam para o grande terraço, e debrucei-me para embebedar os olhos com toda aquela verdura, flores, árvores, e aquele bonito lago onde nadavam peixes de todas cores, a esconderem-se sob as translúcidas pétalas de nenúfares. Tinha de tentar esquecer a podridão dos anti-semitismos e anti-seja-o-que-for! Depois voltei à minha franco-portuguesa rotina de sempre. Abri a mala, pus a roupa toda para lavar, devolvi a mala ao armário que a resguardava, e reentrei nos meus afazeres habituais.
Desci para fazer as compras para poder preparar um repasto decente ao Pat que trabalhava de manhã à noite; tomar um Espesso no Café da esquina; preparar o jantar e, mais do que tudo, fechar os olhos e encontrar uma nova destinação ao meu destino! Liguei o rádio e logo ouvi a voz do Carlos Duarte e a música portuguesa que me falava da minha infância e, "bingo"! O meu destino estava traçado! Rádio! Estar em frente dum microfone e entrar em casa dos portugueses e dizer-lhes que eu existia, que estava de volta para lhes fazer companhia!
Telefonei ao Carlos a informá-lo do meu regresso. Por sorte ou por coincidência, ele propôs-me ensinar-me a técnica, como fazer funcionar todos aqueles botõezinhos para que a rádio fosse para o ar. Aceitei! Logo que pudesse o faria! Como Villejuif era bastante longe de Boulogne, imediatamente o destino me enviou uma subtil e muito discreta mensagem: E se mudássemos de casa? Se fôssemos viver para Villejuif? Se recomeçássemos uma nova aventura? Uma nova vida? Um outro dia-a-dia?
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