dimanche 29 novembre 2009
Belos "pasteles de kabalhau"
No outro dia de manhã levantei-me antes que o sol o fizesse. Senti-me como um outro homem. Até na Swan o dia me pareceu mais simpático! Moshé também lá estava a preparar o seu negócio para os saldos. Achei muito estranho, pois que ainda faltavam duas semanas para que os ditos abrissem por toda a parte no país. O mais estranho e alarmante era que ele, em vez de descer os preços estava a dobrá-los. Quando lhe perguntei que lhe tinha passado pela cabeça? Os vestidos passavam de 800 a 1.600 francos! A sua manhosa resposta foi:
- Assim é que a gente os leva à certa! Quando virem os vestidos a 50% de desconto vão de certeza achar isso um bom negócio!
Achei este tipo de manobra repugnante! Mais uma vez tive de pensar muito a sério em arranjar outro emprego, agora que, graças ao Moshé, eu tinha todos os meus papéis franceses e estava totalmente legalizado no país! Nessa tarde, quando fui almoçar, já perguntei no “Self-Service” se eles precisavam de pessoal. Como a resposta foi negativa comecei de novo a comprar os jornais para ver os anúncios. Eu tinha que deixar de estar sob a alçada de tal criatura que me devia 1.200 francos de horas extraordinárias que tinha feito e que continuava a não ter direito a avanços de ordenado quando, a partir dos dias vinte, estava aflito para poder pagar os meus almoços!
Nessa noite quando regressei a casa bati à porta da porteira, que era portuguesa, se ele sabia onde era que eu podia comprar bacalhau. Ela disse-me não era nada fácil mas que ela me podia dispensar duas postas, que era uma prenda. Subi e fui ver se tinha todos os condimentos para os fabricar. Tinha tudo menos as cebolas. Desci e fui comprar as ditas. De regresso da da loja bati aos vidros do Heinz para o convidar para os “pasteles de kabalhau” no dia seguinte. Ele não estava em casa. Voltei à minha porteira e pedi-lhe uma caneta e uma folhinha de papel para deixar um recado por debaixo da porta do Heinz informando-o que no dia seguinte ele podia vir jantar em minha casa, que haveriam “pasteles de kabalhau”! Nessa noite, depois de jantar, depois de ter visto um filme na televisão, fui para a cama cedinho, depois de ter posto o bacalhau no molho. Nessa noite não precisei de ir vadear pelo Bosque. Tinha o meu homem a quem podia convidar a jantar no outro dia!
De manhã passei pela porteira a perguntar se o bacalhau podia ficar no molho até essa noite. Ela disse que não era problema! Que um senhor muito alto e loiro me tinha deixado um bilhetinho. Foi buscá-lo e estendeu-mo perguntando quem era aquele senhor? Que era um bonito homem! Disse-lhe que era meu amigo e nosso vizinho. Desdobrei o papelinho onde ele me dizia que estaria por volta das nove e que não comprasse vinho. Esse bilhetinho fez de mim o homem mais feliz dessa manhã em Paris! Fui trabalhar com a alma cheia de esperanças de ter encontrado enfim alguém a quem me pudesse dedicar. Até o Moshé nessa manhã me pareceu mais respeitável. Disse ao Moshé que nessa noite tinha convidados para jantar, se podia sair um pouco mais cedo. Ele surpreendeu-me quando me disse que não era problema, que ele ia ficar o dia todo na butique para tratar das suas contas mensais.
Quando voltei do almoço, para meu espanto, ele disse-me que podia ir para casa, que ele estava à espera duma pessoa muito importante e que não sabia exactamente a que horas ele chegaria. Fui a correr para casa e antes de subir entrei na padaria para comprar pão fresco. Chegado a casa arregacei as mangas e comecei a preparar o bacalhau para os meus pastéis. Tudo correu bem e os pastéis sairam-me com cara de alguém que acabava de chegar de férias! Fiz um arrozinho e preparei a minha mesa com talheres para dois. Como tinha alguns vasos no telhado, com sardinheiras, pus um castiçal com uma vela amarela no meio da mesa e dois pés de sardinheira deitados ao pé, sobre a toalha. A mesa estava bonita e eu ansioso que o Heinz chegasse! Era tão mais saudável e romântico do que ir todas as noites aos gatos rafeiros pelo bosque!
Ainda tive tempo de imitar um duche no bidé e barbear-me. Depois vesti umas calças ligeiras e uma bonita camisa de manga curta e fui por-me à janela, mas da janela, por causa do telhado, eu não podia ver a rua. Voltei à carga e preparei dois cálices e abri uma garrafa de vinho do Porto. Eu queria que aquela noite fosse uma noite muito especial para mim e para o Heinz! Por volta das nove batem-me à porta. Escancaro a minha porta e ali ele estava, o homem da minha noite com uma garrafa de Bordeaux na sua branca mão, abraçada pelos seus longos e finos dedos. Ele também estava lindo. Era evidente que ele também se tinha feito bonito para esse nosso jantar! Depositou a garrfa sobre a mesa e, dizendo como a mesa estava bonita, enlaçou-me contra si, e beijou-me ternamente. Depois sentou-se em cima da minha cama e estendeu-me a mão para aceitar o Porto que eu lhe estendia. Passámos uns momentos ali sentados um contra o outro saboreando o aperitivo e o longo cigarro que crepitava aos nssos ouvidos enquanto o azulado transparente fumo fazia caprichosos desenhos frente aos nossos olhos. Depois fomos para a mesa. Abri a garrafa de Bordeaux e servi. Quando pus a travessa com os pastéis em cima da mesa ele delirou. Pegou logo num com a ponta dos dedos e mordiscou um dos meus pastéis de bacalhau que tinham acabado de regressar de férias. Ele fez um grande cumprimento aos meus pastéis dizendo que os meus ainda eram melhores do que os que costumava comer pelas tascas de Lisboa. Quando lhe disse que tinham sido feitos com muito amor ele pousou um pequeno beijo na ponta dos seus longos e brancos dedos, que veio aterrar sobre os meus lábios ainda molhados do Porto.
O jantar decorreu bem mas um tanto apressadamente. Era evidente que ambos queríamos levar mais longe os nossos afagos mas eu disse-lhe que depois de jantar não devíamos fazer amor, segundo as crenças portuguesas. Ele deu-me um grande beijo na boca e sugeriu irmos dar uma volta e ir tomar um café. Descemos e entrámos no Café ali à esquina, na avenida Mozart. Sentámo-nos e deliciámo-nos com um bom Express e conversámos acerca dos nossos futuros. Um dos temas foi indagar quais os meus projectos, se tencionava fixar-me em França ou se voltaria para Portugal. Falei-lhe do meu amor por Israel, mas que não podia voltar para esse país por não estar autorizado pelo facto de eu não ser Judeu. Aí ele pareceu-me preferir não comentar esse facto. Em contrapartida, perguntei-lhe quais os seus planos. Os seus planos eram muito vagos e imprecisos. Que trabalhava para um grande jornal alemão que o enviava constantemente como enviado especial de país em país, pelo facto de ele falar bem o Inglês, e que essa língua era tão internacionalizada, que em todos os paises ele podia trabalhar, pois que em todos eeses paises, na imprensa, todos falavam essa língua. Que ele estava agora em Paris mas que podia ser transferido para outro país qualquer, segundo as ordens dos responsáveis desse jornal alemão. Depois saímos e fomos a pé até ao Trocadero ver a torre à noite toda iluminada. Regressámos a penates na maior das calmas.
Chgados à rua René Basin parámos em frente da sua porta. Eu disse-lhe boa noite, dorme bem, obrigado por este belo... mas ele atacou mesmo antes de eu ter terminado a frase. Que eu entrasse, que ele gostaria de me mostrar algumas fotos dele e da casa onde ele crescera. Entrámos. Ele mostrou-me as bonitas fotos que aparentemente carregava com nas suas bagagens para onde quer que fosse. Ele era um homem lindo mas nessas fotos, um tanto mais jovem, ele era divino, com aquela loira melena a cortar-lhe a testa, descendo até aos seus límpidos olhos azuis. Ele propos-me um whisky, que aceitei. Sentados na sua cama ambos despejámos alguns whiskies e a cabeça começou a andar-me à roda. Recostei-me na sua cama suspirando fundo. Ele cai-me em cima e sussurrou-me que me queria todo! Que não queria nem sequer pensar que um dia o destino, tal como ele nos tinha posto no caminho um do outro, também um dia nos separaria.
Essa noite passámo-la juntos no seu estúdio. Foi uma noite de amor como se ela fosse a última que passaríamos juntos! Talvez a mais bela noite de amor que me seria dado viver! Obrigado meu Deus! Repousa em paz, Alberto!
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