mardi 5 janvier 2010
A Intrusa
O único grande problema que se viria a passar nessa casa, foi a chegada da Anais! Ele tinha-nos telefonado do México, onde ela vivia com os seus pais - o meu Melo e a minha Rita - onde, parecia, ela tinha-se tornado numa grande vedeta do cinema mexicano. Ela perguntou-nos se ela poderia alojar-se na nossa casa durante três noites, quando da sua escala México-Lisboa, onde iria visitar os seus avós paternos. Claro que sim, que podia! Pediu-nos então que a fôssemos esperar ao aeroporto no dia tal às tantas horas. Lá chegados, aparece-nos uma Anais com quatro malas enormes!
Ela instalou-se no meu “refúgio” e as malas invadiram-nos o hall de entrada. Mas como era só por três noites, não era grave! O problema foi que ela tinha vindo para se instalar em Paris e procurar trabalho no cinema francês, pois que no México ela não tivera qualquer sucesso! Se ela se tivesse alojado na nossa casa enquanto não encontrava um estúdio onde morar, não teria sido problema algum. O pior é que ela começou a passar as noites na galderice e os dias na cama. Chegava-nos a casa por volta das cinco da manhã e metia-se na sala a ouvir discos aos altos berros, e nós não podíamos dormir. Depois, quando nós nos levantávamos às oito para irmos trabalhar, não podíamos sequer arredar uma cadeira senão ela saltava da cama e vinha aos berros para o meio da casa a perguntar que casa era aquela onde nem sequer se podia dormir! As nossas vidas começaram a ser um verdadeiro inferno! Ela drogava-se, embriagava-se, e as poucas garrafas que tínhamos no nosso pequeno Bar começaram a aparecer vazias e com as rolhas aos pés!
Comprei uns auscultadores para ela ouvir os discos à noite sem nos molestar, mas ela punha os ditos sobre as orelhas e cantava aos gritos as cantigas que estava a escutar! A sua rotina nunca se alterou! Por muito que eu lhe pedisse que ela respeitasse o facto de não estar na sua casa mas na nossa, nunca valeu de nada! Como eu tivera dito à Rita quando da educação que ela estava a receber, que ela um dia, quando fosse adulta, não teria quem a aturasse, veio a realizar-se!
Mas nem eu nem o Pat estávamos dispostos a sofrer os seus abusos de hospitalidade e, um dia, três meses depois da sua chegada, pedi-lhe que agarrasse nas suas malas e nos deixasse em paz. Ela fez-me um manguito e disse-me que só se mudaria quando muito bem lhe apetecesse. Que eu também tinha estado em casa dos seus pais em Jerusalém! Dei-lhe três dias para procurar quarto em Paris. Esses três dias passaram e nada de novo! Ameacei-a de chamar a polícia se ela não deixasse a nossa casa! Mesmo assim ela não se deu ao cuidado de respeitar as minhas ameaças! Uma noite ela volta às cinco da manhã e encontrou as suas malas no patamar e a porta trancada! Ela fez um escândalo tremendo. Acordou a vizinhança toda, e eu tive que chamar a polícia! A polícia - depois de os ter informado do que se passara - agarram nas malas e nela e, penso, levaram-na para a esquadra!
Três dias depois, a Suzy, a mulher do Moshé da Swan, telefonou-me a perguntar-me se eu não tinha vergonha de ter posto na rua a filha do meu melhor amigo! Que era uma vergonha! Expliquei-lhe as razões mas ela desligou-me na cara! Duas semanas mais tarde Suzy volta a telefonar-me para me pedir desculpa, que eu tivera muita razão, que ela perdera as suas chaves e que quando quis entrar em sua casa às cinco da manhã que quase lhe arrombara a porta, e que também tinha chamado a polícia!
Algumas semanas depois deste lamentável incidente, o telefone volta a tocar. Desta vez era uma chamada de Lisboa, da sua avó Zuzu, a pedir-me que falasse coma a Anais, que ela não a podia aturar. Que lhe falasse e a fizesse compreender que os seus avós já tinham uma certa idade e que precisavam de sossego!
Claro que nunca falei com ela nem sei exactamente o que realmente se passou. Sei apenas que ela depois enviou-me uma carta do México a insultar-me e a dizer que tinha contado tudo aos seus pais! Foi a minha vez de lhe fazer um manguito, não respondendo a essa carta! Anos mais tarde ela volta a contactar-me por telefone, novamente a pedir-me ajuda !
A minha resposta foi: O teu pai? Amei-o! A tua mãe? Adorei-a! Tu? Não existem entre nós quaisquer laços que nos unam! Boa sorte!
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