mardi 12 janvier 2010

Foi lá no alto, nos cocurutos, que ela deu os seus primeiros passos!

















Para minha grande surpresa, um dia sou convidado a ir visitar as instalações da Alfa. Foi lá no alto, no vigésimo-segundo andar da Torre Atlas, no “China-Town”, que ela encontrou o seu berço! Fiquei preocupado. Como é que, de repente, o dinheiro tinha aparecido para tais luxos? Eu tinha proposto a minha casa, mas isso não pareceu interessar fosse quem fosse! O problema foi que essa maquia não tinha chegado para comprar o material! Ora, uma rádio, para ir para o ar, não basta um belo berço! Também é necessário compra-lhe um biberão, fraldas, e pó de talco! Como eu queria que esse bebé começasse a andar, nem que fosse de gatas, comecei, todas as manhãs, a transportar o meu material. Foi a pouco e pouco, pois que todos trabalhavam em Bancos e eu não tinha carro! Tive de o fazer aos ombros, uma coisa de cada vez, para o Di Maccio - o técnico voluntário que conhecíamos do R.C.P., que se tinha posto à nossa disposição - tudo instalar. Primeiro foram os dois gira-discos, depois o gravador, depois o microfone e os auscultadores. Logo a seguir, em pequenas quantidades, dentro de vulgares sacos de plástico, um em cada mão, todos os meus discos, que comecei a acartar de casa para a Torre Atlas, do Metro Louis Aragon até Maison Blanche. Depois, claro, outra pequena caminhada!

Como compartilhávamos a antena com uma rádio africana - a Rádio Tábálá - que tinham a antena da meia-noite ao meio-dia, e nós do meio-dia até à meia-noite, foi assim que, no dia 5 de Outubro - dia feriado a celebrar a Implantação da República em 1910 - que, ao meio-dia em ponto, utilizando o meu então nosso material, que, pela primeira vez uma voz – a minha – lançou a Rádio Alfa nas ondas! Recordo tão bem como se tudo isto se tivesse passado ontem! Havia uma poeira infernal, pois que andavam a fazer obras internas nos nossos estúdios! Preparei um dos meus discos, um 33 rotações, do qual escolhera uma cantiga do Adamo, o “Inch-Allah”, na voz da nossa grande Amália! Tinha escolhido esta cantiga por ter visto, dias antes, na televisão, uma entrevista desse autor, na qual ele declarou que nunca mais cantaria essa sua composição depois de ter escutado a versão da Amália Rodrigues desse seu trabalho. Que ela lhe tinha dado uma dimensão tal, que ele não mais ousaria voltar a catá-la! Que nunca supusera ter criado tal maravilha!

Muito rapidamente os pretendentes a bons salários começaram a afluir. Todos os dias havia caras novas! Aqueles que procuravam um ordenado e aqueles que procuravam ser grandes vedetas. Poucos foram aqueles que realmente o seu sonho era fazer rádio! Foi então que comecei com o meu programa das 14 às 16 horas, “Bica e Copo de Água”. Um programa à base de entrevistas e entrevistados. Muito rapidamente comecei a ter a esvoaçar pelas paragens todos aqueles que queriam fazer carreiras como cantadores e coisas no género. Como nessa altura eu era de muita utilidade a muita gente, não me faltavam amigos. Como esse programa foi falado na imprensa francesa, também comecei a receber “dossiers de Presse” de muitos franceses. E isso era o melhor que me podia acontecer! Eu queria uma rádio portuguesa, uma rádio cultural, sendo a minha preocupação máxima que os portugueses falassem Português com os seus descendentes aqui nascidos! Assim como pô-los ao corrente de outras actividades artísticas para além do folclore português, festarolas, e feiras e romarias. Mas o mais importante para mim era acordar os franceses para o facto de que nós não éramos apenas bons como mão-de-obra! Um dos muitos “dossiers” que recebi foi dum certo realizador de cinema francês que me tinha trazido de volta a Paris para fazer de mim uma grande vedeta, quando eu estava tão bem instalado na vida no Hilton Hotel de Tel Aviv! Quando ele me viu na sua frente para o entrevistar caíram-lhe ambos os “dossiers” aos pés! A primeira pergunta que lhe fiz foi se em França, para fazer cinema, era preciso ser-se Judeu! Claro que essa pergunta ficou sem resposta e as nossas vidas continuaram a ser as nossas vidas de sempre!

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