lundi 11 janvier 2010
Mesa à Volta da Qual Nasceu a Alfa
O nascimento da Alfa? Tantas noites que foram perdidas à volta dessa mesa de casa de jantar naquele 5, Rue du Dr. Paul Laurens, 2°- Esquerdo! Tantos cafés que foram engolidos, tantos cigarros que foram queimados, tanta amizade e cumplicidade enredada a todas essas quase inacessíveis esperanças de um dia termos uma rádio portuguesa no ar para todos os portugueses residentes na região de Paris! Uma rádio portuguesa a lembrar aos franceses que éramos então a mais vasta comunidade estrangeira neste país! Uma rádio que eu, pessoalmente, queria que entrasse nas casas de todos esses portugueses que nos viessem a escutar! Para eles não esquecerem a sua língua materna, e a transmitissem aos seus descendentes! Uma língua que nos lembrasse a todos que além da língua de Molière também havia a língua de Camões a ser respeitada!
Agora, vinte e muitos anos mais tarde, em Meudon, esta minha dolorosa tentativa de que essa rádio que saiu das nossas entranhas, ressuscite destas minhas tão atrozes recordações! Tudo começou, penso, quando o Jaime Mendes, Helena Machado, Fernando Silva e, já agora, Rogério do Carmo, se encontraram na Rádio Clube Português e sonhavam fundar uma rádio portuguesa de qualidade, totalmente legalizada e, sobretudo, com mais expansão! Recordo vagamente que eu e o Fernando Silva, durante os nossos encontros na Rádio Clube Português, termos aflorado essa tão desejada possibilidade.
Mais tarde, quando, por lei, Carlos Duarte se viu obrigado a fechar a sua rádio, é natural que o Fernando Silva, Jaime Mendes, e Helena Machado se tenham encontrado algures e fabulado uma outra rádio portuguesa para a substituir. Como eu tinha jeito para fazer rádio e tinha um apartamento ali perto que fazia jeito para se fazer as necessárias reuniões, fui eventualmente incluído nesse grupo de fundadores dessa rádio então ainda apenas um muito frágil embrião. Os espermatozóides tinham sido lançados, restava então saber se os ovários seriam receptivos. Tínhamos, antes de mais nada, que obter uma autorização das respectivas entidades para podermos avançar. Antes de tudo precisávamos dum projecto bem elaborado para apresentar à S.C.A.! Foi a Helena Machado - a que tinha mais capacidades para tal função - que foi escolhida. Ela, talvez com a ajuda de outros, executou um sólido projecto evocando certamente o direito da Comunidade Portuguesa em França de terem uma rádio na sua língua materna. As reuniões sucederam-se umas atrás das outras com, como já foi dito, muito café, cigarros, um genuíno sonho compartilhado por todos e, sobretudo, uma bela camaradagem. Entretanto Artur Silva também se reuniu, e cada qual fazia o que podia para que esse sonho se transformasse numa palpável realidade!
As reuniões e as cafezadas prolongaram-se por sabe Deus quanto tempo. Até que, um dia, para nossa grande alegria, recebemos pelo correio essa famigerada autorização! Para celebrar essa grande vitória, decidimos ir a um restaurante português para celebrar e ao mesmo tempo planear como, onde, e quando iríamos para o ar. O Mendes falava de programação, a Lena de obrigações burocráticas, o Fernando, como era de esperar, falava de problemas técnicos a serem resolvidos eventualmente; o Artur da importância das informações, dos necessários periódicos jornais radiofónicos a serem transmitidos com regularidade, e o Rogério falava de instalações, tendo posto à disposição de todos, a sua casa para os primeiros tempos, assim como o seu material, tal como discos, microfone, gira-discos e um gravador. O proprietário do restaurante, o senhor António Cardoso, imiscuiu-se na nossa conversa e ofereceu-se para tomar conta da parte comercial, pois que para se levar a efeito a fundação duma rádio é preciso fundos para pagar as primeiras despesas, e mais tarde para os salários do pessoal. Isso era de importância capital!
Durante essa jantarada falou-se de muita coisa e uma delas foi que nome dar à rádio. Um sugeriu Rádio Comunidade, outro Rádio Portugal, mas eu, entretido a ler o nome da associação que fora criada para obter a autorização de emitir, ao ver que o título era “Associação Luso-Francesa de Audiovisual”, juntei as maiúsculas e ALFA acabara de nascer! Faltava apenas - e o mais penoso - cortar o cordão umbilical! Era já uma rádio filha da mãe (Helena Machado) e de já alguns muitos pais que começavam a querer perfilhá-la! Mas a verdade foi que se alguns a fizeram, apenas um a pariu: Fernando Silva!
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