samedi 23 janvier 2010
Essa Inesperada Mudança de Casa
O meu repetitivo dia a dia entre a minha casa e a Alfa decorria normalmente, estilo ponteiros saltitando de segundo em segundo! Rotina! Eram os meus programas irem para o ar todos os dias à hora prevista, colegas e vida familiar, e algumas surpresas de vez em quando. Alguns dos meus convidados eram surpreendentes, outros duma banalidade absoluta, outros uma chachada infernal! Mas a grande, grande surpresa foi quando, sem quaisquer antecipadas predições ou insinuações, repentinamente a Alfa mudou-se para Valenton! Quando perguntei o que se passava, responderam-me indiferentemente que a Alfa tinha sido vendida e que tínhamos agora um novo proprietário. Nunca saberei quem foram os "vendidos" que, nas minhas costas, venderam a Alfa, soube apenas que a minha emissão começaria a ser difundida dum lugar do qual nunca tinha ouvido falar! Uma manhã levaram-me lá para eu aprender a fazer a minha técnica utilizando um material muito mais sofisticado. O meu primeiro pasmo foi, ao chegarmos lá, ver que a Alfa estava então instalada num gigantesco edifício, ali perdido em terras de ninguém, rodeado de dunas de saibro. Ao subir ao segundo andar depararam-se-me umas instalações muito espaçosas com um grande terraço ao fundo. Haviam várias dependências que passariam a ser os escritórios duma parte do pessoal. A cabine de som - a que passou a chamar-se o "aquário" - era bastante reduzida. Como aquário só cabia um peixe de cada vez e nada de grandes braçadas. Havia um grosso vidro e do outro lado uma pequena sala com uma mesa redonda com cinco microfones e cinco cadeiras. Fiquei deslumbrado! Que categoria! Mal pus os olhos sobre a mesa de mixagem logo me apercebi que muito rapidamente seríamos ambos grandes amigos de longa data!
Como de Villejuif eu apanhava do Metro Louis Aragon um autocarro directo até Valenton, uma pequena viagem de vinte minutos, a vida tornou-se-me mais fácil. Chegado à Rotunda Pompadour, ia a pé por caminhos e atalhos até à Alfa, num curto e salutar matinal passeio. Os meus programas continuavam a ser escritos e elaborados em casa, depois do jantar, e durante essa essa breve viagem eu inventava as minhas histórias do senhor Fagundes e Maria do Amparo. Eram quase sempre três breves historietas visadas a fazerem rir o pessoal. Uma vez, três miúdos que iam sentados no mesmo banco traseiro, iam a galhofar acerca da minha pessoa, chamando-me "velhote". Virei-me para eles e sibilei-lhes:
- Posso garantir-vos que já tive a vossa idade, mas não vos posso garantir que vocês um dia venham a ter a minha!
Ficou o caso arrumado! Acabou-se a galhofa e eles ficaram com cara de enterro! Talvez tenha sido a primeira vez que recebiam uma "ameaça de morte"!
Como sempre eu fazia da primeira parte uma hora de boa disposição, e a segunda hora sempre com um convidado – tentava fazer um trabalho mais sério, que fizesse reflectir os que estavam à escuta.
O programa continuava a ser bastante popular e tinha por vezes pessoas que se deslocavam até à rádio para me conhecerem pessoalmente e pedirem-me um autógrafo. Por vezes a Fátima, a recepcionista lá em baixo no rés-do-chão - essa minha saudosa amiga - mal fechava o meu programa, telefonava-me para me dizer que alguém que me queria conhecer me esperava lá em baixo! Eu descia, sempre um tanto intrigado. Quem poderia ser essa pessoa? Foram muitas. A maioria era porque gostariam de passar na minha emissão para se fazerem conhecer. Especialmente esses muitos cantantes que então haviam, sem qualquer talento, mas ambicionando fazerem uma grande carreira. Esses, ajudei-os todos! Que fosse o auditório que decidisse! Um deles que não tinha ponta por onde se pegasse, veio oferecer-me o seu "último disco"! Por graça perguntei se era realmente o seu último disco? Quando ele, com a cabeça, me acenou afirmativamente, eu, para subtilmente fazê-lo compreender que não tinha qualquer talento, disse-lhe:
- O último? Ainda bem! Que boa novidade!
Mas não o fazia com maldade. Alguns até bem gostava deles como malta nova a tentarem ser "alguém"!
Outra vez foi uma senhora que me queria conhecer, porque eu tinha uma bonita voz. Ao ver-me, estupefacta, ela atirou-me à cara:
- É você o Rogério? Que coisa. Tão magrizela!
Eu arrumei o caso dizendo-lhe apenas:
- Ó minha senhora! Eu não estou aqui para ser vendido ao quilo!
Ela deu uma grande gargalhada, pregou-me um repenicado chocho na face, e lá se foi mais conformada!
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