samedi 23 janvier 2010
E Tudo o Vento Levou!
Pouco a pouco fui fazendo mais este outro luto, graças ao facto de estar sempre tão ocupado com o meu programa e a criatividade necessária para o fazer todos os dias sem se tornar monótono ou repetitivo. O que me valia eram os convidados todos os dias com temas diferentes a discutir. Por outro lado o ambiente entre colegas continuava estável. A Cássia compartilhava o mesmo escritório e ajudava-me bastante nas minhas funções. Todos os dias era abrir toda a correspondência e acusar a recepção dos ditos envios. Convidados para a segunda hora não me faltavam, mas umas certas invejazinhas começaram a flutuar no ar, de parede a parede. A Doutora e o seu "protegido" eram muito meus amigos, mas quando, algum tempo depois, fui a Portugal para passar duas semanas com a família, ao regressar, fui chamado ao escritório da Doutora e do seu "cúmplice", e fui informado que "Bica e copo de Água" tinha sido excluído da grelha de programação. Concederam-me então uma emissão nocturna para adormecer o auditório. Era da meia-noite até às duas da manhã. Sarcasticamente, intitulei esse programa " E Tudo o Vento Levou"! Claro que o programa tinha de ser gravado durante a tarde, pois que a essas horas da noite eu não tinha transportes. Senti-me infelicíssimo, pois que não era a mesma coisa que fazer em directo. Na gravação eu sentia-me como a falar para o boneco! Em directo sentimos a presença do auditório lá do outro lado do microfone. Era evidente que a Doutora andava radiante com o mal que me tinha feito! Eu era alguém que lhe fazia sombra e isso incomodava-a. Como ela era a directora da programação e tinha as rédeas nas suas mãos, podia muito bem fazer o que lhe apetecia. E o seu assistente "assistia-a"! Ela passava por mim, empertigada como se fora uma rainha, e quase que não dava por isso que eu ia ali a passar a dois passos da sua arrogância.
A gravação do programa era feito da parte da tarde num dos estúdios da Alfa. Eu fechava a minha porta e procurava fazer como se estivesse em directo altas horas da noite. Falava com os ouvintes como se eles estivessem já na cama a repousarem-se de mais um dia de trabalho mas, nesse mesmíssimo instante, eles estavam nos seus empregos. Moralidade da história: eu estava ali feito espantalho a cagar larachas!
Ainda por cima comecei a ter problemas de saúde. Por causa da fina poeira que nos entrava pelas janelas, vinda das dunas de areia ali mesmo por detrás do edifício, comecei a ter problemas com as lentes de contacto. A poeira instalava-se sobre elas, endureciam-nas, e causavam-me queratites umas atrás das outras! No hospital oftalmológico onde me tratavam, ali para os lados da Bastilha, disseram-me que se eu continuasse a ter esse problema acabaria por ficar cego. Isso alarmou-me duma maneira atroz! Por coincidência tive uma convocação da Medicina do Trabalho para a inspecção anual. Claro que falei desse problema à médica e ela pediu-me para fazer uma radiografia aos pulmões que acusou lesões provocadas pela aderência de poeiras, e enviou-me a um ORL para analisar o estado das minhas mucosas nasais, que acusaram uma polipose nasal avançada. Essa mesma médica, que me tinha examinado uma vez por ano todos esses anos que trabalhei em Ivry, pediu-me que lhe descrevesse os locais onde então eu trabalhava. Falei-lhe dessas dunas e dessa poeira e ela pediu-me para eu me afastar desses locais e procurar trabalho num outro sítio mais limpo. Quando lhe expliquei que eu era um dos fundadores dessa rádio, e que essa rádio era como um filho meu, ela disse-me que iria falar com o novo proprietário, para ele instalar um sistema de climatização que nos permitisse trabalhar com as janelas fechadas.
Mais tarde ela voltou a convocar-me para me dizer que o meu patrão tinha recusado essa instalação e que ela o tinha processado e que eu devia cessar o meu trabalho em Valenton, senão teria sérios problemas com os olhos, pulmões, e nariz. No dia seguinte era o meu aniversário, fazia 60 anos, e na Alfa fizeram-me uma festa de aniversário e ao mesmo tempo de despedida, pois que a médica me dera ordens de cessar as minhas idas à Alfa, por causa do processo que ela lhes tinha feito, baseado em "despedimento abusivo".
Depois dessa festa, ao atravessar a rua para ir apanhar o meu autocarro para regressar a casa, tive vontade de por ele ser atropelado. Durante a viagem não conseguia controlar nem esconder o meu choro, ao ponto do chofer, na paragem seguinte, levantar-se e vir perguntar-me o que se passava comigo. Limitei-me a dizer-lhe que acabava de perder o meu trabalho, sem entrar em detalhes. Ele disse-me que não chorasse, que nos momentos difíceis da vida há sempre algo ou alguém que nos dará a mão!
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