samedi 9 janvier 2010

O Grande Camilo Castelo Branco



Com os meus novos compromissos de estar todas as manhãs na R.C.P. para o meu "Despertar Musical, a minha rotina sofreu grandes modificações. Depois de duas horas de palhaçadas frente ao microfone, passava pelo grande Supermercado para fazer as minhas compras. Em casa organizava o jantar e, logo a seguir, preparava o meu programa para a manhã seguinte. Depois ia até à avenida de Versalhes limpar a casa da minha freguesa do dia. Após essas quatro horas de duro labor, a freguesa, discretamente, introduzia-me na mão uma nota de vinte euros para ajuda das minhas despesas diárias. Mal punha o pé direito sobre o passeio lá em baixo, imediatamente o meu pé esquerdo me levava a atravessar a rua e dar um salto "Aux Trois Obus" para uma boa Bica.

Chegado a casa, transpirando por todos os poros, a primeira coisa que fazia era um bom e longo banho. Depois limpava a minha casa enquanto que, ao mesmo tempo, ia cozinhando o nosso jantar. Depois lia um pouco ou via uns minutos de televisão. Quando o Pat voltava, depois de mais outro árduo dia de trabalho, encontrava uma casa arrumada, o jantar pronto, e um aperitivo já servido. E eu lá estava à sua espera com a Cookie, a nossa gata já bastante avançada na idade, ao colo. Ela viveu até aos vinte anos mas, chegada a hora, tivemos de a levar ao veterinário para que ele lhe fechasse aqueles seus belos olhos verdes que já tinham visto tudo o que tinham a ver. Eu não tive coragem de ir. Foi o Pat, com a sua imensa coragem, que a levou. Depois, ambos chorámos essa grande perda e jurámos: Basta de gatos! Não queremos mais! Ela para nós fora como uma filha que vimos saltar, correr, crescer, envelhecer, sempre tão necessitada do nosso amor! Doeu-nos tanto que decidimos não mais sofrer esse esmagador golpe!

Uma tarde, estando eu à escuta da R.C.P., ouvindo a Maria Raquel a fazer o seu programa "Porta Aberta", nessa tarde ela, durante uma hora, falou-nos da vida dum grande escritor português do qual eu conhecia toda a sua obra. Livros que me foram postos nas minhas mãos pelo senhor Assunção quando, em Mafra, eu ia dizer olá ao meu D. João V.! Para minha grande surpresa, depois de nos ter falado da vida e morte desse grande escritor, fechou esse seu programa com um poema meu que eu tinha escrito quando, no Café Estrela, em Mafra, eu lera esse grande património deixado por Camilo Castelo Branco. Ela disse que esse meu poema, em poucas linhas, falava do que tinha sido a vida desse grande escritor português:

DERROTA

Ninguém nota
Nos meus lábios magoados
A sede de beijar!

Ninguém nota
Nos meus dedos enclavinhados
O desejo de reter!

Ninguém nota
Nos meus passos apressados
A ânsia de chegar!

Ninguém nota
Nos meus olhos apagados
O susto de viver!

Ninguém nota
Nos vincos do meu rosto descorado
O cansaço de lutar
Num campo de batalha descampado
Sem tréguas nem troféus a conquistar!


Rogério do Carmo
Mafra, 1954

Nesse dia, graças à Maria Raquel, descobri que, afinal, eu não era apenas um gajo que escrevia versos, mas sim, quem sabe, talvez um verdadeiro poeta !

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