vendredi 6 novembre 2009
A Minha Primeira Imagem de Paris
Na manhã seguinte apanhei o meu combóio em Genève rumo a Paris, onde não tinha nenhum correspondente, mas tinha um amigo, o Armindo Bravo, que trabalhava no Consulado de Portugal nessa cidade. Essa cidade que tanto sonhara visitar desde os meus tempos de menino em Mafra.
Chegado à Gare de Lyon, Paris parecia estar ali à minha espera desde o dia em que nasci! Paris parecia ter mudado muito pouco desde os tempos de Toulouse Lautreque. Era o mesmo ambiente e garbo que eu imaginava terem sido esses românticos tempos dessa remota época! A primeira tentação foi entrar num desses muito típicos “bistrots” de Paris, dos quais eu tanto tinha fantasiado quando ainda tão garoto! Entrei e sentei-me - como habitualmente - a uma mesa junto a uma janela onde pudesse ver o trânsito passar e ver quais os verdadeiros atractivos da cidade. Tomei uma bebida e telefonei ao Armindo, no Consulado. Ele indica-me o melhor que poude como lá chegar. Apanhar o Metro e descer na Rue de la Pompe. Foi o que fiz! O meu Francês era de muito má qualidade mas mesmo assim, indagando aqui e ali, lá cheguei! Encontrei o Armindo por detrás do balcão fazendo o seu trabalho. Depois de tantos anos, voltava à minha língua materna. Falada por esses camponeses que tinham vindo de Portugal “ao salto”, as primeiras impressões foram uma devastante desolação! Aquilo não era a língua de Camões nem tão-pouco a de Florbela Espanca, à qual eu estava habituado. Aquilo era algo de muito folclórico que eu nunca tinha ouvido antes.
Ao lobrigar-me, Armindo fez-me sinal e eu aproximei-me do seu guiché. Ele não mostrou qualquer emoção e recebeu-me como se eu fora mais um outro português com problemas burocráticos. Tal como um polícia sinaleiro que indica a direcção a tomar, ele pede-me para me sentar um pouco, pois que eram quase horas de fechar. Que depois ele se ocuparia da minha pessoa.
Corridos os taipais, Armindo conduz-me a pé até à sua casa, um pequeno estúdio ali num páteo na Rue de la Pompe, muito perto do Consulado. Fiquei surpreendido e um tanto aterrado com o que vi quando ele abriu a sua porta e me deixou passar primeiro. Era apenas um naco de quartito com um divã e um armário, uma pequena secretária entalada no vão da minúscula janela, e uma só cadeira. Ao fundo, mesmo ao pé da cama, havia uma porta. Pensei que talvez houvesse mais outra dependência, mas o que se me deparou foi apenas uma pequena retrete com uma pia e um lavatório para lavar a cara e o resto do corpo, presumi. Ele abriu a fundo a torneira de água quente e, enquanto a água jorrava, duma pequena prateleira sacou duas pequenas chávenas, nas quais deixou tombar duas colheres de açucar e uma de nescafé e, depois de ter verifificado qual a temperatura da água, quando esta chegou ao máximo de temperatura a ser conseguido obter, passou as chávenas sob a torneira para nos fazer um nescafé. Abanando uma caixa de leite em pó, perguntou-me se eu queria uns pózinhos? Eu não queria acreditar que um empregado do Consulado de Portugal pudesse viver tão rudimentarmente em Paris ou qualquer outra grande cidade do mundo.
Depois desse “deliciouso” nescafé, Armindo levou-me a dar um passeio a pé por Paris. Fomos, trocando algumas recordações dos nossos tempos no Tique-Taque, até ao Trocadero. Fiquei deslumbrado. Paris era realmente uma linda cidade! Aí, no Trocadero, depois de termos calcorreado algumas pitorescas ruas da Cidade Luz, acabámos num modesto restaurante para um jantar de boas-vindas pago a meias. Depois de jantar fomos ver o Trocadero à noite, espreitar de longe a torre Eiffel toda iluminada. Logo após, regressámos à pata até casa e, como eu esperava, Armindo abriu o seu divã e propos-me ser eu a entrar primeiro. Depois da luz apagada, todo colado a mim, Armindo rapidamente começou a roncar. Ele não era o meu tipo de homem mas, mesmo assim, para aliviar os testículos, tinha sido melhor do que bom!
No outro dia de manhã ele acorda-me já com uma espécie de pequeno almoço sobre a sua secretária. O nescafé estava ainda menos quente que na véspera e, para acompanhar, umas torradas de compra barradas de doce de qualquer coisa. Ele deu-me um mapa de Paris e outro do Metro e indicou-me alguns lugares a visitar. Depois ele seguiu para o Consulado e eu para o Metro da Rue de la Pompe. Seguindo os seus conselhos, desci a cada estação marcada com uma cruz e, assim, lá visitei o melhor que pude, Notre Dame de Paris, o Louvre, os Campos Elísios e la Concorde. Sempre a pé para descobrir Paris à minha maneira. Paris realmente era uma cidade deslumbrante, e o Cartier Latin, então, fascinou-me! Desejei lá viver!
Coisa que aconteceria muitos anos mais tarde!
A minha vinda a Paris limitou-se a duas noites no divã com o Armindo. Depois dessa segunda noite e aquele outro triste pequeno almoço, peguei no meu saco e lá segui até à Gare de Austerlitz e lá apanhei o meu matinal comboio para Madrid, onde um dos meus correspondentes da Hermes - o Fernando Parrau - me aguardaria!
Inscription à :
Publier les commentaires (Atom)
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire